quarta-feira, 28 de maio de 2014
Desculpas de mau cobrador
Quem não está de parabéns, antes pelo contrário, é a Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM), que mais vez demonstra que pode, quer, manda põe e dispõe dos serviços de telecomunicações do território, e continua a demonstrar que é tudo menos independente, como devia ser, pelo menos na hora de colocar os interesses dos seus clientes em primeiro lugar. A companhia continua a demonstrar que se não é completamente instrumentalizada pelo poder político, obedecendo cegamente às suas directivas em troca de um monopólio, que por sua vez gera lucros que são repartidos por elementos da cúpula desse mesmo poder político (e a isto chama-se "conluio"), então é bastante suspeita.
A CTM foi um dos "bonecos" que ficou mal na fotografia aquando das manifestações do último Domingo, voltando a ter "problemas técnicos" que limitaram ou em alguns casos cessaram por completo o seu serviço móvel e internet. No mesmo dia a companhia desculpou-se com "a aglomeração de pessoas em certos pontos da cidade, nomeadamente na Praça do Tap Seac", que como se sabe, foi um ponto de passagem de milhares de pessoas que participaram do protesto contra a lei do regime de garantias dos detentores dos principais cargos públicos. Hoje um grupo de cidadãos foi à Direcção dos Serviços de Regulação de Telecomunicações (DSRT) apresentar queixa, e a justificação que lhes foi dada é exactamente a mesma: "gente a mais na rua". Desculpa de mau pagador, esta; ou melhor de mau cobrador, uma vez que somos nós quem paga por um serviço medíocre. Faz lembrar aquela rábula do actor António Silva no filme "A Menina da Rádio", explicando como funciona um aparelho de rádio, só que aqui é o sinal da rede móvel e de internet que "bate na multidão, e recua...daí o sinal quer sair e não pode". Isto é a CTM que anda "fria...frapé", e tem que "aquecer o carburador".
É que nós, não tendo nascido ontem e sabendo muito bem o que a casa gasta, temos a certeza absoluta que caso se tratasse da visita de um alto dirigente da R.P.C., e estivessem rua milhares de pessoas, velhinhas a fazer "tai-chi", meninas a dançar "ballet" em indumentária pedófila, meninos a recriar a ópera "Ode ao Rio Dragão" e todos a agitar bandeirinhas, a CTM colocava a rede a funcionar a galope, não fosse algum patriota perder algum instante da "harmonia". Assim, na presença de sinais de agitação popular, toca a cortar o sinal para ver se estes gajos vão para casa enfiar-se nos lençois a curtir a "ressaca" de ficar sem rede móvel durante mais de uma hora. Dispersar, dispersar, como fez a Junta Militar na Tailândia bloquando o acesso a vários "sites" logo que tomou o poder, e como fazem todos os regimes que tapam o sol com uma peneira, pensando que basta estalar o chicote no chão e os burros baixam todos as orelhas.
Ainda entendo que serviços básicos como o abastecimento de água e o fornecimento de electricidade sejam monopolizados, pois não há lugar a "birras" que levem depois a população a ficar as escuras e a cheirar mal - basta ver o que aconteceu com os anteneiros. Agora um serviço como as telecomunicações, completamente opcional, deixado nas mãos de uma toda-poderosa companhia que pratica a censura (sim, tentem lá entrar neste "site", fáxavôr), e que ainda por cima providencia um serviço de caca, que haja ou não manifestações, é que não cabe na cabeça de ninguém. Aparentemente em Macau o mercado só é "livre" quando toca ao imobiliário, quanto ao resto...bem, viram um elefante, foi? Fechem olhos bem fechadinhos, e vão ver que afinal não está lá elefante nenhum. Viram? Ah, ah, então, ainda não entenderam? A resposta certa é "não, não vimos nada".
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