sábado, 28 de setembro de 2013

A segunda morte de Diana


Está aí o tão aguardado filme sobre Diana Spencer, a princesa de Gales, desaparecida em Agosto de 1997 após um acidente de automóvel em Paris. Diana tornou-se membro da família real britânica quando casou com o Príncipe Charles, herdeiro do trono, e com ele teve dois filhos: William e Harry. O casamento real, um verdadeiro conto de fadas, ficou marcado por rumores da infedilidade de ambos, e terminaria em divórcio, em 1995. Apesar de Charles ter também a sua quota de responsabilidade, eram as escapadelas amorosas de Diana que mereciam a atenção dos tablóides, e tornaram-na alvo preferencial de "paparazzi" e caçadores de prémios, que a seguiam para toda a parte em busca de uma foto onde surgisse na companhia de mais um interesse amoroso, ou em poses compromotedoras. Além dos escândalos, Diana ficou conhecida pelo seu trabalho humanitário, o seu carinho pelos mais pobres e desfavorecidos, e mais celebremente por ter dado a cara pela campanha de desminagem em Angola. A sua popularidade fizeram-lhe ficar conhecida como "a Princesa do Povo", o que não era muito bem visto pela família real, conservadora e pouco dada a este tipo de populismo.

No dia 31 de Agosto de 1997 jantava com o seu namorado Dodi Al-Fayed num restaurante em Paris, e à saída foi rodeada por centenas de "paparazzi", que perseguiram o seu Mercedes, conduzido pelo seu guarda-costas Paul Burrell. Na tentativa de se livrar dos seus perseguidores, Burrell imprimiu mais velocidade ao veículo, que se viria a despistar no Túnel das Almas, causando a morte a Diana e Al-Fayed. Enquanto era resgatada do automóvel, ainda com vida e consciente, Diana apelava desesperadamente aos fotógrafos "que a deixassem em paz". A sua morte deixaria os britânicos consternados, e o funeral foi um evento mediatizado à escala mundial. Elton John, amigo pessoal de Diana, gravou uma nova versão do seu clássico "Candle in the Wind", dedicado a ela, e que foi um sucesso de vendas. Desde logo houve quem atribuísse à coroa culpas pelo triste fim da princesa, apontando o dedo ao excesso de formalismo da casa real de Buckingham. Lidar com o fenómeno Diana foi provavelmente a tarefa mais difícil do reinado de Isabel II. Nem os bombardeamentos alemães durante a II Guerra ou o ultraje dos Sex Pistols durante o seu primeiro jubilee em 1977 lhe deram tantas dores de cabeça.

Sendo dotada de uma extraordinária beleza, plena de classe e com uma fotogenia fora de série, Diana foi sempre tida como uma mulher desejável. A princesa tinha de mulher-fatal o que faltava ao seu marido em charme, e as suspeitas de infidelidade de Diana apelavam ao imaginário popular e chegaram mesmo a criar uma espécie de anedotário. Há quem garanta que a princesa tinha um amante português e tudo. Mas aquele que, e isto segundo a própria, foi "o homem da sua vida" é Hasnat Khan, um conhecido cirurgião paquistanês de nacionalidade britânica. A relação foi assumida entre ambos em 1996, altura em que Diana visitou a sua família em Lahore, mas diz-se que se terão envolvido sentimentalmente antes disso, ainda durante o período em que a princesa estava casada com Charles. A relação com Dodi, com quem viria a encontrar a morte, era relativamente recente. Dodi era filho de Mohammed Al-Fayed, bilionário egípcio e dono da cadeia de lojas Harrod's. A tendência de Diana para se envolver com islâmicos deixavam Isabel II furiosa. Muito má publicidade para o sangue azul de Windsor, ver um dos seus filhos trocado por ex-súbditos do império, e ainda por cima infiéis.

Este biópico sobre Diana, realizado pelo alemão Oliver Hirschbiegel, conta com Naomi Watts no papel principal, e diz-se que a actriz não podia ter sido melhor escolha. O filme estreou nas salas de cinema do Reino Unido em 5 de Setembro, foi mal recebido pela crítica (apenas 3% no Rotten Tomatoes, o termómetro da crítica de cinema mundial) e ainda menos apreciado pelos fãs da princesa. Os que ainda recordam Diana pela sua generosidade e carisma não viram com bons olhos a ênfase dada aos casos amorosos e aos escândalos, em detrimento do seu trabalho humanitário. Os seus anos como membro da casa de Windsor são completamente ignorados, e o co-personagem da película é não Charles, mas Hasnat Khan, aqui interpretado por Naveen Andrews, que se celebrizou no papel de Sayid na série "Lost". Há quem considere o filme um insulto à memória de Diana, uma "segunda morte" da Princesa do Povo. Eu não fazia intenções de ver o filme, mesmo que fosse aclamado pela crítica, mas assim posso ignorá-lo à vontade, sem problemas de consciência ou assomos de curiosidade mórbida. Diana continua a ser o mártir, e Naomi Watts continua a ser Naomi Watts.

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