quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Wir sprechen Deutsch!


Uma das coisas de que tenho pena foi nunca ter aprendido alemão. A sério, adoro a musicalidade daquela língua, a sua aparente complexidade, a pronúncia seca e agressiva, o respeito que se impõe quando se entra numa sala e se começa a falar alemão. Foi frustrante crescer a escutar Falco e Nina Hagen sem entender uma palavra do que diziam. No 10º ano escolhi Alemão como segunda língua, mas não havia alunos em número suficiente para formar uma turma – até aposto que era eu o único interessado. Típico do tuga, sempre com medinho daquilo que é apenas aparentemente difícil. E assim andei cinco anos a levar com Francês no liceu, essa mariquice com os seus “oui oui” e “ulala”. Falo francês mais ou menos bem, mas não me orgulho disso. Eu que eu queria mesmo era falar alemão, mein gut.

E no fundo o alemão não é assim tão difícil. É uma língua germânica, tal como o inglês, e ambas assemelham-se em estrutura gramatical e mesmo em muito do vocabulário. Assim “water” é “wasser”, “thanks” é “dank”, “red” é “rot”, e por aí fora. Mesmo algumas palavras do léxico português mais popular são derivadas do alemão. A palavra “scheiße”, por exemplo, um palavrão feio em alemão, deu origem ao nosso “chiça”, uma versão mais “light” de “f…-se”. Aquela coisinha engraçada que notamos quando lemos (quer dizer, vemos…) algo escrito em alemão, o “ß”, corresponde ao nosso “ss”. Não intimida tanto como o “ñ” dos espanhóis, equivalente ao nosso “nh”. Há quem diga que aprender alemão “não é útil”, pois apenas se fala na Alemanha, Áustria e parte da Suíça, mas por essa lógica que utilidade tem aprender Francês? Para podermos comunicar melhor com os camaroneses e senegaleses?

Os alemães são um povo simpático, inteligente e laborioso. Produzem automóveis, electrodomésticos e equipamento de som de elevada qualidade, e são uns tipos que adoram trabalhar, apesar do frio que dá mais vontade de ficar na caminha. Perderam duas guerras mundiais, e lá por causa disso ficaram a choramingar? Nein! Arregaçaram as mangas e levantaram a economia, ao ponto de chegarem a maior potência económica na Europa. Actualmente os países da União Europeia em crise apontam o dedo à Alemanha e à chanceler Merkel. Querem que ela faça o quê? Que peça desculpa pelo rigor e pela disciplina dos alemães, que os leva a ser mais ricos que nós? Que faça os alemães trabalhar mais para nos pagarem a casa, o carro e as férias, enquanto não mexemos uma palha? “Schlecht Mary”, que é como quem diz “mau Maria”, em tradução livre.

Quem não gosta da Alemanha e dos alemães apressa-se a atirar-lhes na cara o seu passado recente, o nazismo, o holocausto, etcetera etcetera. É curioso como o neo-nazismo e o culto por Adolf Hitler são actualmente mais comuns fora da Alemanha do que no país onde floresceu o terceiro Reich. Mesmo os que acusam os alemães de serem “racistas e xenófobos” fazem-no porque não conhecem os sérvios, os polacos, os gregos ou os húngaros, falando apenas da Europa. Os que falam de “arrogância” da parte do povo alemão não deve ter convivido com os franceses ou com os ingleses, que coincidentemente foram “vítimas” dos Nazis no tempo da II Guerra Mundial. A Alemanha é hoje um país tolerante e multi-cultural, ponto de excelência da imigração, e na maioria de países árabes e africanos, imaginem, que são perfeitamente integráveis, desde que venham para contribuir com o seu trabalho. Basta olhar para a actual selecção de futebol da Alemanha para perceber isto. Mesmo a delegação olímpica alemã nos últimos jogos em Londres continha atletas negros e de origem turca, além de outras origens.

Agora que nos aproximamos do Oktoberfest, que para os alemães significa o fim de mais uma boa colheita e para nós salsichas e bebedeira, cresce a simpatia com os teutónicos. Enquanto se enche a boca de enchidos com um nome impronunciável e joelho de porco, e as canecas de cerveja, perdoa-se tudo e mais alguma coisa que os alemães tenham feito no passado. E qual é o problema, se eles não negam esse passado e até pediram desculpa pelos seus erros, e ainda nos deram os Mercedes e a Adidas em troca? Já os acho bastante simpáticos comunicando com eles em inglês, e sendo um povo educado, dominam essa língua franca sem exigir a ninguém que fale alemão. Mas caso falasse essa língua fantástica, tenho a certeza que conseguia entrar melhor no seu mundo. E isso era mesmo “lässig“, que é como quem diz, fixe. Ja? Ich gut?

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