sábado, 30 de novembro de 2013

Motivos de segurança


Foram apresentadas esta quinta e sexta-feira as LAG para a área da Segurança, com a presença do Secretário da tutela, Cheong Kwok Va, bem como da nata dirigente das polícias de Macau. É caso para dizer que foram os dois dias do ano em que o hemiciclo dos Lagos Nam Van estiveram mais seguros. Estas devem ser as LAG mais ingratas para os deputados da AL. O que sabem eles sobre o assunto? O que se passa no submundo do crime organizado? O trabalho que é necessário para que possam circular na via pública em segurança, ou para dormirem descansados à noite? O que sabem eles que qualquer cidadão mais ou menos bem informado não saiba também? Algum deles fez parte da polícia ou do pessoal militarizado? Ironicamente alguns deles teriam mais rapidamente problemas com a polícia do que fazer parte dela.

Cheong Kwok Va é juntamente com Florinda Chan e Francis Tam um dos "resistentes" às alterações do xadrez político da RAEM, desempenhando a mesma função desde Dezembro de 1999, altura da entrega de soberania. Diz quem o conhece que Cheong Kwok Va é um homem honesta, foi um agente policial correcto, honesto, referido como um incorruptível, e que recebeu vários louvores e distinções durante os tempos da administração portuguesa. Era a pessoa indicada para esta tutela, e até agora tem-se pautado pela discrição, sem muita sede de protagonismo. Achei encantadora a forma como o Secretário delegou aos seus subordinados a resposta às perguntas dos deputados. A pergunta é sobre o combate ao tráfico de droga? Passo a palavra ao sr. director da Polícia Judiciária. Crime transfronteiriço? Responde o sr. director dos Serviços de Alfândega. Sobrelotação na prisão? Faça favor, sr. director do Estabelecimento Prisional de Macau. Cada macaco no seu galho. E porque não?

Uma frase que marcou a apresentação destas LAG para a Segurança, e proferida pelo seu próprio responsável máximo: "a polícia limita-se a cumprir as leis que os outros fazem". Isto resume em poucas palavras a função do agente policial: cumprir e fazer cumprir a lei, e pouco importa se pensa que está certa ou errada. Eliot Ness, o agente do Tesouro Americano, o antecessor do FBI, ficou conhecido como o homem que colocou o gangster Al Capone atrás das grades. A sua missão era fazer cumprir a Lei Seca, imposta na América dos anos 20 e que proibiu o consumo de bebidas alcoólicas, e combater o produção e distribuição clandestina de álcool. Quando lhe disseram que a Lei Seca ia ser levantada, e perguntaram o que pensava fazer depois, Ness respondeu: "acho que vou beber um copo". É assim o polícia que se preze. Pode gostar da fruta, mas se for contra a lei que se comprometeu a cumprir e fazer cumprir, não lhe toca com um dedo.

Penso que Cheong Kwok Va tem feito um bom trabalho. Nem mau, nem excelente, vá lá, digamos que tem sido positivo. Macau continua a ser uma cidade segura ao ponto de fazer inveja a outras regiões vizinhas. Estará menos segura que há cinco ou dez anos, mas a cidade cresceu bastante. O aumento da criminalidade tem acompanhado o crescimento de Macau a um ritmo que se pode considerer "normal". Os que se recordam dos tempos do "faroeste", entre 1997 e 1998, altura da guerra das seitas, sabe que estamos mais seguros agora. Mesmo a problemática da droga, o grande cavalo de batalha dos que querem apontar o dedo à segurança mas não têm outros argumentos, não é to grave como nos territórieo ou regiões vizinhas. Não temos por aqui nenhum Casal Ventoso ou algo semelhante, e olhem que já chegamos a ter. A criminalidade informática e a burla, situações que têm sido cada vez mais frequentes, são dificilmente imputáveis ao sr. secretário. Não lhe compete ir educar a população para que não confie nos contos do vigário. Se há gente burra que cai nesses truques, não será por culpa de Cheong Kwok Va.

Não foi um ano fácil para as Forças de Segurança, nomeadamente para a PSP. Tivemos os célebres casos do comandante embriagado que obrigou os seus cadetes a fazer flexões num silo automóvel, ou o comportamento irregular dos agentes da autoridade durante algumas manifestações, nomeadamente o 1º de Maio ou a visita de uma alta individualidade do estado chinês. Responsabilidades que devem ser imputadas ao comandante da PSP, e que resultam de uma certa confusão que existe quanto às directivas a cumprir pela polícia, que também não vê o seu trabalho facilitado pela classe política. Em resumo, a polícia não sabe muito bem como agir no contexto do politicamente correcto. As questões levantadas pelos deputados prendem-se sobretudo com a falta de pessoal, com o aumento residual de certa criminalidade, enfim, tudo "lana caprina". Daquilo que é essencial, ou seja, as medidas que as Forças de Segurança tomam para que fiquemos protegidos de males maiores, os deputados pouco ou nada sabem. Nesse aspecto pode-se dizer que o segredo é a alma do negócio, e os agentes no abrem o jogo. Por motivos de segurança, claro. Compreende-se.

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