segunda-feira, 15 de julho de 2013

A última tentação do dentista


A femme fatale da odontologia

Uma fantasia comum a muitos homens casados e normalmente infelizes é estar numa posição de chefia e ter uma ou mais subordinadas atraentes. O anedotário popular mais brejeiro está repleto de chalaças onde os personagens são o chefe libidinoso e a sua secretária boazuda. O “nosso” Vilhena exprimia a imagem como ninguém através dos seus desenhos: o chefe de meia idade, franzino e marreco, calvo, nariz comprido com uma verruga na ponta, tranbordando de libido e com a língua de fora enquanto faz investidas à sua jovem secretária, loiraça, mamalhuda, vestida apenas com um “top” e uma mini-saia mais que revelantes. Tem a sua piada, revela uma saudável virilidade, e é mais que normal que um homem aprecie uma mulher bonita, porque não? Deixemos o machismo de parte por uns instantes, que as mulheres também têm o direito de suspirar pelos rabiosques redondinhos ou pelos bicepes dos colegas de trabalho.

Mas voltando a esse ser perverso que é o homem heterossexual. Ter uma empregada, secretária ou assistente apetitosa pode causar dissabores em casa, e dificilmente se tem a sorte de casar com uma mulher que tolere qualquer competição que seja, e se tiver o poder de eliminar essa competição, pode tornar-se uma fera. Que o diga um dentista no estado do Iowa, Estados Unidos, que se viu obrigado a despedir a sua assistente por ser “demasiado atraente”, cansado da desconfiança da esposa, e talvez farto de levar com sermões depois de chegar a casa de mais um dia a mexer em bocas de estranhos.

O tal dentista, o dr. James Knight, de 53 anos, contava há dez anos com os serviços de Melissa Knight, agora com 32, e isto nunca pareceu constituir um problema para o seu casamento. Mas subitamente a sra. Knight, que também trabalha na clínica onde o marido e os seus sócios exercem a prática, preocupada talvez com a manifestação das rugas e propagação de cabelos brancos, achou que Melissa era “irrestivelmente atraente”, e que o marido poderia sentir-se tentado a matar as saudades de uma anca estreitinha e pele imaculada.

A pobre Melissa, a mesma na imagem acima, só queria mesmo saber do emprego, e em todo o tempo que passava as brocas e as seringas de novocaína ao patrão nunca sequer lhe passou pela cabeça fazer uma investida amorosa, cumprindo o “cliché” do médico-enfermeira, que nos filmes pornográficos dão violentas quecas na mesa do consultório ou no hospital, em cima de um doente em coma. Em dez anos revelou nada mais que profissionalismo, competência e integridade, e se calhar até tinha a sua vidinha lá fora, sem nela incluir o dr. Knight. A única qualidade que lhe faltava para merecer a aprovação da “patroa” do seu patrão era ser feia e gorda, de preferência ao ponto de causar náuseas a quem olhasse para ela. Mas o dentista fez a vontade à mulher e despediu-a, pagando um mês de indemnização como única compensação pela palhaçada.

Melissa deixou de lado a amizade e o respeito que durante dez anos cultivou com o dentista, que considerava “quase como um pai”, e levou o caso a tribunal, alegando “discriminação com base no género” – um argumento que na América costuma pegar, deixando os acusados com os joelhos a tremer, receosos da imagem de trogloditas e predadores que pode passar para a opinião pública. Na acusação Melissa argumentou que “nunca seria despedida se fosse um homem”, e que a decisão final de a demitir “não partiu da entidade patronal, mas da sua esposa”. O dr. Knight, talvez temendo levar com o rolo da massa em casa, respondeu dizendo que a decisão de demitir a assistente “foi da sua iniciativa”, e alegou como um dos motivos as roupas de Melissa, que descreveu como “justas e provocantes”, e que muitas vezes lhe provocavam “distração”. Perante isto, e infelizmente para Melissa, o tribunal deu razão ao dr. Knight. Na leitura do veredicto a juíza recordou que despedir alguém por ser demasiado atraente “não se inclui na categoria de descriminação pelo género”, e que no estado do Iowa não existe uma lei que proíba despedir alguém por não gostar da sua aparência.

A decisão está a causar alguma polémica a nível nacional, temendo que conflitos conjugais resultem em despedimentos em catadupa de mulheres cujo único crime que cometeram foi serem bonitas, ou que possa servir de pretexto para situações de assédio sexual, uma vez que pode ser fácil despedir alguém através de um argumento tão subjectivo como a aparência. Paciência, Melissa. Agora levanta-te e vai à luta. E já agora aproveita a fama para tirar algum proveito dos teus alegados atributos e engata um dentista jovem e jeitoso. Depois o ex-patrão baba-se ao ver o que perdeu, e a lambisgóia dele engasga-se de tanto veneno que fica a destilar.

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