domingo, 9 de março de 2014
Os sons dos 80: Elton John
Reginald Kenneth Dwight, mais conhecido por Elton Hercules John, sir Elton John, ou simplesmente Elton John comemora este ano 50 anos anos de carreira. Meio século de uma vida que teve início em 1947, e que vai sendo vivida no meio artístico desde os 15 anos. O seu primeiro disco a solo data de 1969, e quatro anos depois torna-se uma referência da música moderna ligeira a nível mundial com o seu sétimo álbum, "Goodbye Yellow Brick Road", que chega a nº 1 nos Estados Unidos e no Reino Unido. O homem das mil e uma faces e dos mil e um adereços, tendo ficado famoso pela sua coleção de chapéus e óculos escuros, gravou 31 álbums de originais, e vendeu mais de 300 milhões de discos. Duas parcerias marcaram a sua carreira e a sua vida pessoal: Bernie Taupin escreveu a grande maioria dos seus êxitos, e David Furnish é o seu companheiro de há mais de 20 anos, tendo ambos contraído uma união civil em 2005. Elton John foi um dos primeiros artistas ou celebridades a assumir a sua homossexualidade. Falar dele nos anos 80 é apenas virar um página de um livro enorme, repleto de surpresas, inovações e excentricidades. É a capacidade que tem de se reinventar que tornaram Elton John um nome que ficou conhecido por gerações durante as seis décadas que leva de carreira na música. Na década de todos os excessos, da MTV, dos mega-concertos, e da entrada na era digital, o artista que foi em tempos proprietário do clube ingles Watford FC teve um início promissor, um meio vacilante, e um final feliz. É perigoso falar de "final feliz" quando se fala de Elton John. E perdoem-me os que ficaram ofendidos com o que acabei de escrever.
Elton John iniciou a década de 80 a "arrumar a prateleira", por assim dizer, com a colectânea "Lady Samantha", que incluía raridades, temas inéditos que não entraram no alinhamento de trabalhos anteriores, e lados "B" de singles de sucesso. O seu primeiro trabalho de originais foi no mesmo ano, e estamos em 1980, e ficou com o curioso título de "21 at 33" - era o 21º registo de originais do cantor, que completou nesse ano as 33 primaveras. Não foi um mau começo, com o disco a chegar ao nº 12 do top do Reino Unido e a nº 13 da Billboard, onde o sigle "Little Jeanie" foi nº 3. No ano seguinte saíu "The Fox", menos bem sucedido, mas em 1982 o álbum "Jump Up!" entra no top-20 em ambos os lados do Atlântico, e contém aquele que viria a ser um dos seus clássicos. "Blue Eyes", presença em quase todas as suas colectâneas, não teve um grande impacto nos tops, mas foi nº 1 no top de música adulta contemporânea da Billboard.
Em 1983 Elton John, que gravava ao ritmo de um álbum por ano - uma produção impressioante - lança aquele que muitos consideram ser o seu melhor disco dos anos 80: "Too Low for Zero". O novo trabalho do cantor, o primeiro desde 1976 com todas as letras a serem escritas por Bernie Taupin, é nº 7 no Reino Unido, e apesar de não fazer melhor que o nº 25 na Billboard, vende mais de um milhão de discos nos Estados Unidos. E como apresentação deste "Too Low for Zero", nada mais nada menos que "I Guess That's Why They Call It the Blues", que tem música de David Johnstone. O single nº 5 no Reino Unido e nº 4 da Billboard, mas mais do que o desempenho nos tops, entra para a galeria das maiores canções ligeiras de sempre da música moderna contemporânea.
Em 1984, e fazendo jus à sua media de um álbum por ano, sai "Breaking Hearts", que contém os singles "Sad Songs (Say So Much)" e "Passengers", e que um tanto supreendentemente chega a nº 2 no Reino Unido, apesar de ser quase unânime que fica alguns furos abaixo do seu trabalho anterior. No ano seguinte chega "Ice on Fire", e é aqui que se dividem as opiniões sobre o que foi o trabalho de Elton John nos anos 80: genial ou foleiro? A culpa é do tema "Nikita", que é nº 7 no Reino Unido, nº 3 na Billboard, e chega a nº 1 em vários países europeus, incluíndo Portugal. Este exemplar da "pop" do tempo da Guerra Fria que passado três anos se tornou uma relíquia com a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética conta a história de um tipo (o próprio Elton John) que se "apaixona" por uma oficial da alfândega da Alemanha Democrática (antiga RDA), interpretada pela actriz inglesa Anya Major. Ela vive para lá da Cortina de ferro, coitadinha, ele quer levá-la a passear e a comer "burgas", quer mostrar-lhe a MTV, enfim, tudo o que "viver em liberdade" significa. Tudo muito fingido, muito falso, a começar logo pela possibilidade do cantor se apaixonar por uma mulher. A canção é uma espécie de super-produção, com George Michael nos coros e Nick Kershaw na guitarra. Quanto a "Ice on Fire", foi nº 3 na tabela de albums do Reino Unido e nº 48 da Billboard.
Se "Ice on Fire" teve pelo menos o mérito de ser um marco positivo na discografia de Elton John em termos de vendas, o mesmo não se pode dizer do seu registo seguinte, "Leather Jackets", de 1986, que foi o pior de sempre nos "charts". Não teria sido por falta de ambição, pois no álbum participam convidados de peso como Cliff Richard, Cher, ou Roger Taylor e John Deacon dos Queen. O primeiro single do disco, "Heartache all Over the World" foi uma vez considerado pelo próprio Elton John "a pior canção que alguma vez gravou". O letrista e colaborador de longa data, Bernie Taupin, considera este e "The Big Picture", de 1997, os piores resultados da sua parceria com o músico. O regresso aos trabalhos de originais dá-se apenas dois ans depois com "Reg Strikes Back", que recebe críticas mais positivas, mas o caminho do sucesso absoluto só viria a ser reencontrado com "Sleeping With the Past", que assinala o seu retorno ao nº 1 no Reino Unido. Neste último disco da década de 80 está incluído "Sacrifice", um dos seus maiores êxitos, sendo igualmente nº 1 no Reino Unido, mas apenas nº 18 na Billboard.
Chegavam os anos 90 e Elton John, na casa dos 40, atinge uma maturidade que lhe permite transport o seu estilo para uma nova geração de amantes da música. É nesta década que grava alguns dos álbums e singles que mais venderam na sua carreira, com destaque para esta nova versão do seu antigo sucesso "Candle in the Wind", que voltou a gravar para o funeral da Princesa Diana, em 1997, e que vendeu 33 milhões de cópias em todo o mundo, entrando para o Guiness como o single mais vendido de sempre, e que lhe valeram o Grammy para melhor intérprete nesse ano. Foi ainda nesta década que assumiu em definitivo a sua homossexualidade, entrando numa união civil com o seu companheiro David Furnish, que se mantém até hoje, empenhou-se na participação ao combate do flagelo da SIDA, ganhou um Oscar em 1995 com "Can You Feel the Love Tonight", do filme "The Lion King", e para acabar em beleza ganhou um Grammy pela sua carreira, em 1999. Actualmente com 66 anos, já não grava com a mesma frequência que fazia há 30 anos, e dá menos concertos, mas tem um bonito currículo para se poder orgulhar quando olha para trás. E de facto é mesmo assim, pois quer gostemos ou não dele, merece pelo menos o nosso respeito.
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