sábado, 19 de abril de 2014

Os sons dos 80: Leonard Cohen


Leonard Cohen é um poeta e cantautor canadiano de origem judaica, e que a partir da década de 60, já depois dos 30 anos de idade, gravou 12 álbums de originais. Cohen nunca quis realmente ser cantor, mas a forma de fazer passar a sua poesia a um público mais vasto e ainda fazer algum dinheiro nesse processo, juntando ao facto de ter uma voz sedutora, fizeram-no embarcar numa carreira discográfica de sucesso. Desde o primeiro registo de originais em 1967, "Songs of Leonard Cohen", até à década de 80, assinou clássicos como "Suzanne", "Sisters of Mercy", "Chelsea Hotel", "Famous Blue Raincoat", "So Long, Marianne", entre outros. Nos anos 80 gravou apenas dois registos de originais, mas que marcariam a sua transição do estilo de poeta e baladeiro para um fenómeno "pop", alcançando um público mais vasto, incluíndo o mais jovem. E falo por mim, que gosto de Leonard Cohen desde que tenho 10 anos, e o primeiro contacto com a sua música foi exactamente com o seu álbum de 1985, "Various Positions", e o entusiasmo seria ainda maior três anos depois com "I'm Your Man". Pode-se dizer que na década de 80 o cantor originário do Quebec disse pouco, mas disse tudo.


O primeiro single de "Various Positions", que só viria a sair em versão CD dez anos depois da sua edição, foi este "Dance Me To The End of Love", uma balada a lembrar o francês Serge Gainsbourg, num tom funesto, voz arrastada e moribunda, e acompanhada de um vídeo sinistro, que tem como cenário um hospital. Apesar de isto não ficar muito claro quer na canção quer no próprio vídeo, o tema é inspirado pelo Holocausto - pelo menos foi o que Cohen disse numa entrevista anos mais tarde. Nas "back-vocals" está nem mais nem menos que Jennifer Warnes, que três anos antes tinha vencido o Oscar graças ao dueto com Joe Cocker em "Up There Where We Belong", e que já tinha trabalhado com Cohen no seu álbum anterior, "Ten New Songs", de 1979. O tema foi gravado em 2005 pela cantora Madeleine Peyroux, para o seu álbum "Careless Love".


O segundo single de "Various Positions" foi "Hallelujah", que na altura em que Cohen cantou o tema, não teve o mesmo impacto que veio a ter anos mais tarde na voz de outros artistas, tendo ficado por um modesto 36º lugar no top de singles do Reino Unido. Depois disso o tema foi interpretado por mais de 300 artistas (!) em várias línguas, sendo as versões mais famosas as dos Bon Jovi, John Cale ou Justin Timberlake. "Hallelujah" foi um autêntico ganha pão para Alexandra Burke, vencedora da 5ª edição do concurso "X-Factor" no Reino Unido, onde a sua versão do tema chegou ao nº 1 do top de singles, e para Jeff Buckley, que até suspirou "Aleluia!" quando atingiu o nº 2 no Reino Unido e o 1º lugar da Billboard. Este último até deu direito a um um livro, "The Holy or the Broken: Leonard Cohen, Jeff Buckley & the Unlikely Ascent of "Hallelujah"", da autoria de Alan Light, jornalista da Rolling Stone, que chama a atenção para o facto de Cohen ter demorado anos a concluír a canção, tendo escrito 80 versos até chegar ao resultado final.


E de facto as canções de Cohen não eram fáceis de digerir para todos os estômagos. A temática incidente sobretudo na solidão, desespero, traição ou sexo não convidavam propriamente a uma tarde bem passada - mas era isto que Cohen tinha para oferecer. O lado comercial do seu trabalho foi sendo mais cuidado, e se em "Various Positions" já se tinha dado a conhecer à geração MTV, o resultado foi ainda melhor três anos depois, em 1988, com "I'm Your Man", que muitos consideram o seu melhor álbum. Com uma produção mais cuidada - que passou também pela capa, onde Cohen aparece mais descontraído, com um visual mais "moderno" - foram mesmo incluídos elementos da "synthpop" em alguns dos temas. Assim "I'm Your Man" foi disco de ouro no Reino Unido, passou 16 semanas no nº 1 do top de álbums na Noruega, e ficou classificado em 27º lugar na lista de 100 melhores álbums dos anos 80 pela Slant Magazine.


O primeiro single do álbum foi "Take This Waltz", que Cohen escreveu em 1986 como contributo para a colectânea "Poets of New York", uma homenagem ao poeta espanhol Federico Garcia Lorca. Para "'m Your Man" Cohen gravou uma versão ligeiramente diferente, contando novamente com a ajuda de Jennifer Warnes nas "back vocals". A letra é parcialmente inspirada no poema "Pequeño vals vienés" de Lorca, que é um dos poetas favoritos de Cohen. O vídeo foi filmado na cidade espanhola de Granada, onde é possível ver o cantor a visitar a casa do malogrado poeta. Com tudo isto, os espanhóis retribuiram com o nº 1 do top de singles para "Taek This Waltz".


O segundo single foi "First We Take Manhattan", que Cohen havia escrito um ano antes para o trabalho a solo de Jennifer Warnes, "Famous Blue Raincoat", que consistia de temas todos assinados pelo cantor canadiano. Na versão de "I'm Your Man", faz-se o uso e abuso de sintetizadores, tornando o tema pouco característico para Leonard Cohen, mas mesmo assim bem recebido pelo público. Jennifer Warnes retirbui participando novamente nas "back vocals", e os R.E.M. gravaram uma das mais famosas versões do tema em 1991 para o álbum "I'm Your Fan", uma homenagem a Cohen por parte de outros artistas, que interpretam alguns dos temas do seu reportório. O vídeo, realizado a preto e branco, é da autoria de Dominique Isserman, que na altura era a companheira de Cohen.


Outros temas fortes de "I'm Your Man" são o próprio tema que dá nome ao álbum, "Ain't No Cure for Love", "Everybody Knows" ou "I Can't Forget", todas com direito a versões de outros artistas anos mais tarde, o que comprova a influência de Leonard Cohen na música contemporânea. Quanto às próprias influências de Cohen, ficam patentes no tema de encerramento, "Tower of Song", dedicado ao cantor "country" Hank Williams, que morreu em 1953 aos 30 anos num acidente de automóvel. Deixo-vos com este tema, onde Cohen conta com a participação dos U2.

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