terça-feira, 29 de julho de 2014
José Lai e os turistas do templo
Foi uma das polémicas da semana passada (temos tido tantas, que foi só "mais uma"), e recebeu a censura da maioria da opinião pública, enquanto os que não desaprovaram, ficaram-se pela "compreensão" - poucos ou nenhuns apoiaram. Falo da decisão da Diocese de Macau em colocar um aviso à entrada da Igreja da Sé reservando o direito de entrada aos católicos praticantes, ou seja, "não-católico não entra". A mensagem era dirigida principalmente aos turistas do continente, que se comportavam no templo católico como se estivessem no zoo ou no cinema, e mesmo durante o horário reservado ao culto dos fiéis, o que causava a estes grande transtorno, pois interferia no seu diálogo com Deus, que apesar da Sua grandeza, fala muito baixinho e é necessário um ambiente onde reine o mais absoluto dos silêncios. Sei do que falo, pois das (muito poucas) vezes que fui à Igreja, qualquer desgraçado que tenha o azar de espirrar durante a oração é olhado pelos outros com um ar de reprovação que o deixa pendurado por um fio à beira do precipício que dá para as estalactices incandescentes do Inferno.
Apesar deste ambiente de velório que se impõe numa visita a uma casa de Deus, a proibição não foi bem recebida pelos fiéis. Dei a minha opinião como não-católico, e entendi perfeitamente a mensagem, e que mesmo que me apetecesse ir à Igreja, seria bem-vindo, pois sei qual o comportamento a adoptar. Por isso a má publicidade da imprensa levou a que o aviso fosse retirado no dia seguinte - ou no outro, não sei bem, mas pouco depois - e pensou-se que o assunto ficaria encerrado, e que não mais ficaria exposta esta forma de "descriminação", contrária ao discurso do próprio Papa Francisco, o segundo na hierarquia da Igreja Católica (o primeiro é...bem vocês sabem, o tal, que nunca se pronuncia nestas coisas nem noutras), que deu indicações no sentido da Igreja tem uma função integracionista, mostrando-se sempre aberta aos seguidores de outras fés ou de nenhuma que queiram saber mais sobre o catolicismo. Melindrados com a polémica, e com o bispo José Lai de férias, os seus imediatos retiraram o aviso, e durante alguns dias a Sé foi outra vez de todos, até dos que "achavam piada aos bonecos".
Mais eis que qual Deus julgador e vingativo, ressurge José Lai, que ordena que se interdite novamente a entrada aos turistas, ou que pelo menos fique claro que não são bem-vindos se não vierem para a adoração do Senhor, o melhor é irem até à travessa mais abaixo comer um gelado no Lemon Cello, que está calor para isso. Mateus tinha previsto esta indignação de José Lai no livro 21 do seu evangelho, cuja versão adaptada passo a reproduzir:
José Lai entrou na Sé e expulsou todos os que ali estavam fotografando e comendo. Ergeu a placa interditando a sua entrada e reservando as cadeiras aos crentes,
e lhes disse: "Está escrito: 'A minha casa será chamada casa de oração'; mas vocês estão fazendo dela um mercado, uma feira".
(passagem irrelevante sobre cegos e mancos que supostamente ficariam curados)
Mas, quando os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei viram as coisas maravilhosas que José Lai fazia e as crianças gritando no templo: "Hosana ao Bispo de Macau", ficaram indignados,
e lhe perguntaram: "Não estás ouvindo o que estas crianças estão dizendo?"
Respondeu José Lai: "Sim, vocês nunca leram: "'Dos lábios das crianças e dos recém-nascidos
suscitaste louvor'"?
E, deixando-os, saiu da cidade para a sua residência anexa à igreja da Sé, onde passou a noite, sem antes deixar o recado: deixem aí a placa, se faz favor.
Palavra do senhor, amen.
Sem comentários:
Enviar um comentário