terça-feira, 27 de agosto de 2013
Greve de larica
Uma forma de protesto que envergonharia o próprio Gandhi. Lee Kin Yuen, o activista profissional de Macau, levou hoje a cabo uma greve de fome em frente ao edifício da Administração Pública na Rua do Campo, onde fica a sede da Comissão Eleitoral para a Assembleia Legislativa (CEAL), como forma de protesto pela alegada censura de quem tem sido alvo. Mas esperem lá, greve de fome? Bem, Lee e mais dois membros do seu grupo Activismo para a Democracia ficaram sentados à porta do edifício onde fica sediada a CEAL durante dez horas, o que vale por dizer que o esforço foi igual ao de um funcionário público com dores de dentes que tenha feito horas extraordinárias nesse dia.
O que mais deve ter incomodado Lee "y sus muchachos" foi o calor abrasador que se fazia sentir. Depois de tentarem ocupar o chão à entrada do edifício, a polícia - que Lee atrai como as sardinhas atraem os gatos - mandou-os para o olho da rua, e sempre que tinham oportunidade os grevistas encostavam-se a um cantinho onde houvesse um pouco de sombre e uma fresta de onde soprasse um arzinho gélido vindo do ar-condicionado do edifício público. Os transeuntes passavam e alguns poucos detinham-se a observer o espectáculo. O momento alto deu-se quando a televisão deu um ar da sua graça perto da hora de almoço. O calor era realmente o maior problema, e das vezes que saí e entrei do edifício - onde trabalho, como alguns leitores devem saber - o activista estava com um ar de quem devia estar a pensar "porque não fazem a porra das eleições no Inverno?".
Lee disse que protestava contra a decisão da CEAL de apagar do seu programa eleitoral o pedido de demissão da secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan, e de terem editado através do Photoshop uma imagem sua onde ostentava uma fita amarela na cabeça, onde se lia a mesma reivindicação. Hoje Lee esteve lá com a fita na cabeça, e ainda trouxe consigo uns cartazes rudemente escritos à mão, em chinês, que mais pareciam da autoria de uma criança de oito anos. A greve de fome em horário de expediente levou a que Lee consumisse "apenas água e bebidas energéticas". Já agora porque não uns sumos de fruta, batidos ou caldos de galinha? São coisas que não se mastigam, portanto é "fome" na mesma. Quando lhe perguntaram porque é que a greve de fome durou apenas 10 horas, quando alguns activistas em Hong Kong chegam a passar vários dias sem comer, Lee justificou "que não tem tempo", pois a campanha eleitoral está à porta, e ele tem que fazer mais daqueles elaboradíssimos cartazes escritos à mão com um marcador preto. E se calhar a mãe dele já lhe tinha ligado muitas vezes nesse dia para voltar a casa e acabar a sopa.
Não podia deixar aqui de referir os "camaradas" de Lee nesta semi-greve de fome, esta "greve de larica", chamemos-lhe assim. Um deles era um senhor com os seus cinquenta anos bem contados, bigodinho ralo, pinta de estocador. O terceiro era uma miúda gi-rí-ssi-ma, pasme-se. Bonita, com um rosto encantador que por vezes escondia atrás dos cartazes, formas perfeitas. Um mimo. O único senão era o aspecto desmazelado, nada que um banhinho com água quente e uma muda de roupa interior no resolvessem. Trouxe consigo uns lápis de côr (de cera?), e a meio da tarde vi-a a desenhar qualquer coisa. Se calhar a malta do Activismo para a Democracia não tem guita para uma câmara digital, e por isso recorre a métodos mais primitivos. Mas esta menina era um regalo para a vista, sem dúvida. Não fosse a mais que provável tara de que sofre, e até a convidava para sair.
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