sábado, 27 de julho de 2013
Classe: quanto custa?
O crescimento vertiginoso da China em termos de economia e produção de riqueza não deixou ninguém indiferente. Apesar de existir ainda bastante pobreza, a classe média como a conhecemos vai sendo uma realidade, com cada vez mais famílias a passar da indigência à sustentabilidade. E de entre os que melhor aproveitaram a abertura do mercado no país mais populoso do mundo, emergiu um respeitável número de chineses mais abastados, entre os quais os novos-ricos. São cada vez mais as famílias que passaram de gerações marcadas pela fome e pela austeridade à riqueza instantânea, tirando o máximo de benefícios dessa verdadeira "selva" que é o capitalismo, onde a competição obedece muitas vezes à lei do mais forte. Mas depois de adquirida como um facto, a riqueza trás novos patamares de exigência ao nível do trato social. Quem se torna de repente podre de rico é normalmente convidado para eventos de que só ouvia falar enquanto nadava na sarjeta, tentando-se manter à tona. Mas uma vez inserido na elite, como se livrar da "casca grossa" da modéstia com que se nasceu e cresceu, sem acesso à educação fidalgal que muitos dos seus pares adquiriu? Como disfarçar a evidência de se ter nascido rafeiro e tentar adquirir algum "pedigree"?
O Instituto Sarita, em Pequim, tem a resposta, e pela módica quantia de 100 mil yuan por um curso de duas semanas, o mais rústico dos novos endinheirados transforma-se no equivalente chinês de uma "tia" de Cascais. Pode parecer uma fortuna, mas para quem quer aprender a comportar-se como gente fina, de acordo com o património amealhado, é dinheiro bem empregue. Por detrás deste instituto está Sara Jane Ho, uma chinesa que emigrou para os Estados Unidos com os pais, estudou em Harvard e frequentou mais tarde o Institut Villa Pierrefeu, uma das escolas de etiqueta mais frequentadas do mundo. O programa do curso é abrangente, e os formandos podem ficar a conhecer os truques mais elaborados da vida em "high society", como o garfo indicado para cada prato, a forma mais indicada de segurar um chávena de chá, a "toilette" mais apropriada a cada evento, postura, e outros preceitos. Para os principiantes ensinam-se noções mais básicas, como comer de boca fechada e o posicionamento dos braços à mesa. Entre os aspectos que por si já seriam o suficiente para se dedicar uma cadeira estará o saudável hábito de usar um palito, em vez de recorrer a uma unha ou "pescar" os restos de comida entre os dentes com a língua. Uma iniciativa que se saúda, apesar do preço. Às vezes não há dinheiro no mundo que compre a classe, mas assim sempre podem pelo menos ficar mais perto.
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