domingo, 26 de janeiro de 2014
Os sons dos 80: Eurodisco
O género "disco" teve o seu expoente máximo nos finais dos anos 70 na América. Foram os dias loucos da "Febre de Sábado à Noite", da música dos Bee Gees, das lantejoulas, dos penteados extravagantes e das calças de boca-de-sino. Do outro lado do Atlântico, na Europa, aderia-se à moda, ao mesmo tempo que alguns artistas do velho continente tentavam contribuir eles póprios. Foi assim que apareceu o Eurodisco, e a sua ramificação italiana, o "italo-disco" (que vai merecer um "post" mais tarde durante esta semana), e que viria a fazer dançar os europeus até finais dos anos 80. É impossível contar aqui a história completa do fenómeno do Eurodisco, ou do Eurodance ou ainda Eurobeat, como também lhe chamaram nos anos 90, desde as suas origens e sem deixar de fora alguns dos seus maiores nomes, mas ficam aqui registados alguns dos momentos altos da moda que deixou a Europa a dançar nos anos 80.
As primeiras manifestações da Eurodisco tiveram como veículo de divulgação o Festival da Eurovisão. Os suecos ABBA deram o mote com a vitória em 1974, com o tema "Waterloo", e foram autores de clássicos que fizeram dançar os fãs da "disco" em todo o mundo, como "Voulez-Vous", "Dancing Queen" ou "Gimme, Gimme, Gimme". Outro vencedor da Eurovisão que propunha um ritmo europeu dançável foram os holandeses Teach-In, que venceram em 1975 com "Ding-a-Dong". O expoente máximo deste novo som de dança terão sido os alemães Dschinghis Khan, que surgiram em 1979 no Festival com o tema homónimo, um sucesso que se estendeu pelos quatro cantos do globo, e ainda repetiram a gracinha com o single "Moscow", em 1980. A estrela da companhia era Louis Potgieter, o "Gengis Khan" de serviço, que viria a morrer vítima de SIDA em 1993, aos 42 anos.
Do que se fazia quanto a música de discoteca na Holanda, na escola dos Teach-In, o destaque no início dos anos 80 vai para os Video Kids, que fizeram furor com o tema "Woodpeckers from Space", literalmente "os pica-paus do espaço". Parece uma anedota, mas a verdade é que este single foi nº 1 na Espanha, Noruega e...Portugal. Malta jovem nascida nos anos 90: se querem uma prova da foleirice que foi a geração dos vossos pais, aqui está ela. Aproveitem para rir na cara dos "cotas". "Ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ahahaha-ahahaha"..pois, pois.
Mas seria da Alemanha que viriam os nomes grandes do Eurodisco. Com o patrocínio da revista Bravo, completamente escrita em alemão e com as páginas a cheirar a caruma de pinheiro, era religiosamente adquirida pelos jovens europeus da moda, ávidos dos "stickers" e dos "posters" que saíam em cada edição, que em muitos casos divulgavam artistas alemães que cantavam em inglês. Entre estes, um dos primeiros que alcançaram sucesso internacional foram os Alphaville, que se imortalizaram com a balada "Forever Young", e que se tornaria seu cartão de visita. Enquanto isso as pistas de dança europeias "curtiam" outros temas da banda de Hereford, como "Big in Japan" ou este "Sounds like a melody".
Outra alemã, Sandra Ann Lauer, que viria a ser conhecida no mundo musical apenas pelo primeiro nome, fazia sensação com "(I'll Never be) Maria Magdalena), que seria nº 1 em muitos países do continente europeu, mas seria esnobada pelos britânicos, que nunca a deixaram passar de um modesto nº 87 do top do Reino Unido. Sandra fez parte do trio Arabesque, fundado em 1979 e que fazia da música "disco" o seu negócio, e foi nessa altura que conheceu o seu futuro marido Michael Cretu, que a lançaria numa carreira a solo. No auge da sua carreira, em meados dos anos 80, Sandra chegou a vender mais discos que Madonna, imaginem. Michael Cretu era além de produtor de Sandra um músico independente, que depois de uma discreta carreira a solo criou em 1990 o projecto Enigma, que lhe valeria reconhecimento internacional.
Ainda da Alemanha chegavam em meados dos anos 80 os Modern Talking, um duo composto por Thomas Anders e Dieter Bohlen, que tomaram de assalto a Europa com o single de estreia "You're my Heart, you're my Soul", em 1984, e "You can win if you want", no ano seguinte. Os dois temas chegaram a ocupar os dois primeiros lugares do top português no Verão de 1985, e faziam parte do primeiro disco do grupo "The 1st album", que seria o primeiro de cinco álbums de originais dos Modern Talking em três anos, até 1987, altura em que "sumiram do mapa" até 1998, quando regressaram com "Back for Good". Do terceiro trabalho, "Ready for Romance", assinala-se este "Brother Louie", que foi nº 1 na Alemanha, Espanha e Suécia, e venceu a arrogância do top do Reino Unido, chegando a um honroso 4º lugar.
Fora da Alemanha, mas nos arredores, uma das grandes sensações da época foram os austríacos JOY. Originários da pequena localidade de Bad Aussee, com uma população de 5 mil habitantes, obtiveram os seus 15 minutos de fama com o single "Touch by touch", que seria disco de ouro na sua Áustria natal, bem como em Portugal e Espanha. Este era um tempo em que as modas eram difíceis de entender, mas os JOY rivalizavam com os Opus (Life is Live, la-la-la-la-lala, lembram-se?) e com Falco pelo lugar de maior número musical vindo do país de Mozart.
Outro fenómeno passageiro da Eurodisco foi CC Catch, nome artístico da holandesa Caroline Catherine Müller, que gravou cinco álbums entre 1985 e 1989. Descoberta por Dieter Bohlen, o loirinho dos Modern Talking, um dos seus maiores sucessos foi "Heartbreak Hotel", do seu segundo trabalho de originais, "Welcome to the Heartbreak Hotel".
Já durante o ocaso do Eurodisco, surge Desireless, nome artístico de Claudie Fritsch-Mentrop, que lança em 1987 lança este single "Voyage, voyage", que não podia servir de melhor epílogo à moda "disco", quer na sua versão norte-americana, quer na sua versão europeia: "bon voyage", ou em bom português, "adeus, ó vai-te embora".
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