segunda-feira, 10 de junho de 2013

Pare, escute e olhe...e eduque


Uma criança de quatro anos perdeu a vida a semana passada na Ilha Verde, na zona norte de Macau, quando foi atropelado por um camião. Uma notícia trágica, uma perda lamentável que não nos deixa senão tristes e solidários com a família do jovem, que estará certamente a sofrer de dor. Este tipo de acidentes tem sido muito comum no território, nem sempre com perda de vidas, felizmente, mas nem por isso é menos preocupante. Sempre considerei Macau uma cidade segura para se circular na via pública, e ao contrário de Hong Kong, por exemplo, ainda nos é dada a oportunidade de quebrar as regras e atravessar fora da passadeira, ou com o sinal vermelho para os peões. Já foi mais seguro no passado, e tudo indica que se torne mais arriscado no futuro.

Apesar da mais que badalada ineficácia da DSAT, não se podem atribuir-lhes todas as responsabilidades pelos problemas do tráfico em Macau. Não é por culpa de ninguém que haja quem decida atravessar a rua a correr quando passam carros, ou que o número de condutores que praticam condução agressiva seja cada vez maior. Notam-se sobretudo cada vez mais motociclistas audazes, aproveitando a dimensão mais prática do veículo para evitar congestionamentos, passando pelo meio dos veículos mais pesados. Um peão que atravesse na passadeira corre o risco de ser atingido por um motociclo que se vai esgueirando pelos carros e tenha a visão limitada por um autocarro que esteja parado em frente à passagem de peões, por exemplo. A vítima arrisca-se a ser atingida por algo que vem inesperadamente do nada, confiante na falsa sensação de segurança que atravessar numa passadeira representa nesta cidade.

Apesar de não conduzir, sou um passageiro exigente, e apesar de não ter medo de morrer cada vez que me faço à estrada, apercebo-me que o perigo é real. Costumo almoçar com um amigo, e quando não chove vamos de mota. Apesar de ter uma confiança inabalável na condução do meu amigo, já apanhei vários sustos provocados por outros motoristas que se esquecem que não estão sozinhos a atravessar o Novo México sem que se veja vivalma durante quilómetros a fio. Aborrece-me ter que ficar atento à condução dos outros para não me arriscar a ficar sem pernas ou mesmo ir para o galheiro. Resumindo, tenho esta filosofia de vida: “não me importo de morrer por causa da minha própria estupidez, mas não me interessa morrer por causa da estupidez alheia”.

Se é possível fazer algo que melhore o escoamento do trânsito ou melhorar a segurança através de mais semáforos, passadeiras, pontes aéreas ou o diabo a sete, é mais difícil fazer algo a respeito da falta de civismo de alguns cidadãos. A população aumentou nos últimos dez anos, e muitos dos novos residentes são oriundos do continente, onde atravessar a rua é uma verdadeira aventura. Alguns veículos que circulam na cidade, nomeadamente os de carga, são operados por trabalhadores do continente, que têm uma interpretação diferente das regras de trânsito – não estou a dizer que são melhores ou piores, apenas diferentes. Se temos regras e uma tradição sólida do cumprimento das mesmas, era ideal que se investisse mais na sensibilização, e já agora deixar claro que o não cumprimento será devidamente punido.

Não há nada mais gratificante que a sensação de segurança para nós e para os nossos, de ter a certeza que nos podemos deslocar de um ponto ao outro sem que exista um risco acrescido para a nossa vida ou integridade física. As crianças requerem uma atenção especial, pois a sua natural rebeldia e inconsciência própria de quem ainda não viveu o suficiente para conhecer todos os males do mundo torna-os mais vulneráveis. E é com o futuro em mente que os devemos educar na segurança rodoviária. Afinal de contas são eles os futuros motoristas que vão andar por aí na estrada, e incutir-lhes desde cedo noções de civismo é um investimento a longo prazo.

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