domingo, 12 de maio de 2013
A páginas tantas
A reportagem do Telejornal de sexta-feira foi dedicada à imprensa em português em Macau. Sobre este tema existe certamente muito que dizer; é matéria para um extensivo documentário. Dos poucos minutos que nos foram dados a ver ficámos a par da opinião de a;guns agentes da imprensa lusófona do território, da opinião dos leitores portugueses e ainda do que pensam os residentes cuja língua materna é o chinês. Esta foi talvez uma agradável surpresa, pois a população de etnia chinesa do território reconhece a utilidade da imprensa portuguesa, cuja existência "se justifica em Macau". Pelo menos isso.
Existem actualmente três diários e um semanário em língua portuguesa em Macau, além de um canal de televisão e outro de rádio. Confesso que não esperava tamanha variedade, decorridos 13 anos desde a transferência de soberania. Não que cada uma das publicações não tenha o seu espaço próprio, mas previa que existisse um grande diário "unificado" e mais um ou outro semanário. Afinal parece que o direito ao contraditório à moda lusitana está bem e recomenda-se, mesmo com o estatuto de "forasteiros" que nos foi atribuído a partir de 1999.
O director do Jornal Tribuna de Macau, José Rocha Dinis, salientou a importância dos subsídios governamentais e da publicidade para a sobrevivência dos jornais em língua portuguesa, sendo a venda dos jornais propriamente dita a fonte de receita menos significativa. O porta-voz do Executivo, Alexis Tam, salientou a importância da atribuição desses subsídios para que se copncretize o direito à informação da população. Gostei de o ouvir. Hé quem pense que esta espécie de "subsídio dependência" possa ter influência directa ou indirecta nos critérios editoriais, mas no que diz respeito à nossa imprensa, penso que se existe liberdade de expressão q.b.
O mesmo não se pode dizer do jornal Ou Mun, por exemplo, a publicação mais lida do território, e media de eleição para quem domina apenas a língua chinesa. O Ou Mun segue uma orientação um tanto ou quanto questionável, e é fácil verificar as diferenças quanto ao tratamento - por vezes omissão - de algumas notícias mais sensíveis. É interessante trocar pontos de vista com colegas chineses e observar que muitos deles ignoram quase por completo notícias que chegam a ter honras de primeira página nos jornais portugueses. O Ou Mun dá a entender que mais que um orgão de informação, é uma empresa com fins lucrativos.
Os jornalistas portugueses que temos em Macau são profissionais competentes, e mesmo so que chegam ao território e desconhecem ainda as suas especificidades, procuram inteirar-se o mais rapidamente possível, procurando saber, observar e escutar, evitando uma atitude arrogante de que basta um curso de Comunicação Social para ser um bom jornalista em qualquer parte do mundo. O salário pode não ser o aspecto mais atraente da profissão, mas juntando mais um ou outro expediente, vão fazendo pela vida. Não é um exagero dizer que estamos bem servidos em termos de jornais portugueses na RAEM. Agora basta continuar a trabalhar bem.
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