sexta-feira, 21 de junho de 2013
A vã glória de mandar
É sexta-feira...yeah...trabalhei a semana inteira...yeah...e é tempo de publicar o artigo semanal do Hoje Macau. Bom fim-de-semana, recos!
O homem é por natureza um animal politico. Desde que alguém bem intencionado teve um dia a brilhante ideia de escolher representantes para tratar do funcionamento das instituições, a governação e a segurança do povo, das tarefas mais aborrecidas, outro alguém decidiu subverter algumas destas responsabilidades e com isso chamar a si o poder. Entrar no jogo da política é o pináculo da afirmação, o supra-sumo da identidade social. Faço política, logo existo, e faço questão que se saiba que existo. Aqui estou eu, pronto para servir a sociedade, disposto a sacrificar a minha privacidade e tempo livre e dar o meu melhor para contribuir para a sociedade. Quem pode resistir a tão generosa oferta? Que homem tão corajoso, disposto a “trabalhar para nós”, sujeito ao desgaste da sua imagem e às vertigens da popularidade. Para que se concretize esta espécie de “magia” basta colocar uma cruzinha ao lado do seu nome e lá vai ele, qual cavaleiro andante de armadura reluzente numa cruzada pelo bem. É pena que não seja bem esta a imagem que se tem dos políticos e da política. Temos que reconhecer que é muito mais encantadora. E menos deprimente, também.
Nas sociedades que têm a sorte de viver numa democracia pluralista que lhes permita eleger em liberdade os seus representantes, há um ciclo que se repete de quatro em quatro anos: o acto eleitoral. “Outra vez? Que grande chatice” – dirão alguns políticos quando é ano de eleições – “Mas quem são estes gajos para dizerem se fico mais quatro ou se vou embora? O que é que eles sabem?”. Nos círculos onde existe uma tradição democrática solidamente enraizada, não se permite sequer questionar a validade das eleições, sob pena de “morte política” (é como a morte normal, mas fica-se vivo). Fica bem aceitar a derrota com um desportivismo “democrático”, elogiando a participação do eleitorado e tecendo loas à democracia. Mesmo que a vontade seja de mandar todos à fava. Apesar do despesismo, do incómodo e da poluição ambiental e sonora que provoca a campanha eleitoral, o sufrágio é a única forma eficaz de fiscalizar a acção da política, avaliar os políticos e lembrá-los que estão ali para trabalhar, e caso não sirvam cedem o lugar a outros. Infelizmente nem sempre se faz a escolha mais acertada, e mesmo que se mudem as moscas continua a mesma…bem, já sabem. Mas pelo menos o direito de poder escolher e de mudar de moscas é uma garantia preciosa. Pelo menos temos forma de correr com os gajos que nos andaram a enganar durante quatro anos. Vingança, doce vingança.
Não censuro os políticos, mesmo que tomem medidas que não me agradem ou que me prejudiquem. Consolo-me com o facto de que tenho alternativas, e mesmo que o tipo que me tramou seja reeleito não me resta senão respeitar a vontade da maioria – mesmo que seja uma maioria de cavalgaduras com tendências masoquistas. A democracia permite até que manifestemos a nossa insatisfação com o elenco governativo eleito sem que estes nos deportem para um “gulag” ou se recusem a tratar com e mesma deferência que o seu eleitorado. Quando o General António Ramalho Eanes, que muito estimo, disse aquando da sua eleição para Chefe de Estado: “serei o presidente de todos os portugueses”, resumiu este conceito em apenas uma frase. Foi uma tirada de génio.
Mesmo que apenas nos seja permitido exercer o nosso dever cívico aos 18 anos, na plenitude da maioridade (se as crianças pudessem votar, votavam no MRPP), é ainda durante a infância e a adolescência que temos o primeiro contacto com essa meretriz traiçoeira que é a política. Elegemos os delegados de turma, negociamos com os professores as datas dos testes, votamos para a associação de estudantes. Somos uns democratas como deve ser. Lembro-me de ter feito parte da associação de estudantes que venceu as eleições no Liceu, uma eleição tão renhida e participada que deixaria as presidenciais americanas rubras de inveja. E o que fizemos depois de eleitos? Nada, como qualquer político que se preze. Fizemos meia dúzia de reuniões onde a maioria aparecia com um sorriso parvinho como quem diz “olha para mim aqui a mandar, mamã”. Ao fim de algum tempo ninguém estava para se chatear e ficar na escola durante as horas livres, e desistimos. Em suma, fizemos política. Política-júnior, mais precisamente.
Em Macau também temos eleições, “or something like that”. É no dia 15 de Setembro que se vai eleger pela via directa e do voto popular catorze deputados para a Assembleia Legislativa recorrendo a um método inspirado no de Hondt, só que aldrabado. Os resultados das eleições não determinam a formação de um Governo, como outras por esse mundo fora, mas nem por isso têm menos valor. Os nossos políticos, que os temos, mesmo que em regime de part-time, vão fazer uso da sua imaculada imagem, aparecendo em cartazes sorrindo de orelha a orelha ostentando camisolas foleiras com as cores e a simbologia das suas listas, ao mesmo tempo que dizem que nos vão servir e aos nossos interesses…Esperem, não é preciso repetir. Basta uma remissão para o primeiro parágrafo. No fundo é um pouco como a própria política; no final volta tudo ao início. É baralhar e voltar a dar. Mas pelo menos nesse dia, um em cada olimpíada, temos algo valioso que deixa os políticos a salivar: o voto. E só por isso já vale a pena brincar à política, apesar de tudo.
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