sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Ai Agostinho, ai Agostinha
Os mais velhos devem concerteza estar lembrados de uma rábula que os actores Camilo de Oliveira e Ivone Silva protagonizavam no programa "Sabadabadu", do início dos anos 80: Agostinho e Agostinha, dois sem-abrigo que apesar de alcoólicos analisavam a sociedade portuguesa da altura com uma tenacidade que faltava a muitos sóbrios. Em Macau temos uma boa quantidade de "Agostinhos e Agostinhas", só que ao contrário - apesar de viverem em casas, e na maior parte dos casos bem confortáveis e não "darem no tintol", analisam as coisas de uma forma mais deturpada do que se tivessem acabado de beber uma lata de diluente. Eis aqui um bom exemplo, um par que se calhar precisava de se vestir de trapos e de "mamar na pinga" para ver se pelo menos lhes surgia um momento de "claridade".
Gabriel Tong e Agnes Lam, dois docentes da Universidade de Macau (UMAC), foram convidados pelo jornal Hoje Macau a comentar o despedimento do seu colega Bill Chou, que acusa a reitoria de estar a levar a cabo uma "caça às bruxas". Em causa está a filiação do professor de Ciência Política na Associação Novo Macau (ANM), uma plataforma conotada com os grupos da pan-democracia que se notabilizam pela sua firme oposição aos governos das RAE, quer em Hong Kong, quer em Macau, e se assumem desalinhados com o regime da R.P. China, que os tem como "subversivos". Escusado será dizer que posicionar-se do lado destes grupos é quase como assinar uma declaração de impregabilidade, ou pelo que dá a entender a UMAC com as razões que estranhamente não esclarece, é passar um atestado de loucura - a competência de Bill Chou nunca foi questionada até recentemente, altura em que passou a aparecer ao lado dos elementos da ANM. Alegando que o professor foi afastado por "razões académicas" e não políticas, mas ao mesmo tempo sugerindo que Bill Chou "distribuía propaganda política" nas suas aulas de Ciência Política, o que é ao mesmo tempo um paradoxo e uma contradição, e enquanto isso o docente garante ter provas de que foi vítima de saneamento político. Enquanto os dois não se decidem a partir o resto da loiça, vejamos o que têm a dizer estes "Agostinho e Agostinha", que têm a UMAC como entidade patronal, e ao mesmo tempo foram colegas de Bill Chou.
Gabriel Tong faz uma interessante fuga para a frente pelo mato, pendurado nos cipós. O académico, que é também deputado da Assembleia Legislativa nomeado pelo Chefe do Executivo, defende o direito de Bill Chou à liberdade de expressão, mas abstém-se de comentar o caso. Posição neutral? Prognóstico reservado? Previsões só depois do apito final do árbitro? Nada disso, pois o professor de Direito e vice-reitor dessa faculdade da UMAC distancia-se do seu (brevemente) ex-colega, dizendo que se "pauta por uma linha de conduta básica para um deputado e político", e que, e reparem bem nisto, "não mistura a vida política e a carreira académica". Esperem, não riam ainda, deixem-me acabar. O senhor até é capaz de estar certo, pois como académico defendeu que o referendo civil organizado pela ANM e outras associações do campo da pró-democracia, e que tem início este Domingo até dia 31 "não era ilegal", para dias depois, já como político, vir à AL dizer que era ilegal, sim senhor, uma monstruosidade. Quem alguma vez teve curiosidade de ler e visionar documentários sobre a Revolução Cultural, consegue estabelecer um parelelo com as alucinantes sessões de auto-crítica feitas por intelectuais - aqui só faltava estar com as mãos amarradas às costas, uma espingarda encostada à cabeça e cartazes insultuosos a seu respeito pendurados ao pescoço. Mas tecnicamente é mesmo assim: Gabriel Tong o académico e Gabriel Tong o político são autênticos "Dr. Jekyll e Mr. Hyde". Vai longe, este jovem "talento". Ainda vos apetece rir?
Como todos sabem ou deviam saber, Agnes Lam foi candidata à AL pela plataforma "Energia Cívica" em 2009 e 2013, falhando a eleição depois da sua lista terminar como a segunda mais votada das que não conseguiram nenhum mandato (atrás da lista apoiada pelo "patrão" das discotecas D2 e D3). A professora de Comunicação Social que foi jornalista da TDM no início da sua carreira tem um faro aguçado e a visão de uma águia, que lhe permitem identificar um monte de sarilhos à distância, e talvez por isso tenha assobiado para o lado durante as últimas "crises" académicas com a UMAC como palco. Sobre Bill Chou, Agnes diz que "não sabe, não viu e não ouviu", e só faltava ter perguntado "quem é Bill Chou". Classe média e indústrias culturais, sim, ela sabe o que é e explica tudo o que quiserem, mas "não esteve no comité que analisou o caso", e por isso tudo o que lhe foi dado a saber pela própria universidade é que "trata-se de uma questão académica, não política". Mas apesar de só saber que nada sabe, diz-se magoada pelas acusações do ex-colega de que teria distribuído propaganda da "Energia Cívica" e comentado o seu programa político durante as aulas, pois na "na Universidade temos vários membros da ANM que participaram da campanha, e portanto não é justo" - suponho que por "elementos da ANM" refere-se a alunos, pois fossem docentes ou funcionários, tinham ido fazer companhia a Bill Chou na fila para a inscrição no fundo de desemprego. Ao contrário do habitual, Agnes Lam não utilizou estatísticas nem apresentou gráficos para suportar as suas afirmações.
Ora aqui temos dois belos exemplos de um Agostinho e uma Agostinha ao contrário. Um jovem inteligente, com a bagagem e a elasticidade cerebral que uma formação jurídica implica (tem mesmo um doutoramento), e uma comunicadora que se apresenta como "voz crítica" do desempenho do Executivo, quando tudo o que faz é chover no molhado, chamando apenas a atenção para o mais fútil e para mais evidente (e consegue enganar muito boa gente). Não o censuro pelo que são, pois vendo bem é difícil chegar onde chegaram de megafone em punho a bradar slogans contestatários e a serem amiúde arrastados pela polícia segurados pelos braços e pelas pernas e enfiados na traseira de um camburão, levados depois para a esquadra e duas horas depois, sem qualquer acusação formada, serem mandados para casa - isto para dizer que Jason Chao dificilmente chegará a um Gabriel Tong e Kam Sut Leng, a professora despedida da escola onde lecionava devido à sua ligação com o ANM, ainda está a uma boa distância de arranjar um tacho igual ao de Agnes Lam. Como podem eles cantar em dueto a célebre canção que Camilo de Oliveira e Ivone Silva celebrizaram? "Isto é que vai uma crise...prós outros!"
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