sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Desisto, logo insisto


Chega ao fim mais uma semana de Bairro do Oriente, o mural mais porco da RAEM, replete de tretas sem importância nenhuma. Mesmo assim, e para quem acha que dez patacas são mais bem gastas numa Super Bock fresquinha do que num jornal, deixo-vos com o artigo de ontem do jornal Hoje Macau, e completamente de graça. Aproveitem bem o fim-de-semana prolongado!

I

Realizaram-se no Domingo as eleições para a quinta legislatura da RAEM, que elegeu para a Assembleia Legislativa 14 deputados pela via directa, e 12 pela via indirect. Desta última “eleição” é melhor nem falar, mas da primeira, que dependia do voto popular, podem-se fazer muitas leituras, e retirar as devidas conclusões. Os resultados foram surpreendentes, e deram origem a uma transformação enorme na composição do orgão legislativo de Macau. Fiquei desiludido com estes resultados, que revelam acima de tudo duas coisas: o sectarismo da maior parte do eleitorado, e o desinteresse dos mais jovens pelo sufrágio. As forças mais votadas foram aquelas ligadas a associações de cariz tradicional, e as únicas que subiram ou aumentaram a sua representatividade no hemiciclo estão ligadas a sectores laborais, empresariais e de pendor regionalista, o que vem mais uma vez provar que a tendência é para os eleitores votarem em quem os pode ajudar, e não numa plataforma mais abrangente e menos comprometida com interesses específicos. Já se sabe que em Macau no existem partidos políticos, e é uma ingenuidade pensar que se consegue ser eleito sem o apoio de associações que tenham um respeitável número de membros e simpatizantes, mas este egocentrismo é uma machadada nas pretensões de vir a ter um dia em Macau o sufrágio directo e universal para a Chefe do Executivo e para todos os deputados da AL. Dessa forma ia mandar em Macau quem tivesse mais eleitores a trabalhar para si, directa ou indirectamente, mais dinheiro e mais influência. A participação ficou abaixo das expectativas, e apesar de existirem mais eleitores que em 2009, a adesão às urnas foi inferior. E quem preferiu ficar em casa ou dar um pulinho à praia, já que fazia até bastante calor? Sobretudo o eleitorado mais jovem, que acha que esta coisa de eleições lhes diz muito pouco, ou mesmo nada. Esta é a única oportunidade que os residentes têm de dizer de sua justiça, de participar na vida política do território. Deitar fora esta oportunidade é estar a deitar fora o nosso futuro. Quem sabe se essa persistência em implementar em Macau valores democráticos de inspiração ocidental seja um erro. Começo a ficar convencido que isto da democracia, dos sufrágio directo e universal, da escolha livre, é algo que não se adapta ao paladar local. É como se a democracia fosse uma bota tamanho 40, mas eles calçassem o 42. Como já disse, estou desiludido, e considero que estas eleições são uma página negra na História da nossa democracia de arenque. Mas pelo menos fiz o que a minha consciência mandou, e enquanto for possível votar, continuarei a fazer o mesmo, e nunca irei embarcar no faccionismo e no populismo. Se quem o fez achou que está certo, então faça bom proveito.
II

Fez no último dia 13 um ano desde que comecei a assinar esta coluna, que tem chegado aos prezados leitores todas as quintas-feiras sem falta. Apesar do contributo que dou ao Hoje Macau ser apenas como colaborador, sinto-me parte desta equipa, e por vezes dou por mim a defender o jornal quando alguém o critica, ou menospreza a sua importância como media em língua portuguesa de referência neste território do sul da China. Mesmo quando um dia já não for possível continuar a escrever neste espaço, seja por razões do foro pessoal ou por decisão do próprio jornal, terei sempre a maior consideração pelo Hoje e pela sua equipa, e espero que mantenha a mesma linha editorial que o torna tão especial, tão único, e independente, dentro das limitações que nunca permitem que um meio de comunicação seja completamente independente. Tenho recortado e encadernado os artigos da edição impressa, e assim fico com qualquer coisa para mostrar aos netos. Perdoem-me se estou a parecer arrogante, mas quem me conhece e sabe que sou uma pessoa simples e acessível, perdoa-me uma pequena vaidade. Quando estava no 10º ano, a nossa professora de Jornalismo levou-nos ao Diário de Notícias, num tempo em que fazer um jornal não tinha nada a ver com a actualidade. Quando o funcionário do DN que nos servia de cicerone nos levou à redacção, senti uma espécie de calafrio, e disse-lhe: “um dia vou escrever para um jornal, sabia?”. O tipo passou-me a mão na cabeça enquanto dava uma risadinha e retorquiu num tom paternalista: “claro que vais…mas vais ter que estudar muito, sabias?”. Não me recordo do nome do senhor, nem tão pouco da sua cara, mas o seu ar trocista ficou-me na memória. Se por algum acaso ele ainda for vivo e estiver a ler estas linhas, aqui estou eu, e com o mesmo entusiasmo da primeira hora. Quanto aos estimados leitores, obrigado por me continuarem a aturar, e desculpem qualquer coisinha. Até para a semana!

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