quarta-feira, 24 de julho de 2013

O anti-herói e o seu heroísmo


George Zimmerman é o homem de quem todos falam na América. O vigilante de 29 anos que no ano passado matou a tiro um jovem negro foi absolvido por um tribunal da Florida, o que causou a revolta dos afro-americanos e restantes auto-proclamados defensores dos direitos civis, exigindo que o sistema judicial produza uma pena de prisão efectiva que apazigue as hostes que vociferam “racismo!” a torto e a direito. Este é um tipo de pressão que deixaria muito boa gente trancada no quarto e escondida debaixo da cama, mas Zimmerman vai tentando viver o dia-a-dia dentro do possível, e agora foi notícia pela positiva. O ex-vigilante andava a pé por uma auto-estrada da Florida quando deparou com um veículo acidentado, um utilitário desportivo que tinha capotado minutos antes e deixado os seus passageiros retidos no interior. Zimmerman e o amigo viraram o veículo e resgataram a família de dois adultos e duas crianças, que escaparam do desastre com ferimentos ligeiros. Um porta-voz da polícia local confirmou o acto de heroismo, reiterando que Zimmerman não testemunhou o acidente. Contudo não vão tão longe ao ponto de o chamar um “herói”, não vá isso resultar em problemas com a mole anti-Zimmerman que anda aos berros pela América, mas inserem o acto na categoria de “boa acção”. Se Zimmerman é um bom samaritano disposto a ajudar quem precisa ou um porco racista que saíu impune depois de praticar um crime de ódio depende da perspectiva. Se foi realmente heroísmo ou não, o infortúnio desta família que capotou na auto-estrada vem mesmo a calhar para o homem que precisa desesperadamente de transmitir uma boa imagem que reablite a sua arruinada reputação. Uma sondagem realizada pelo conceituado Centro de Pesquisas Pew demonstra que 39% concordam com o veredicto do júri que absolveu Zimmerman, enquanto 42% se opõem, e 19% estão-se nas tintas. A família de Trayvon Martin, o jovem mortalmente atingido naquela fatídica noite de Fevereiro de 2012, estará a pensar em interpôr uma acção civil contra Zimmerman, mas uma lei em vigor na Florida que defende o direito à auto-defesa recorrendo ao uso de qualquer meio, incluíndo a violência, coloca-se como obstáculo a essa intenção. Uma lei muito contestada, que já levou algumas celebridades a exigir o seu boicote. Stevie Wonder tomou a iniciativa, e logo foi secundado por Madonna, Jay-Z e Usher, entre outros.

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