sexta-feira, 2 de maio de 2014
Os sons dos 80: 1981
Bem vindos ao ano de 1981, o segundo da década de toda a música. A 24 de Janeiro o vocalista dos Aerosmith, Steven Tyler, sofre um acidente de mota, que o deixa dois meses hospitalizado, e três semanas depois, no dia de S. Valentim, Billy Idol anuncia o fim do "namoro" com o seu grupo, os Generation X, e parte para uma carreira a solo. A 4 de Abril os britânicos Bucks Fizz ganham o Festival da Eurovisão com o tema "Making Your Mind Up", um dos grandes sucessos do ano, e uma semana depois Eddie Van Halen casa com Valerie Bertinelli. Uns casam, outros descasam, e o ano é profícuo em acidentes; assim os Yes, de Jon Anderson, anunciam o fim a 18 de Abril, enquanto Ringo Starr casa com Barbara Bach a 27 do mesmo mês, cinco dias depois de Eric Clapton ser hospitalizado com algumas costelas partidas após um acidente de automóvel em Seattle. Em Maio dá-se uma das maiores transferências, e não estou a falar de futebol: Diana Ross deixa a Motown e assina pela RCA Records, a troco de 20 milhões de dólares. A 4 de Junho os U2 fazem a sua primeira aparição televisiva na América, no "Tomorrow's Show", de Tom Snyder, e dois dias depois sai a primeira edição da revista Kerrang!, com Angus Young, guitarrista dos AC/DC na capa. Na madrugada do dia 1 de Agosto de 1981 faz-se história, com a primeira emissão da MTV, um canal de televisão completamente dedicado à música moderna - ironicamente o primeiro vídeo passado pela MTV foi "Video Kills The Radio Stars", dos Buggles. Contudo, e com a MTV a dar os primeiros passos, a moda do Verão era "Stars on 45", levando os melómanos à moda dos "medleys", ao mesmo tempo que no Reino Unido o presidente da Indústria Fonográfica Britânica, Chris Wright, anuncia que as gravações de discos para cassete "estão a arruinar a indústria" - ainda estávamos a muitos anos do Napster. Em 18 de Novembro uma jovem Suzanne Vega senta-se num restaurante em Nova Iorque e consegue inspiração para escrever "Tom's Diner", e numa "refeição" mais incaracterística Ozzy Osbourne arranca à dentada a cabeça de uma pomba branca durante uma reunião com executivos da CBS. Vamos olhar para os temas que andaram nos tops nesse ano:
"I'm Rick James, bitch!" - esta foi uma "catchphrase" do início dos anos 2000 que andou na boca de muita gente, mesmo dos que não sabiam quem era Rick James. E digo "era" porque este nome da "soul" e da R&B faleceu em 2004, aos 56 anos, mas nos anos 70 e 80 era um número respeitável dentro do seu género, e obteve grande visibilidade com este "Super Freak", que foi nº 16 na Billboard e andou pelos primeiros lugares nos tops europeus. Muitos deverão reconhecer a "intro", na qual MC Hammer se havia de inspirar dez anos mais tarde para o seu "Can't Touch This". A carreira de Rick James entrou em declínio nos anos 90, quando desenvolveu uma habituação à cocaína que lhe custava 7 mil dólares por semana, e com isso as dívidas, alguns problemas com a justiça e dois anos na prisão. Surgiram também os problemas de saúde, com um trombose em 1998, e seis anos depois, já bastante debilitado, viria a falecer de insuficiência cardíaca e respiratória.
Joe Dolce nasceu no Ohio, nos Estados Unidos, e em pequeno foi para a Austrália com a família, tornando-o, portanto, "americano a viver na Austrália", o que só por si é motivo para que os ingleses o desprezem. Mas nem os súbtidos de Sua Majestade resistiram a este "Shaddap Your Face", que para tornar a salada ainda mais russa fala dos italo-americanos, e fizeram-no chegar mais ao seu Music Theatre ao nº 1 do top de singles do Reino Unido em Fevereiro de 1981, durante três semanas, e entre dois "gigantes": "Woman" de John Lennon, e "Jealous Guy", dos Roxy Music. O ambiente de consternação pela morte de John Lennon era grande, e Joe Dulce veio desanuviar um pouco.
Os The Specials eram um grupo britânico de "ska" originários de Coventry, que teriam passado completamente despercebidos, não fosse pelo single "Ghost Town", que lhes valeu o seu único sucesso no Reino Unido, chegando ao nº 1 do top de singles. A banda, que no que toca a grupos de ingleses a tocar música caribenha viveu sempre na sombra dos Madness. O vocalista Jerry Dammers dissolveu a banda em 1984 para se dedicar ao activismo político, nomeadamente as causas anti-racistas e a libertação de Nelson Mandela.
Kim Carnes iniciou a sua carreira em finais dos anos 60, mas teve o seu apogeu apenas mais de uma década depois. O "clímax" foi com "Bette Davies Eyes", o seu single mais conhecido, que foi o mais vendido nos Estados Unidos em 1981, chegando a nº 1 da Billboard, e ao top-10 do Reino Unido. A canção é na realidade um original de Donna Weiss e Jackie DeShannon, de 1974, mas à "boleia" desse sucesso, Kim Carnes viu o seu álbum "Mistaken Identity" chegar também nº 1 da tabela da Billboard nesse ano, e depois disso voltou a ter sucesso graças aos duetos com o cantor "country" Kenny Rogers. A sua voz rouca tem-se ouvido muito menos nos últimos anos, e Carnes tem actualmente a simpática idade de 68 anos.
Os Kool & The Gang são uns "monstros sagrados" da música, e apesar das suas raízes "soul" e R&B, conseguiram adaptar-se a todas as modas, desde o "funk" à "disco", especialmente qualquer coisa que fosse dançável. Um dos seus maiores êxitos foi este "Celebration", do álbum "Celebrate!", de 1980, e que foi nº 1 da Billboard em Fevereiro de 1981, sendo destronado pelo mais stressante "9 to 5", de Dolly Parton. É assim a vida, para os mais distraídos - ou para quem não é alemão - primeiro "celebra-se", e depois pega-se no emprego das nove às cinco.
O single "Stand and Deliver", de Adam and the Ants foi nº 1 no Reino Unido em Maio de 1981, e vendeu mais de um milhão de cópias - um feito mais fácil de alcançar nos Estados Unidos do que nas ilhas britânicas, por razões óbvias. Este grupo da era "punk" e depois da era "pós-punk" existiu de 1977 a 1982, e por essa altura o "manager" da banda era Malcolm McLaren, o mesmo dos Sex Pistols, que encorajaria o vocalista Stuart Leslie Goddard, ou "Adam Ant", a deixar a banda e prosseguir uma carreira a solo. Assim acabaram os Ants, e do Adam pouco se ouviu falar depois disso.
A escocesa Mary Sandeman é um caso deveras interessante: em 1981 aproveitou a sua educação musical de raíz céltica para fazer uma incursão pela "pop", já com 27 anos, e adoptou o nome artístico de Aneka. Com um visual oriental, lanço o single "Japanese Boy", e chegou a nº 1 do top do Reino Unido, bem como de outros países, mas existia um pequeno problema: todos pensavam que Aneka era mesmo japonesa, de tão convincente que foi o "disfarce". Assim abandonou o circuito comercial e regressou à Escócia natal, onde foi guia turística em Stirling, e voltou às lides da música tradicional.
Darryl Hall e John Oates formaram uma dupla de cantores/compositores muito popular nos anos 80, quer interpretando os seus próprios temas, quer "emprestando" a outros artistas - o melhor exemplo deste último caso terá sido "Everytime You Go Away", feito sucesso na voz de Paul Young. Mas só em 1981 Hall & Oates tiveram dois singles que chegaram a nº 1 na Billboard, e tive a sorte de encontrar este vídeo onde eles os interpretam ao vivo em Sydney na Austrália. Fiquem então com "Kiss on my List", seguido de "Private Eyes".
A australiana Olivia Newton John deixou todo o mundo a dançar no início da década de 80 com este tema "Physical", que vem acompanhado de um vídeo que deixa bem claro que não há lugar a segundas leituras. Newton-John saltou para o estrelato com "Grease", o filme de 1978 inspirado no musical com o mesmo nome, onde contracena com John Travolta, e confirma a sua boa estrela dois anos no filme "Xanadu", onde fica encarregada da banda sonora, com a música dos Electric Light Orchestra (ELO). Com "Physical", do álbum com o mesmo nome que é o 12º na sua carreira, passa dez semanas no primeiro lugar da Billboard, vendendo mais de dois milhões de discos. Depois disso entra numa curva descendente, mas ninguém acredita que tenha razões de queixa.
Agora aquela que muitas listas consideram a melhor canção de "rock" de todos os tempos: "Can't Stop Believing", dos Journey. A banda de San Francisco, liderada por Steve Perry, até nem é um grande nome do seu género, pelo menos comparada com outros actos semelhantes, e este single foi apenas nº 6 no top do Reino Unido, e só chegou a nº 1 da Billboard já durante a era do digital, onde teve mais de um milhão de "downloads". Mesmo assim, rock "puro e duro", e aqui ao vivo em Tóquio, no Japão, em 1983.
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