segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Cara d'anjo mau
Foram apresentadas esta tarde na AL as linhas de acção governativa para a Economia Finanças, que contaram com a presença do secretário da tutela Francis Tam, que se fez acompanhar do seu séquito da área Alcoólica e Bagaceira, perdão, Económica e Financeira. Do diz-que-disse habitual, um dos temas fortes foi, como não podia deixar de ser, o emprego e a mão-de-obra, nomeadamente a questão dos trabalhadores não-residentes, o cavalo de batalha da gente ignorante que prefere enveredar pela via do populismo, quando qualquer idiota com um terço da capacidade cerebral de uma anta sabe bem que sem a mão-de-obra importada é impossível Macau funcionar.
Cai sempre bem aos pseudo-políticos do burgo agitar as massas acenando com a bandeira da xenofobia, culpando os trabalhadores não residentes por todos os males do mundo, acusando-os de "retirar o emprego aos locais". São um perigo, estes não-residentes, que vêm para cá ganhar fortunas como 5 ou 6 mil patacas mensais por 12 horas de trabalho diário, com uma folga ou menos por semana e 11 dias de férias anuais, a maioria deles sem direito a bónus, assistência médica gratuita ou muitos outros dos direitos dados como garantidos pelos residentes de Macau. Como ousam estes imigrantes do Sudeste asiático limpar a nossa casa, cuidar dos nossos idosos, levar os nossos filhos à escolar e servir às mesas dos restaurantes em troca de um salário igual ou inferior ao subsídio de desemprego de muitos dos nossos trabalhadores locais sem trabalho, coitadinhos? Como se atrevem estes operários do continente a trabalhar de sol a sol, sem intervalos ou dias de descanso por metade do se paga aos locais, que fazem pausas para o pequeno-almoço, almoço e lanche, queixam-se do calor, da chuva , do frio, acham algum do trabalho "muito pesado", e exigem ir para casa às seis da tarde? Ao que o mundo chegou, minha gente.
Muita da "inteligenzia" mais consciente de que apenas com os locais metade do comércio de Macau tinha a porta fechada, incluíndo os hotéis e os casinos, aponta o dedo ao sector pró-democrata, nomeadamente à Associação do Novo Macau, que acusam de adoptar um discurso xenófobo. Não vou aqui discutir se têm ou não razão (é claro que estão mais iludidos que alguém que acabou de tomar uma "trip" de ácido), mas vamos imaginar que têm (não, estão errados). Nesse caso, Ng Kwok Cheong e seus pares são meninos de coro quando comparados a esta menina na imagem de cima. Song Pek Kei, aquela criatura angelical que vemos na imagem, conseguiu em dois minutos ser mais racista e xenófoba do que os deputados do Novo Macau em 15 anos. O seu discurso de ódio contra a mão-de-obra estrangeira que nem a capa da defesa dos trabalhadores locais disfarçou leva-me a pensar que a sua leitura de mesinha de cabeceira é o "Mein Kampf", de Adolf Hitler. Ponham legendas em francês naquilo que ela disse e a Marine Le Pen tirava notas. O PNR, o diminuto partido português de extrema-direita, viria até cá para ter aulas com a menina Song. Em muitas jurisdições por esse mundo fora, aquelas onde se respeitam os direitos humanos e civis, teria sido presa mal acabasse de debitar as alarvidades que ouvi sairem da sua boquinha de passarinho esta noite.
Segundo a menina Song, a quantidade de mão-de-obra estrangeira em Macau tem um impacto que vai muito além do mercado de trabalho. Parece que estes imigrantes têm ainda influência no preço da habitação e dos bens de consume, além de "incomodarem" os residentes com os seus comportamentos, derivado das suas diferenças culturais. Não disse que são poluição visual por causa da sua etnia diferenciada, mas aposto que pensou. Portanto está explicado: a culpa da especulação imobiliária e da inflação é desses malandros dos filipinos, indonésios ou trabalhadores do continente, que partilham diminutos apartamentos aos dez de cada vez, e vivem com pouco mais de 20 patacas diárias - os que podem. E por isso o governo "deve limitar a contratação de trabalhadores não residentes", diz a senhora deputada. Esqueçam lá os 40 mil trabalhadores que o território vai precisar nos próximos dez anos, que a menina Song e a sua malta de Fujian fazem as vezes. Chegam muito bem para a encomenda, e nem sequer são de fora. Para quem não sabe, Fujian fica ali para os lados de Coloane, perto do Parque Industrial da Concórdia, onde a menina Song faz planos de construír os fornos crematórios onde vai fazer sabão com essa escumalha não residente que por aí anda.
Song Pek Kei foi a maior surpresa destas eleições. Como número três da lista da Associação dos Cidadãos Unidos, de Chan Meng Kam, a grande vencedora das eleições de 15 de Setembro, nunca lhe passou pela cabeça ser eleita. Saiu-lhe na rifa, portanto. A jovem menina Song tem apenas 28 anos, sabe muito pouco da vida. Isto podia servir-lhe de desculpa, não fosse pela gravidade do teor das suas afirmações. Não quero pensar que o seu discurso traduz a opinião generalizada da população de Macau, prefiro nem pensar nisso. Se é isto que pensam as gentes de Macau, se é esta a agenda de Chan Meng Kam, que convenceu o eleitorado em número que chega e sobra para lhe conferir credibilidade, tenham medo, tenham muito medo. Qualquer dia o melhor é andar armado, não nos vão cair as SS em cima. Queriam saber como eram os novos deputados eleitos no último sufrágio? Ora aqui têm um exemplo. E começamos mal.
Foi inacreditável o discurso desta imbecil. Nunca tinha ouvido nada tão racista e xenófobo.
ResponderEliminarAquela parte de ela ficar incomodada por eles ocuparem os espaços públicos foi o cúmulo.
Com esta gente devemos agradecer não existir sufrágio universal.
Inqualificavel!
ResponderEliminarA melhor peça de sarcasmo sobre imigração que já vi:
ResponderEliminarDoug Stanhope