terça-feira, 19 de novembro de 2013

A receita do sucesso


Faltam pouco mais de duas horas para o Suécia-Portugal, o jogo decisive na qualificação para o mundial de 2014 no Brasil. Em Portugal e um pouco por todo o mundo, por onde se espalha a nossa diáspora, os olhos e os corações vão estar em Estocolmo, onde a nossa selecção procura garantir a quarta presence consecutiva em fases finais de mundiais. Não nos passa pela cabeça nem sequer por um instante que Cristiano Ronaldo e companhia não estejam no mundial do próximo ano, mas só para dar uma "forcinha", como dizia o mítico José Estebes, gostava de recordar uma outra qualificação, que curiosamente também envolvia os suecos, se bem que indirectamente, e foi obtida com muito sangue, suor e lágrimas.

Foi a 16 de Outubro de 1985, já lá vão mais de 28 anos, e Portugal jogava o tudo ou nada no Neckerstadium de Estugarda, frente à poderosa selecção da Alemanha Federal, finalista do mundial de 1982 em Espanha, e que contava nas suas fileiras com nomes sonantes, desde a baliza, onde estava o "gigante" Harald Schumacher, até ao ataque, onde pontificavam Karl-Heinz Rummenigge e Pierre Littbarski, passando por Andreas Brehme, Karl-Heinz Förster ou Hans Peter Briegel. O treinador era o mítico Franz Beckenbauer, e com todos estes argumentos, a partida afigurava-se como um verdadeiro David contra Golias, com os teutónicos amplamente favoritos.

Os alemães lideravam o grupo com 11 pontos, contra 8 de Portugal e sete da Suécia, e aos portugueses só interessava ganhar, pois era o último jogo, e outro resultado que não a vitória deixava-nos a depender de pelo menos um empate na partida entre a Malta e a Suécia, que de disputava um mês depois. Depender de Malta não era o mesmo que depender "da malta", e só levando os dois pontos de Estugarda era possível ambicionar com a ida ao México. Portugal alinhou de início com Bento, João Pinto, Frederico, Venâncio, Veloso, Inácio; José António, Mário Jorge, Jaime Pacheco, Carlos Manuel; Gomes. Muitas cautelas defensivas para quem precisava de ganhar, mas o treinador José Torres, o "bom gigante", dizia apenas "deixem-me sonhar".

A partida foi morna, com os alemães no controlo das operações, remetendo os portugueses ao seu meio-campo, espreitando o contra-ataque sempre que possível. Seria preciso um momento de inspiração para levar de vencido este poderoso adversário, foi o que aconteceu aos 10 minutos da segunda parta, quando a defesa portuguesa recupera uma bola, Carlos Manuel corre metade do campo e remata a uns bons 30 metros da baliza, deixando Schumacher pregado ao chão enquanto a bola entra no ângulo superior direito da baliza. Seguiu-se mais de meia-hora de sofrer a bom sofrer, mas no fim Portugal garantiu a primeira presença numa fase final do mundial em 20 anos.

Hoje não vai ser necessário um "milagre" como naquele dia no Neckerstadium. Portugal tem mais argumentos que os suecos, parte em vantagem e tem tudo para estar no próximo ano no Brasil. No entanto vamos recordar o espírito daqueles heróis, que fizeram das tripas coração para dar uma grande alegria à nossa pequena grande nação. Daqui de Macau, onde o jogo tem o seu pontapé de saída às 3:45 da madrugada hora local, contribuimos com as nossas preciosas horas de sono para ficar a torcer pelos nossos rapazes. Vamos a eles. Força Portugal!

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