segunda-feira, 15 de julho de 2013
Olé aos nabos (ai a bicha!)
Ao que parece em Portugal os touros estão na berra, e como se não bastassem as touradas e o triste espectáculo das largadas, a SIC lembrou-se agora de criar um programa onde se "brinca" com os bichos, que devem entender cada vez os humanos e a sua mania de se exporem a uma ou duas cornadas que os deixem a ver estrelas. Em "Olé", assim se chama o programa apresentado por Bárbara Guimarães (a Babá) e José Figueiras e gravado na Praça de Touros do Campo Pequeno. O programa consiste em jogos e brincadeiras tontas com touros, o que até parece algo bastante ousado, mas a "coragem" só permite que se usem animais jovens, com peso inferior a 250 quilos, não vá aquilo tornar-se realmente emocionante e os "brincalhões" acabem na morgue com um etiqueta no dedo grande do pé. Um dos jogos consiste num grupo de concorrentes sentados numa esplanada improvisada no meio da arena, com mesas e cadeiras de plástico e depois solta-se um mini-touro, e o vencedor é o último a permanecer sentado. Ficamos a saber o que pensam os touros das esplanadas, tal é forma decidida com que mandam tudo pelos ares à cornada. Tenho que me lembrar de nunca convidar um touro para beber uma cerveja na esplanada da Caravela. Daria prejuízo.
O momento alto dá-se quando uma personalidade executa uma pega de caras, auxiliado por um grupo de forcados amadores - os aposentos de Santarem e da Moita mostram grande dose de desportivismo, colaborando naquilo que é um insulto ao seu ofício. Para começar foram escolher logo o pitoresco José Castelo-Branco, que não perde a oportunidade para exibir os seus tiques de mariconço. Antes da pega propriamente dita, passa uma gravação que mostra Castelo-Branco a treinar alguns dias antes, como um toureiro a sério, e assistimos o "socialite" a ser atropelado por um bezerro de mama. Entre figuras tristes umas atrás das outras, Castelo-Branco aproveita ainda para abusar sexualmente de um pobre mini-touro, entalando o focinho do pobre bicho entre as pernas, com uma expressão de gozo que repudio com todas as minhas moléculas heterossexuais. Quanto à pega "a doer", e com a esposa Betty Grafstein na bancada a assistir, Castelo-Branco desafia um touro de 240 kg chamado "Biscoito" imitando os gestos das touradas que viu na TV, mas com mais bichanice. Chama o animal dizendo "anda cá, sua bicha", e por incrível que pareça, até correu bem, e a bicha sobreviveu à investida da outra bicha - não ouso acrescentar "felizmente". Se calhar o jovem touro assustou-se com as carradas de maquilhagem no rosto daquele "forcado" tão estranho. Recomendo a visualização do video do princípio ao fim, tentando não pestanejar durante os 14 minutos da sua duração. Garanto que vale a pena. Há coisas que é preciso ver para crer.
A SIC vinha anunciando este "Olé" desde finais do mês passado, e a "premise" já era suficiente para deixar muito boa gente desconfiada, temendo o pior. Várias associações de defesa dos animais vão apresentar uma petição contra o programa, estando ainda a recolher assinaturas, e a comunidade tauromáquica demarcou-se de qualquer ligação com este triste espectáculo. Pode não se concordar com o que fazem, mas pelo menos têm alguma dignidade. A opinião dos telespectadores foi a que se esperava: uma ideia risível e levada a cabo com requintes de circo triste, com palhaços sem graça e com os pobres toiros obrigados a participar sem que para tal fossem consultados. Com toda a certeza recusariam o convite, e até aprendiam a dizer "não" e tudo. Quem gostou não se atreve a dizê-lo, com receio de passer por pacóvio e demente, mas de certeza que foi muita gente. Não tenho os números das audiências, mas desconfio que foram e serão motivos para considerar "Olé" um sucesso. Não entendo bem o que leva as televisões a lembrarem-se de coisas desta natureza. Talvez depois dos "reality-shows", onde saía mais barato usar desconhecidos do que pagar a actores, pensam agora economizar ainda mais usando touros, que não pedem caché nem prosseguem carreiras musicais quando o programa acabar. O lixo televisivo no seu melhor, e aposto que ainda falta muito até se bater no fundo.
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