sábado, 13 de julho de 2013

Divertiram-se? Optimus!


Atento aos serviços informativos em Portugal, e deixando de parte essa novela de enganos que tem sido a crise da coligação que (des)governa o país, acompanhada do habitual falatório de comentadores politicos e restantes desocupados, interessa-me a restante actualidade. Algumas notícias deixam-me especialmente triste, como os incêndios, por exemplo, pois as vítimas dos hectares de mata consumidos pelo fogo são normalmente humildes agricultores e outra gente rústica. Mas em plena “silly season”, com os principais intervenientes da actualidade de férias ou preparando-se para tal, o destaque vai para a pré-temporada do futebol, para a chegada dos nossos estimados e mui patrióticos emigrantes, ansiosos por encher as praias e os parques um pouco por esse país fora com o cheiro a sardinhas e os últimos sucessos pimba que no estrangeiro “injectam na veia” como forma de matar saudades (e quem os pode censurar?), e é claro, os festivais de Verão. Gostava de falar destes últimos.

É com um unchinho de inveja (uma coisinha pouca, mesmo) que observo como é fácil nos dias que correm assistir a concertos das bandas da moda por dá cá aquela palha. Os “cotas” da minha geração não tiveram essa sorte, e não seria até finais dos anos 80 e inícios de 90 que Portugal se tornou paragem das digressões dos super-grupos. Os Queen, por exemplo, a maior banda da história da música moderna, deixaram de tocar ao vivo em 1989 devido à doença de Freddie Mercury, e assim nunca deram um concerto em Portugal. Foi apenas em 1991 que os Rolling Stones incluiram o nosso país no seu itinerário pela primeira vez, e depois disso foi com grande mediatismo que nos visitaram os Guns n’Roses, os Metallica e os U2, para citar alguns. Curiosamente a banda de Bono e companhia tinha actuado em Vilar de Mouros nos inícios dos anos 80, muito antes de se tornarem um fenómeno que enche estádios nos quatro cantos do globo. Uma nota de rodapé, apenas, uma vez que se poucos os conhecem, não contam como “um grande acto”.

Hoje não é novidade nenhuma que Green Day, Tokyo Hotel e outros grupos com que a juventude se identifica mais passem pelo nosso país como cabeças de cartaz dos inúmeros festivais patrocinados pelas marcas que vão somando e seguindo no topo dos lucros do mercado, sejam elas a Optimus ou a Super Bock. A juventude adere em massa, quer os estudantes do secundário quer os universitários, que “soltam a tampa” depois e um intenso ano de queimar as pestanas (pois, pois…), e tudo é permitido, enfim. Ainda ontem foi dado tempo de antena a meia dúzia de pitas inconscientes e eufóricas, algumas de cigarrinho na mão e todas com ar de que a festa já ia longa, que aguardavam a aparição dos Green Day no Festival Optimus Alive!. Aqui está um conceito que ainda há vinte anos era alíegena em Portugal: “Os Green Day no Festival Optimus Alive!”. Ah Portugal da liberdade e do rock’n’roll, quem te viu e quem te vê. O irmão mais pequeno da Europa tornou-se num homenzinho.

O que mais me intriga é a adesão a este tipo de eventos que, a fazer fé nos preçários do meu tempo, exigem uma ginástica financeira complicada na aquisição dos ingressos. Isto num país que saí à rua prostestando contra os cortes, contra a austeridade, com abundantes testemunhos de cidadãos que se lamentam da pouca sorte e alegam não ter dinheiro para comer ou dar de comer aos filhos. É lógico que não são apenas as elites que frequentam estes festivais roqueiros da época, e certamente que a aquisição dos ingressos não é subsidiada ou beneficia de descontos especiais para famílias com menores orçamentos. Se a tal “troika” que obriga os portugueses a apertar o cinto fosse uma banda da moda, não seriam boicotados em nome das famílias que tentam sobreviver com ordenados de miséria, com um ou ambos os elementos encarregados do sustento familiar no desemprego. Aliás “Troika” é uma ideia genial para o nome de uma banda rock. Faz lembrar os Peste & Sida, os Censurados ou mesmo os Xutos & Pontapés.

É um dilema para os pais que fazem um sacrifício extra para que os seus filhos não fiquem à margem da animação que está disponível aos seus filhos em tempos de ferias. É difícil dizer que não ao adolescente que temos em casa quando “todos os amigos vão lá estar”, e mesmo que esses tais “amigos” dêm a entender que são filhos de tipos endinheirados, mesmo esses precisam de recorrer a expedientes para que não deixem passar a imagem que são uns pobretanas sem ter onde cair mortos. O sorriso de satisfação no rosto dos miúdos é qualquer coisa que não tem preço, mesmo que seja o despeito que dita as regras neste tipo de circunstâncias. É de partir o coração olhar para o ar triste dos putos sentados num canto da casa enquanto os amigos estão no concerto do grupo da moda, sabendo que o dia seguinte vai ser ainda pior quando esses sacanas lhe contarem como foi “espectacular”, e que “não sabem o que ele perdeu”. E quem diz concertos diz jogos de futebol; não há crise que impeça um estádio de ficar cheio quando há um jogo grande.

Por isso perdoem o paternalismo deste cota que também é pai e que felizmente tem o capital suficiente para satisfazer os caprichos do seu filho (ele também não é muito exigente), mas vocês nem imaginam a sorte que têm. Quando tinha a vossa idade e pedia encarecidamente aos pais os cinco ou dez contitos para ir ver os grupos da minha preferência, o Barcelona do Cruijff a ir jogar no Estádio da Luz ou a Tina Turner em Alvalade, nem sempre tive as coisas de mão beijada. Tive a minha dose de “Dez contos por essa merda? Estás maluco ou quê?”. E doía, claro. Divirtam-se, curtam as ferias, mas depois lembrem-se do esforço dos vossos pais para que fizessem boa figura e fiquem com um momento para mais tarde recordar. E já agora dêm um desconto aos velhos quando forem mais chatinhos, valeu?

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