domingo, 23 de fevereiro de 2014

Peido Agrunhoso


Esteve por cá o músico português Pedro Abrunhosa, que foi na sexta-feira ao Instituto Politécnico falar não sei do quê. Sim, o Pedro Abrunhosa esteve em Macau, é verdade, pois apesar de eu ter estado doente não tive febre, e por isso tenho a certeza que não se tratou de nenhum delírio. O cantor portuense (que na realidade é natural da Moimenta da Beira, distrito de Viseu) voltou ao território quase 19 anos depois do concerto que deu no Fórum, numa altura em que gozava do estatuto de "Salvador da Pátria" da música portuguesa, muito por culpa do seu disco de estreia "Viagens", que incluía os temas "Não Posso Mais", "Socorro", "É Preciso ter Calma", trá-lá-lá pimba para gente sofisticada, mas pimba na mesma. Nada contra o pimba, mas quem andou a eleger Pedro Abrunhosa como o supra-sumo do bom gusto e "Viagens" o disco que marcou o ano-zero da modernidade, enganou-se, e isto hoje está mais que provado.

Quem se recorda do concerto no Fórum, deve-se recordar também de uma tirada de Abrunhosa que ficou tristemente famosa, tal foi o ridículo a que o músico se sujeitou. Estávamos portanto em 1995, e na semana que antecedeu o Sábado em que se realizou o concerto, as autoridades chinesas detiveram Wang Dan, um dos estudantes que liderou o movimento estudantil da Praça Tiananmen em Junho de 1989, que viria a ser esmagado pelo exército. A certo ponto do concerto, Abrunhosa vira-se para o público e grita alto e bom som: "Eles agora prenderam o Wang Dan...amanhã podem ser vocês!". Fiquei sem perceber se este "amanhã podem ser vocês" significava que também nós podiamos ser presos - apesar de, e falo por mim, não ter estado em Pequim naquele dia de triste memória - ou se também nós podiamos prender o Wang Dan. Na falta de uma ponte com portagens em Macau para andar a berrar "não pagamos", Abrunhosa percebeu que estava na China e apelou aos estudantes do Liceu que se encontravam nas filas da frente para tomar de assalto o Gabinete de Ligação com o Governo Central e exigir direitos, liberdades, garantias, blá blá blá paguem-me mas é o caché que eu quero "boltar para o Puerto e comer uma francesinha, carago".

Nunca considerei "Viagens" um disco excepcional, apesar de ter achado que se tratava de uma surpresa agradável, e que a partir daqui o seu autor poderia partir para algo de genial, mas enganei-me. Em 1996 saíu "Tempo", que é mais ou menos a mesma coisa, mas com uma produção mais ambiciosa, e onde o cantor assume ser a versão portuguesa de Prince, o que se torna um paradox foleiro, uma vez que se fosse para nos aparecer um Prince, teria mais impacto uma meia dúzia de anos antes, pelo menos. Depois disso nem sei bem o que anda a fazer o Abrunhosa, que de vez em quando se presta a figuras tristes, e profere afirmações que levam a questionar a sua tão apregoada "acutilância". Quem é que se convenceu um dia que aquilo que o Pedro Abrunhosa tem para dizer vai mexer uma espiga que seja num milheiral? A verdade é que depois de ser elevado ao pedestal de "agitador das massas", hoje é apenas mais um daqueles tipos que vai fazendo pela vidinha. Tivesse ele mantido o crescendo de popularidade que adquiriu em 1994, e hoje estava em Belém no lugar de Cavaco Silva - e ainda bem que não está, digo eu. Mal por mal...

Mas desta vez veio cá, e não foi para cantar. Foi para falar no IPM sobre não sei do quê, como já fiz referência no primeiro parágrafo. De certeza que estavam lá muitos dos nossos orfãos da mãe pátria a escutá-lo, com um sorrisinho de orelha a orelha, e pouco importa o que ele dizia, pois nas cabecinhas saloias ecoavam as badaladas que soavam a "está ali o Pedro Abrunhosa...está ali o Pedro Abrunhosa". Pronto, pronto, calma lá com a ressaca, que já só faltam cinco ou seis mesinhos para irem injectar na veia o vosso Portugalinho. É que este Pedro Abrunhosa, actualmente com 53 anos, é demasiado infantil para ser levado a sério pela malta da idade dele, e muito "cota" para ser o "opinion leader" da geração mais jovem - ou qualquer outra. Nem estilo tem para tal pretensão, com aquele aspecto de Tio Fester mais magrinho. E que parvoíce é essa de usar sempre aqueles óculos escuros ridículos? O "segredo" (?) dos olhos dele é um segredo de polichinelo. Quem os quiser ver basta abrir o livro do CD de "Viagens" (quem o tiver) e lá está ele sentado no estúdio, e...esperem lá, não têm o CD ou não estão para se chatear em ir procurar? Então tomem lá:

Pronto, aí está. Uiiii...que medo. Espero que não tenham ficado hipnotizados. É que essa treta dos óculos já não tem piada nenhuma, e quem dera por exemplo ao José Cid ou ao Stevie Wonder não serem obrigados a usá-los. Artistas com carreiras longas foram sempre reinventando a sua imagem, e entre eles muitos que até sabiam cantar, quanto mais o Abrunhosa. Quando abre a boca sem ser para cantar, mais valia cantar, e o pior é que ultimamente quando abre a boca para cantar, mais valia ficar calado. A julgar pelo que leio das polémicas com que volta e meia se envolve com jornalistas e outras personalidades que, bem ou mal, pensam com uma cabeça cheia de cabelo e dentro dela alguma massa cinzenta, dá-me a entender que o Abrunhosa anda há muito com os neurónios constipados do frio. Mas pronto rapaz, não te aborreças, nem me atires os teus Globos de Ouro à cachola, que desconfio que não vais ganhar mais nenhum e depois vais ter saudades desses. E posto isto, o que é que eu vou fazer? Talvez F... .

2 comentários:

  1. mas que filme... que novela mexicana que vai aqui neste texto!
    É que, não foi mesmo nada assim!

    ResponderEliminar