sábado, 9 de agosto de 2014
O pão a seu dono
E finalmente fez-se pão onde antes havia larica. E ao terceiro dia ele (eu) apanhou a "Portuguese Bakery" aberta. Passavam 30 minutos das oito da manhã de hoje quando cheguei à Travessa dos Juncos, cheio de fé. O portão estava semi-aberto, aproximei-me e espreitei, e lá estava o padeiro de serviço, o Sérgio Guiu, trocando dois dedos de conversa com um freguês ainda mais madrugador. Entrei na mesma, fui recebido com simpatia e inteirei-me da oferta e dos respectivos preços - que eram justos, atendendo às circunstâncias. Levei um pão alentejano de mistura, dois pães com chouriço e uma broa, que é o favorito da "patroa". Faltava apenas a prova de sabor, a fronteira final.
Como a minha outra metade estava com alguma pressa, uma vez que pertence à tribo dos que trabalham ao Sábado, começámos pelos pães com chouriço, que não requerem qualquer tipo de preparação. É só morder e já está. Confesso que não sou um grande adepto desta especialidade, e aqui a culpa não é de ninguém, muito menos dos simpáticos responsáveis da "Portuguese Bakery". Para mim o pão com chouriço tem um período de vida tão curto que é praticamente necessário comê-lo mal a temperatura assim permita logo depois de sair do forno. E o pão terá que ser arrebatador, e penso que aqui tanto o Sérgio como a Raquel concordam que este era o segredo do sucesso do pão com chouriço da padaria Pintos, do nosso Montijo, que os servia a partir das 4 da manhã, ainda quentinhos, e naquele pão redondo com tranças à volta. Mesmo assim considero o resultado satisfatório.
A seguir provámos a broa, da qual cortei duas ou três fatias e torrei enquanto comiamos o pão com chouriço. Não que fosse realmente necessário, pois a frescura era atesta pela crosta estaladiça, e pelo aspecto via-se que existia ali grande potencial, mas é sempre bom dar-lhe uma tostadela curta, nem que seja para a manteiga derreter melhor. E estava di-vi-nal, entre as melhores que alguma vez comi. Aliás amanhã vou buscar outra. Posso ainda não ter provado tudo o que o jovem casal tem para oferecer na sua padaria, mas arrisco já a eleger a broa como a maior especialidade. E olhem que escolhi uma mais pálida, e nem por isso apresentava vestígios de crueza. Nota vinte para a broa da "Portuguese Bakery".
Do pão alentejano, foi-me dado a escolher entre o normal e o de mistura, e optei pelo último. Aqui está outra coisa de que não sou grande adepto, mas sempre dá para matar saudades daquilo que conheço melhor como "pão saloio". E estava óptimo, com o aliciante de ter preservado a sua integridade e frescura até ao fim de dia, ao contrário do restante pão local da mesma família, que tem uma tendência para se degradar em poucas horas. Ainda é cedo para comprovar isto, mas certamente que amanhã ainda estará comestível, e torrado em fatias ficará como novo. Caso me apeteça outra coisa qualquer, aquilo que restar dará uma magnífica açorda na segunda ou na terça-feira (olhando para o que sobrou, será uma açorda pequena). Aprovado com distinção, o pão alentejano.
Falta-me provar o pão alentejano convencional, o "cacete", a nossa versão da "baguette" francesa, e os "papo-secos", ou carcaças. Como não somos assim tantas bocas cá em casa e é difícil convencer o lado chinês da família a comer pão como se não houvesse amanhã (como tantas vezes nos dá vontade), tive que optar entre um dos pães alentejanos, o "cacete" ou os "papo-secos", e quanto a estes últimos - e outra vez, isto é apenas o meu gosto pessoal - fiquei um pouco intimidado pela forma, que faz lembrar cacetes em miniatura. Tenho a certeza que estão óptimos e foram confecionados com esmero, e provarei um dia destes, mas ainda continuo a suspirar pelas "bolas" que se compravam ao Domingo de manhã naquela padaria em frente à Mimosa, a caminho da Papelaria dos Jornais (isto é "linguagem de código" que só os aldeanos entendem, desculpem os não-aldeanos"). Pronto, não se pode ter tudo.
Entretanto continuo a reparar que ainda há muita gente que desconhece a localização da padaria, e de facto não fica localizada no Grand Lisboa, e com neóns a piscar indicando o lugar, nem dá para passar por lá de carro. Contudo não custa nada procurar, e para quem estiver ali pela Barra é muito fácil: viram a primeira esquina depois dos restaurantes O Litoral e O Porto Inteiro e chegam à Rua da Praia do Manduco. Andam alguns metros, e depois de alguns metros encontram o supermercado Royal, este bem grande e visível. Aí atravessam a rua, e logo a primeira transversal que encontram é o Pátio da Estátua, que serve, mas o melhor é virarem na segunda, a Travessa dos Vendilhões. Uma vez aí, andam uns dez metros e dão com a Travessa dos Juncos, ou a parte mais pequena dela, que depois de percorrida dá-se logo com a padaria. Seja como for, não saber onde fica não é desculpa para ir lá provar. Eu fui, e aprovei. Parabéns aos empresários, e boa sorte!
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