quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Os sons dos 80: Madness
A loucura original...
Os anos 70 trouxeram à Grã-Bretanha uma série de novidades vindas do império britânico, que se ia desagregando aos poucos, até à falência total no anos 80. O melhor que ia chegando vinha das Caraíbas, dos ritmos africanizados do "reggae", do "rocksteady" e do "ska", os sons urbanos das grandes metrópoles em alternativa ao "punk-rock", mais optimistas e mais dançáveis. Para os grupos e artistas jamaicanos, quer os nativos, quer os expatriados, entreter o público inglês era mais fácil que pescar peixe num barril. Influenciados pelo som dos trópicos (e atraídos pela fama, e pelo dinheiro, porque não?) surgiam ainda na velha Albion grupos dedicados ao "reggae", como os UB40, de que já falei aqui, ou ainda os Madness, um grupo inglês, formado em Inglaterra por ingleses, todos eles nascidos e criados em terras de Sua Majestade, e ainda por cima todos brancos (sim, e isso tem importância) que tocava música...ska! Isso mesmo, e como ska se fazem, cá se pagam (desculpem, foi fraquinha eu sei), os Madness obtiveram um enorme êxito, pelo menos enquanto a moda durou e não faltaram ideias. Adaptar a sonoridade do "ska" aos temas do quotidiano britânico foi talvez o seu maior triunfo, mas os Madness conseguiram ainda, e apenas através da música, chegar aos ouvidos de todos, como vamos ver de seguida.
Os Madness formaram-se no ano de 1976 em Camden Town, Londres, com o nome de The North London Invaders. Do alinhamento inicial constavam Mike Barson nas teclas e nas vozes, Chris Foreman na guitarra, Lee Thompson no saxofone e nas vozes, John Hasler na bateria, Chas Smash no baixo, e Dikron Tulane como vocalista principal. Este último sairia no ano seguinte para prosseguir a carreira de actor (pelos vistos não teve muita sorte) e foi substituído por Graham McPherson, ou Suggs, que seria o "frontman" dos Madness como os conhecemos. Em 1979, já com o nome de Madness, gravaram o primeiro single, "The Prince", uma homenagem a um dos seus ídolos, o músico jamaicano de "rocksteady" Prince Buster. A interpretação deste tema no programa "Top of the Pops" chamou a atenção do grande público para os Madness, que foram convidados mais tarde nesse ano a gravar o seu LP de estreia.
E assim surge "One Step Beyond...", considerado um dos melhores albums de estreia de uma banda, e um dos discos mais influentes de todos os tempos. A sonoridade "ska" e de outros ritmos caribenhos era mais que evidente, e foram vários os singles que sairam do álbum: "Night Boat to Cairo", "My Girl", e o próprio "One Step Beyond...", a faixa de abertura, que é um tema praticamente instrumental. Isso não os impediu e chegar ao nº 7 no Reino Unido e nº 76 da Billboard - nada mau, para um grupo britânico de "ska". Curiosamente em França foi nº 1 (por ser instrumental, apesar de inglês?). "One Step Beyond..." incluía ainda "The Prince" e o lado B desse single, "Madness", além de uma rendição muito mexida de "Swan Lake" - O Lago dos Cisnes. Para estreia não foi nada mau, chegando a atingir o nº 2 da tabela de álbums do Reino Unido.
Ainda no ano de 1979 lançam o EP "Work Rest and Play", que incluiu uma versão "maxi" do single "Night Boat to Cairo", que chega a nº 6 do top. Em Novembro dá-se um incidente durante um concerto, pois o grupo que fazia a primeira parte dos Madness tinha um vocalista negro, que começou a ser insultado por um grupo de "skinheads", ou "cabeça-rapadas", com ligações à National Front (NF), um partido de extrema-direita. Suggs saíu em defesa do cantor, mas no final tudo acabou com um grupo deles a fazer uma saudação nazista. O baixista Smash disse mais tarde numa entrevista que "pouco importava que os fãs fossem da NF ou de outra dnominação qualquer, desde que se divertissem". Isto foi entendido pela imprensa como uma ligação da banda ao partido extremist, que os seus elementos depois negariam. Este incidente daria origem ao tema "Don't quote me on that". Em 1980 sai o segundo album "Absolutely", que apesar de não ter o impacto da estreia, repetiu o 2º lugar no top britânico. De "Absolutely" sairam os singles "Embarassment" e este "Baggy Trousers", que foi nº 3 no top de singles. Uma canção muita "nutty", ou "maluquinha", como os próprios diriam.
Em 1981 sai o álbum "7", que não vai além do nº 5 da tabela de vendas do Reino Unido, e dele saem mais três singles: "Grey Day" (nº 4), "Shut Up" (nº 7) e "Cardiac Arrest" (nº 14). No ano seguinte sai a primeira colectânea dos Madness, "Complete Madness", que lhe vale finalmente o primeiro lugar da tabela de albums do Reino Unido, e não só: o seu novo single "House of Fun", incluído nessa colectânea, chega ao primeiro lugar do top de singles - o primeiro e único single dos Madness a conseguir esse feito. Um tema que ilustra bem a natureza do grupo; um ritmo "ska" com uma toada pop, muitos instrumentos de sopro e teclados, e um video bem divertido para apoiar a "loucura" colectiva.
Ainda em 1982, mais um disco de originais, "The Rise & Fall", onde encontramos este "Our House", que para mim é a melhor canção da banda - foi nº 5 no Reino Unido e nº 7 do Billboard. O album, que foi nº 10 no Reino Unido, inclui ainda o single "Tomorrow's (Just Another Day)". A popularidade dos Madness ia decrescendo, e os elementos do grupo iam pensando em projectos diferentes, e em 1984 sai o penúltimo album de originais antes do regresso definitivo da banda em 1999 - "Keep Moving". Foram lançadas duas versões diferentes para a Inglaterra e para os Estados Unidos, e so no primeiro caso chegaram ao nº 6 do top, na Billboard não conseguiram sequer entrar no top-100. O single "Wings of a Dove", de influência gospel, foi nº 2 no Reino Unido, "The Sun and the Rain" foi nº 5, "Michael Caine" nº 11 e "One Better Day" nº 17. Em 1985 "Mad not Mad" é o primeiro disco depois da saída de Mike Barson. Deste disco, que numa entrevista em 1993 Suggs descreveu como "uma bosta polida", sairam os singles "Uncle Sam", "Yesterday's Men" e "Sweetest Girl"
E a loucura "vintage"
Os Madness anunciaram o seu fim em 1986, depois de mais uma compilação, "Utter Madness". O grupo continuaria a explorar a mina das compilações até ao ano de 1993, quando faz o primeiro de muitos regressos, até ao regress definitivo em 1999, com o álbum "Wonderful". Mais envelhecidos e com um novo alinhamento, entraram no século XXI decididos a deixar a sua marca, e o disco de 2009, "The Liberty of Norton Folgate", foi nº 5 no Reino Unido, e assinalou o retorno da banda à grande forma. O registo mais recente é "Oui, Oui, Si, Si, Ja, Ja, Da, Da", de 2012. Da formação original só Hasler não faz parte dos Madness originais. E a loucura continua...
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