segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Os deuses devem estar loucos


Chandre Oram trabalha na colheita do chá que vive em Alipurduar, distrito de Jalpaiguri, no estado indiano de Bengala Ocidental. Desde 2006 que Chandre é objecto de devoção na sua aldeia, e tudo se deve a uma cauda de 33 cm que ostenta, situada junto da região lombar, e toda coberta de pêlos. A medicina explica a "cauda" com uma condição chamada "espinha bífida", que provoca um prolongamento da coluna vertebral, e que não é tão rara quanto isso; o caso de Chandre só difere dos restantes quanto à localização e ao tamanho, uma vez que nos casos conhecidos, essa extensão acontece no cóccix e não costuma ter mais de entre dez quinze centímetros, enquanto que neste encontra-se um pouco mais acima e é consideravelmente maior. Mas estes gajos da medicina que "só" têm a ciência para suportar a sua tese não entendem nada disto. Para os habitantes de Alipurduar isto só pode significar uma coisa: Chandre é a reencarnação do deus Hanuman, um "vanara" (meio homem, meio macaco) devoto de Rama e uma das divindades do panteão hinduísta. Para complicar ainda mais as coisas, vários textos indicam que o próprio Hanuman é também ele uma reencarnação de Shiva, um dos elementos da santíssima trindade hindu. Se ser uma reencarnação já é o que é, então ser a reencarnação de uma reencarnação é obra. É o duplo-jackpot da crendice pagã do politeísmo. Mas querem mais provas? O tal Chandre nasceu num dos dez dias do Rama Nahvani, quando se comemora o aniversário do deus Rama, uma espécie de Ano Novo Indiano. Acham coincidência? Seus ingénuos...

A sua condição causou-lhe problemas de ordem sentimental no passado, e foi rejeitado por mais de vinte mulheres que ficaram assustadas com a sua enorme "cauda" (porque era atrás, pois caso fosse à frente...), e acabou por casar em 2007 com uma jovem ainda menor, que "não teve escolha, pois os seus pais morreram e não tinha ninguém que cuidasse dela". Mal ia imaginar que se ia tornar numa princesa, esposa do deus-macaco. O casal tem um filho, que nasceu sem a "cauda" do pai. Os deuses não atendiam chamadas nesse dia, aparentemente. Chandre já teve a oportunidade de remover a sua "cauda", mas para quê? Assim juntava-se a esse mundo aborrecido das pessoas normais, e assim tem carne e fruta fresca de borla todos os dias, e no precisa de ficar na fila na padaria quando for comprar as parotas e os chapatis. Se me perguntam o que penso, duvido que Chandra seja um "deus", mas de "macaco" tem mais do que as aparências que todos temos, no fundo. Foi chato que os deuses não tivessem anunciado a Chandra a sua ascendência divina, mas pronto, mais vale a pena ser realeza entre os macacos do que plebeu entre os homens. E reparem o entusiasmo com que sobre àquela árvore, onde fica o seu trono.

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