quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Os sons dos 80: Mick Jagger


Já falta pouco para Jagger e as suas "pedras" virem "rolar" até Macau.

Agora que estamos a menos de um mês da actuação dos Rolling Stones na Arena do Venetian, gostava de falar do seu "frontman" de sempre, o carismático e sempre jovial Mick Jagger. Mas porquê dedicar um capítulo desta rubrica apenas a Jagger e não à banda toda? Por isso mesmo; falar dos Rolling Stones limitando-me aos anos 80 era como mostrar 15 minutos do meio de um filme de duas horas. Nesta década de 80 Jagger teve em paralelo com os seu trabalho nos Rolling Stones uma carreira a solo, bem como a participação em projectos com outros músicos. Uma vez que ficamos conversados quanto aos porquês, vamos ao que interessa.


Este miúdo parece neto do Mick Jagger...ou filho do Mr. Bean.

Michael Philip Jagger nasceu a 26 de Julho de 1943 e, Dartford, no condado inglês de Kent. Cresceu numa família da classe média, pai professor e mãe cabeleireira, e desde novinho já sabia o que queria. Ouvia os "blues" e o "rock'n'roll" que chegavam dos Estados Unidos, e enquanto os outros meninos cantavam no coro da escola, Jagger cantava em frente ao espelho, onde começou a desenvolver o seu estilo muito peculiar. Ainda na Escola Primária ficou amigo de um tal Keith Richards - conhecem-se desde que têm sete anos de idade - mas no liceu foram para escolas diferentes. Em 1960 reencontraram-se, começaram a trocar ideias sobre música e a tocar juntos, e em 1962 formam os Rolling Stones, um nome que retiraram de uma canção de Muddy Waters, um dos seus músicos favoritos e fonte de inspiração. Actualmente os únicos elementos fundadores que permanecem na banda. Depois foi aquilo que se sabe: foram em conjunto com os Beatles os pioneiros da "invasão britânica" que tomou de assalto a América entre 1964-65, e por esta altura na Grã-Bretanha eram mais populares que os Beatles. Jagger escrevia (e escreve) as letras para as composições dos Stones, enquanto Richards entra com a música. A dupla é a mais antiga e mais duradoura da história do "rock", com uma relação de altos e baixos. Curiosamente a fase mais crítica foi precisamente nos anos 80.


A ascensão ao estrelato aliada da rebeldia que evidenciavam sem que para isso fosse necessário sequer abrir a boca causaram alguns problemas aos Stones, que se viram a braços com a justiça várias vezes desde o início da sua carreira, a maior parte das vezes devido à posse e consumo de estupefacientes. A filosofia "junkie" acabaria por ter resultados trágicos, com o guitarrista Bryan Jones a deixar o grupo devido à sua forte dependência da heroína, que não conseguiu compatibilizar com a sua carreira. Um mês depois aparecia afogado na piscina da sua casa, naquilo que foi oficialmente estabelecido como "morte acidental". Na segunda metade dos anos 70 surge o "punk-rock", e os Rolling Stones começam a ser considerados pelo público mais jovens nada mais que uns "velhos milionários". Keith Richards continua a batalhar contra a dependência do álcool e drogas duras, enquanto Jagger vai aproveitando o estrelato frequentando o "jet-set", e era um dos clientes habituais do famoso "Studio 54" em Nova Iorque. A banda repensa a estratégia e lançam em 1978 o álbum "Some Girls", nº 2 no Reino Unido e nº 1 na Billboard Americana, e dois anos depois "Emotional Rescue", nº 1 em ambos os lados do Atlântico. Em 1983 lançam "Undercover", o primeiro longa-duração sob a sua própria etiqueta, e que permite que os elementos dos Stones tenham carreiras a solo, paralelas à banda. Mick Jagger diz "presente" e em 1984 grava com os Michael Jackson e os seus irmãos dos Jackson 5 o tema "State of Shock", o resultado de uma colaboração entre os Jacksons e Freddie Mercury, mas este estava na altura a trabalhar com os Queen em "The Works".


A experiência com os Jacksons agradou a Jagger, que gravou em 1985 o seu primeiro trabalho a solo, "She's the Boss". A ventura do vocalista dos Stones não agrada aos restantes elementos da banda, especialmente Keith Richards, que alegava que tinha ficado acordado entre os elementos que a banda teria prioridade sobre os projectos a solo, e que estariam a preparar o sucessor de "Undercover". E foi precisamente durante a produção de "Undercover" que começaram os probelams entre Richards e Jagger, pois o primeiro queria um som mais fiel às raízes "rock" e "blues" dos Stones, enquanto o vocalista queria "inovar", e fazer algo novo, mais condizente com a geração MTV, que nesse tempo ditava as modas. Mesmo com a censura de Richards e restantes, "She's the Boss" foi um êxito, chegando a nº 6 no Reino Unido e nº 6 do Billboard. Os dois singles que saíram da estreia de Jagger também não se deram mal; este "Just Another Night" fou nº 32 no RU e nº 12 da Billboard, enquanto "Lucky in Love" nº 91 e 38, respectivamente. O video do tema "Hard Woman" revela o carácter inovador e excêntrico de Jagger, com a utilização de um super-computador Cray. Foi na altura um dos videos mais caros de sempre.


Ainda em 1985 dá-se o Live Aid, e torna-se evidente o distanciamento entre Mick Jagger e os Rolling Stones. Em mais uma escapadela a solo, Jagger canta "It's only Rock'n'Roll" em dueto com Tina Turner, mas originalmente o plano era interpretar "Dancing in the Street", uma versão de um tema da banda feminina Martha and the Vendettas, de 1964, juntamente com David Bowie - um deles em Wembley, e o outro em Filadélfia. O problema é que devido à distância haveria um "lag" de um segundo, tornando impossível uma sincronização perfeita (ainda não estávamos na era da fibra óptica), e portanto a ideia foi abandonada. O video de "Dancing in the Street", que vemos em cuma, é considerado um dos mais bizarros da história. Os gestos de dança de Jagger e as calças de Bowie entraram para a galeria do pitoresco dos anos 80. Quanto à relação dos dois músicos, dizia-se muita coisa; a primeira mulher de Bowie, Mary Angela Barnett, diz que encontrou "os dois na cama juntos", se bem que outras versões contam que na realidade os dois estavam na cama, de facto, mas completamente vestidos, tendo adormecidos depois uma noite a encher os cornos de droga, persão, a trocar impressões musicais.


Em 1986 os Stones lançam o álbum "Dirty Work", com Jagger a juntar as partes vocais apenas depois do grupo ter gravado a música, e tudo indicava que se preparava para deixar a sua banda de sempre e prosseguir uma carreira a solo. Contudo essas intenções foram goradas com o fracasso do seu segundo registo a solo "Primitive Cool", onde contou com a ajuda de David Stewart, dos Eurythmics. O single "Let's Work" teve uma recepção aceitável, mas o LP ficou aquém das expectativas de Jagger, que esperava melhor ou igual que "She's the Boss". Desanimado, volta aos "seus" Rolling Stones, faz as pazes com Richards, e a banda que já tinha sobrevivido em quase 20 anos aos BEatles ganhava um novo fôlego, que os permite continuar "na estrada" todos estes anos depois.


Afinal este velho encarquilhado é que é o tal Mick Jagger???

É difícil não gostar de Mick Jagger, ou pelo menos respeitá-lo. Um músico com uma carreira que se extende por seis décadas (uma vida), com 70 anos de idade e que está prestes a ser bisavô (a sua neta Assisi, filha de Jade, por sua vez filha do cantor com Bianca Macias, está grávida), continua em cima de um palco aos pulos em poses provocatórias e a lamber os dedos - até os Maroon 5 lhe dedicaram o tema "Moves like Jagger", que fala das coreografias do cantor, tanto do agrado do público feminino. Não há reumatismo ou enfarte do miocárdio que o detenham. O que muitos nem mencionam é o valor de Jagger como modelo para todos os que, tal como ele, têm boca de pachacha - não deixem que essa anomalia interfira com uma vida que, tirando isso, pode ser completamente normal.

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