quinta-feira, 19 de junho de 2014

SS: Schutzstaffel der Makau


Em primeiro lugar gostaria de apelar à generosidade dos leitores residentes em Macau, mas como não tenho o hábito de pedinchar ou mexer com a consciência de ninguém, vou adiantando isto: se quiserem, se vos apetecer, se tiverem tempo, se não estiver muito calor nem chover, e se não vos fizer falta o dinheiro, contribuam para ajudar este jovem a receber tratamento à sua condição que o vem afectando há anos, depositando - outra vez - o que puderem, nesta conta do Banco da China que podem ver na imagem acima. O jovem em questão, Chan Pou U, sofreu um lamentável acidente há quatro anos na escola, quando foi empurrado por um colega, e fracturou o cóccix. Depois de um gritante caso de negligência médica que agravou a sua situação clínica, o jovem encontra-se debilitado, podendo apenas permanecer em repouso na posição de barriga para baixo, e não pode frequentar a escola. A mãe de Chan Pou U está desempregada e tem dependido da simpatia e misericórdia de familiares e amigos. Agora vamos à barra grossa.

A Associação Consciência de Macau, liderada por Jason Chao, organizou uma recolha de fundos na tarde de ontem para ajudar a família de Chan Pou U, e não é a primeira iniciativa do género. Chao tem seguido caso praticamente desde o início, através do Novo Macau, e ontem realizou na casa da família do paciente uma conferência de imprensa, onde no topo da ordem de trabalhos estava o propósito de publicitar a tal conta, e paralelamente a isto, falar da neglicência dos Serviços de Saúde em relação a este caso. Vamos portanto deixar algo bem claro: este é um tipo de situação que tanto eu como o leitor, se for minimamente consciente, detestava que lhe acontecesse. Sabemos bem que em Macau não há almoços grátis, que as coisas "acontecem", e "paciência", porque "é a vida", mas epá, com toda esta capa de ostentação e a noção que temos, porque nos é impingida, de que vivemos num oásis e que devíamos agradecer a todos os santinhos por isso, se o meu filho estiver a sofrer e as entidades a que posso recorrer para resolver a situação estão a "cagar-se" para o meu problema, então que "vão para o caralho". E farei questão de lhes indicar a direcção.

Não me interessa se Jason Chao está a tirar dividendos políticos do caso. A mãe do jovem em questão pouco se importa se isto lhe vale votos numas putativas eleições, até porque acho que ela votará nele com toda a certeza. É que depois de bater a todas as portas que lhe foram ditas para bater, nada consegue resolver, e ainda gozam com a sua cara, até o Diabo se apresenta como alternativa, desde que este lhe faça o obséquio e lhe permita dormir mais descansada, sabendo que o seu filho sofre menos, ou que existe uma saída para o seu sofrimento. Agora ficar a depender de burocratas, ou "burrocratas", que aprenderam que um emprego na Administração é um "emprego" e não um "trabalho", que pensam que assumir responsabilidades é para as chefias, e estas delegam-nas para o andar imediatamente inferior da pirâmide, num jogo de "passa ao outro e não ao mesmo", é que não há mesmo pachorra. Qualquer dia vamo-nos queixar de uma obra pública cuja construção ou manutenção foram deficitárias, e acabou por nos cair em cima da cabeça, e vão atribuir as culpas ao pessoal da limpeza.

Mas voltando ao caso de ontem. Durante a tal conferência de imprensa de ontem realizada no domicílio da família do jovem debilitado, apareceu uma figura que se fez passar por jornalista, mas que na realidade era uma funcionária dos Serviços de Saúde (SS). Jason Chao, que era o mestre de cerimónias, e que apenas tinha reservado a intervenção à imprensa e aos interessados directamente no caso, pediu que a pessoa se identificasse, e perante a insistência, revelou que pertencia aos quadros dos SS, e que "tinha o direito de ali estar" - isto apesar da reunião se ter realizado num domicílio privado e para o qual não foi convidada, e apenas teve acesso fazendo-se passar por algo que não era. Peço desculpa se perdi esta parte do filme durante os cinco minutos que saí para ir ao "lobby" comprar mais pipocas, mas desde quando é que os residentes de Macau estão proibidos de se reunir onde quiserem, com quem quiserem, sem que esteja lá alguém do Governo para ver o que fazem e dizem? Chegámos aonde, afinal?

Mas ah! esperem. Fez-se passar por jornalista? Estava ali com um gravador, uma câmera e um bloco de notas mas não estava acreditada como pessoal da imprensa? E foi a uma conferência de imprensa, para a qual não foram convidados outros elementos que não os da imprensa? Hmmm...onde é que eu já ouvi dizer que isto é muito feio e não se deve fazer? Ah, já sei, foi da boca de uns senhores da imprensa, que atribuem à imprensa um carácter muito exclusivo e quasi-religioso, batem o pé por uma lei que defina de uma vez por todas quem faz parte do seu "Club Med" de merda, e ai do bandido que se atreva a fazer-se passar por "jornalista". Sim, assim mesmo, entre aspas, pois mesmo sendo um profissional da imprensa, se fizer perguntas incómodas ou não comem do mesmo prato que eles comem, é um falso jornalista, e como tal não merece credibilidade. Um desses paladinos do jornalismo "sério", um verdadeiro escoteiro-mirim, acha que a tipa dos SS não estava ali a fazer nada. O que a senhora devia ter feito era ignorar o assunto, como fizeram os serviços que representa, em suma, não dar trela a estes agitadores. O filho não é dela, e mesmo que fosse não está desempregada, e até deve ganhar relativamente bem, portanto não precisa de esmolas para aceder a cuidados de saúde fora do território. Aqui é que não dá, nada feito.

Mas numa coisa o sabichão tem razão: aqui a incompetência está como o cabelo numa banda de "glam-rock" dos anos 80. Seja quem for que não esteja satisfeito com um serviço público, e recorra de uma decisão para a instância imediatamente superior, esta vai dar razão à primeira, e caso insista em apelar à entidade acima, essa vai dar razão às outras duas, e por aí fora. Esgotados os recursos, a única solução são os tribunais, e mesmo que estes lhes dêm razão, envolvem uma despesa e uma disponibilidade que nem toda a gente tem, e mesmo que tenham paciência de santo, precisam aguardar 1 ou 2 anos por uma decisão, e outros tantos pelos recursos e o raio que os parta. Se for uma questão de vida ou de morte, dá-se a morte, e quando finalmente for feita justiça será já altura da exumação. É complicado entender porque é tão difícil a uma entidade pública revogar uma decisão emanada pela entidade imediatamente abaixo da sua. Se calhar têm medo de se encontrarem na festa de Natal e depois viram a cara um ao outro. Se por acaso pensam que isto é sinónimo de "unidade", permitam que vos diga apenas isto: bardamerda. Se pensam que a coerência é isto, procurem a borda do planeta e saltem.

Apregoadas que estão as qualidades dos nossos tecnocratas, e carecas de saber dos resultados espectaculares da nossa balança comercial (entenda-se "jogo contra todos"), porque se comportam os SS como as SS? Eu explico: aparentemente em Macau, quem tiver um problema grave de saúde e lhe faltar liquidez para resolver o assunto em Hong Kong, na Tailândia ou noutro país estrangeiro, não conte com a simpatia das entidades oficiais - eis a solução:


Este poster de propaganda nazi alerta para os custos de um inválido para os contribuintes. Portanto se um dia deixar de contribuir com o seu trabalho para a prosperidade e "harmonia" da RAEM, e começa a pesar na despesa do erário público, considere a eutanásia como uma saída digna - e se for crente vai para o Céu e tudo ah? Já viu? Bestial! A propósito, a incineradora da Taipa dá conta do recado ou quê?



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