sexta-feira, 27 de setembro de 2013
O pai canta, o filho desencanta
Li Shuangjiang é um general honorário do Exército de Libertação chinês, uma personalidade querida em todo o país, e que se celebrizou como intérprete de canções patrióticas, uma forma de encorajar as tropas que remonta aos tempos do maoísmo, mas ainda muito popular na China. A própria mulher do actual presidente Xi Jingping, Peng Liyuan, primeira dama da China, era cantora de temas patrióticas. Só que enquanto Li se entretinha a motivar o exército, esqueceu-se de dar uma educação ao seu filho, Li Tianyi, este jovem de 17 anos com cara de anjinho que foi agora condenado a dez anos de prisão. E o que fez este puto com carinha laroca que nunca fez a barba, quanto mais cometer um crime passível de tamanho castigo? Foi o cabecilha de uma violação em grupo que deixaram uma jovem muito mal tratada. Quem diria.
Li Tianyi e quatro amigos conheceram a jovem, apenas identificada pelo apelido Yang, num bar em Pequim em Fevereiro último, e os cinco estiveram a beber juntos. De seguida foram para um hotel onde obrigaram a jovem a ter relações sexuais, enquanto a agrediam. No final da orgia pagaram-lhe 2000 yuan, mas Yang, sentindo-se combalida, acabou a noite no hospital, onde lhe foi diagnosticado traumatismo facial e concussões no crânio. Durante o julgamento a defesa alegou que Yang era uma prostituta, e por isso acedeu a ir até a um hotel com três desconhecidos, e no fim de contas até foi paga – faz todo o sentido. Mas explicar o estado lastimável em que a jovem foi deixada foi mais difícil, e a justificação de que “estava demasiado bêbado para se recordar do incidente”, dada por Li Tianyi, não foi suficiente para convencer o juíz. A vítima diz que se recusou a acompanhar o grupo até ao hotel, e terá mesmo tentado fugir quando se apercebeu que da bebedeira não ia sair nada de bom, mas foi agredida por Li com um estalo, e temeu que o grupo a maltratasse logo ali na rua.
Apesar de ter ficado provado que o jovem “príncipe” foi o organizador do forrobodó, outro dos seus cúmplices foi condenado a doze anos de prisão, por ter infligido os ferimentos mais graves a Yang. Os outros dois foram condenados a três anos de pena suspensa. São todos adolescentes, menores de 18 anos. O caso gerou a indignação da opinião pública chinesa, e originou um debate público sobre até onde pode ir a impunidade de que certas elites e as suas famílias gozam no país. Li Tianyi já tinha sido condenado a um ano de priso com pena suspensa em 2011 quando agrediu um automobilista depois de uma disputa por um lugar de estacionamento – quando tinha apenas 15 anos, e sem carta de condução. Depois disso ainda causou furor ao publicar na internet fotos do seu BMW personalizado, ostentando o seu estatuto de “menino-bonito” das famílias próximas do círculo do poder, dos herdeiros das figuras de proa do regime. Enquanto isso, o pai cantava para as tropas. Agora durante dez anos vai cantar para o passarinho…na gaiola.
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