quarta-feira, 5 de março de 2014
Os sons dos 80: a menina (en)canta?
Hoje vou dedicar este espaço a vozes femininas que gozaram de uma fase de grande popularidade durante os anos 80, e de seguida "saíram de cena". Não é fácil a qualquer artista manter sempre um reportório actual, e em alguns casos este esgota-se, fazem-se as contas, fecha-se a loja e vai-se à vida, optando-se por outra carreira qualquer - ou nenhuma, dependendo de quanto se lucrou com a "aventura". Há ainda casos de artistas que prosseguiram a carreira, ainda hoje a mantêm, mas encontram-se mergulhadas na obscuridade - nem todas conseguiram ser como Madonna ou Tina Turner, afinal. Haverão outras de que falarei mais tarde, pois são merecedoras de um artigo mais extenso, portanto recordem algumas que merecem mesmo assim uma referência, mesmo que em jeito de nota de rodapé.
Aqui está um bom exemplo de "vim, vi, venci e fui-me embora". A inglesa Kim Wilde teve uma carreira na música com início em 1981, e que resolveu colocar um ponto final em 1988, depois de vender 10 milhões de albums e 20 milhões de sigles. O seu primeiro longa-duração, o homónimo de 1981, valeu-lhe três singles de sucesso no Reino Unido, entre eles "Kids in America". Em 1987 conseguiu com "You Keep Me Hanging On", uma versão de um tema das Supremes, chegar ao 1º lugar da Billboard. Do seu disco de 1982, "Select", o primeiro single foi este "Cambodia", de que gosto especialmente. Ao mesmo tempo que cantava, dedicava-se também à escrita, e depois de terminar a carreira de cantora foi apresentadora de televisão durante algum tempo, antes de se dedicar à sua grande paixão, a jardinagem. Ora toma!
Esta é a única artista desta lista que já não se encontra entre os vivos. Laura Branigan saltou para os escaparates com o seu êxito "Gloria", em 1982, e depois contribuíu para as bandas sonoras de "Flashdance" com "Imagination" e de "Ghostbusters", com este "Self Control" - todos lhe valeram nomeações para Grammys, que não venceu em qualquer das ocasiões. Ficou-lhe a consolação de um prémio no Festival de Tóquio em 1984 com "The Lucky One", e saíu das luzes da ribalta quase de seguida. Viria a falecer de aneurisma cerebral em 2004, aos 47 anos.
Alguns devem-se lembrar bem desta, ou pelo menos devem ter adormecido muitas vezes ao som dela. Helen Folasade Adu, ou apenas Sade, é uma nigeriana que gozou de tremenda popularidade em meados dos anos 80, que lhe valeram vários prémios, e tudo graças à sua melosa voz de contralto. Nascida em 1959 em Ibadan, na província nigeriana de Oyo, mudou-se para casa de uns tios em Colchester, tinha 11 anos, e teve aulas de canto durante toda a adolescência. Já na universidade, em inícios dos anos 80, cantava numa banda "soul" chamada Pride, e um dos temas que interpretava era "Smooth Operator", que chamou a atenção de um executivo da Epic Records, que lhe propôs um contrato. Já com a sua banda gravou em 84 o LP "Diamond Life", seguido de "Promise", em 1985, ambos grandes sucessos de vendas, que em 1986 lhe valeram o Grammy para melhor nova artista. Em 1988 lançou "Stronger than Pride", o seu terceiro trabalho, e desde então só gravou mais três álbums de originais até 2010. É conhecida pelos seus relacionamentos falhados, que deram num casamento do qual resultou uma filha. Vive no interior de Inglaterra uma vida discreta.
Quem tem boa memória e se recorda bem dos anos 80, quando ouve o nome Jennifer Rush pensa imediatamente em "Power of Love". Esta senhora norte-americana ficou conhecida apenas por este tema, isto apesar de ter uma longa carreira na música, que se extendeu pelo menos até 2010. Este "Power of Love" lavou e durou, e entre 1984 e 1986 ocupou os lugares cimeiros dos tops de vendas um pouco por todo o mundo, incluíndo Portugal, onde passou várias semanas como nº 1. Deve ser frustrante dar um concerto, começar com outro tema e ouvir logo toda a gente a pedir "Power of Love! Power of Love!". Mais valia a Jennifer dizer-lhes: "porque é que não a cantam vocês?". Pelo menos pela forma como se tornou num dos favoritos em qualquer sala de karaoke...
Esta não é a primeira vez que falo de Sheena Easton, e não será certamente a última. Uma belíssima cantora, nos dois sentidos, que arrancou nos anos 80 como uma grande promessa, mas foi-se deixando ficar para trás com o final da década. Sheena começou a carreira praticamente com um nº 1 na Billboard, graças a este "9 to 5", da banda sonora do filme com o mesmo nome, mas que seria renomeada de "Morning Train", para não ser confundida com o tema de Dolly Parton, que também era intitulado "9 to 5" (que confusão para ali arranjaram...). Tal como Sade em 86, ganhou o Grammy para melhor novo artista, mas em 1982. Senhora de uma voz fantástica, tratava o top da Billboard por "tu", e foi a primeira artista a ter quatro singles consecutivos no top-5 de mais de uma das listas desse top Americano. Interpretou o tema para o filme "Your Eyes Only", da série 007, e fez duetos inesquecíveis com Kenny Rogers e Prince. Sem se saber muito bem como, foi remetida ao esquecimento em finais da década que a tornou uma super-estrela.
Este foi um estranho caso de "desaparecimento", mas sem ter desaparecido de todo. Parece complicado mas é muito simples; Suzanne Vega, que é americana de Los Angeles (e não inglesa, ao contrário do que muita gente pensa) iniciou a sua carreira em 1982, gravou o primeiro disco dois anos depois, e em 1987 atingiu o reconhecimento mundial com "Solitude Standing", o álbum que continha os temas "Luka" e "Tom's Diner", em 1990 saíu "Days of Open Hand", no mesmo estilo, e a sua trilogia de sucesso completou-se com "99.9F°", que contém este "In Liverpool", que é a minha canção preferida dela - não é dos anos 80 mas abro uma excepção neste caso. Depois disso continuous a gravar, foi perdendo o gás na fase final dos anos 90, e alvíssaras para quem tenha ouvido qualquer coisa de relevante vindo dela nos últimos 15 anos. Ah sim, e o seu último disco de originais, "Tales from the Realm of the Queen of Pentacles", o primeiro em sete anos, saíu...o mês passado. Sabiam?
Finalmente Tracy Chapman. Esta norte-americana de Cleveland, Ohio, surgiu do nada para arrasar os tops na recta final da década de 80 com os álbums "Tracy Chapman" (1988) e "Crossroads" (1989). O seu single de estreia "Fast Car" foi nº 5 no Reino Unido e nº 6 na Billboard, e valeu-lhe o Grammy para melhor intérprete feminina nesse ano. No entanto o seu tema mais conhecido será este "Baby Can I Hold You", que seria gravado pelos Boyzone em 1997. Uma mensagem linda, que serve para todas as orientações sexuais - é que Chapman, que este ano completa 50 anos de idade, prefere a companhia do mesmo sexo, apesar de manter um distanciamento entre a sua vida profissional e a sua vida privada. Ficou celebre o seu relacionamento amoroso nos anos 90 com Alice Walker, autora de "A Cor Púrpura".
Sem comentários:
Enviar um comentário