terça-feira, 28 de maio de 2013
A convergência do cifrão
O café Satrbucks do Largo do Senado encerrou, depois de mais de dez anos a funcionar em frente à Farmácia Popular. Uma noticia tão surpreendenta quanto triste, bem demonstrativa de uma caminho que Macau está a seguir e que não sabemos bem onde acaba, e com que resultados. Não sou grande adepto da multinacional Americana, mas tenho pena que desapareça um local onde as pessoas se podiam sentar, comer, converser, usar o computador e ouvir alguma música. Um local calmo, relaxado e limpo, independente se goste ou não dos Latte, Frapuccinos e outras americanices. Vai deixar saudades.
E a razão para o encerramento do Starbucks? O senhoria não quis renovar o contrato de arrendamento da loja, Verdadeira razão? Alguém ter-lhe-á feito uma proposta muito mais lucrativa, na ordem do dobro, ou mais, do preço do arrendamento. Nestas situações funciona o princípio do "pegar ou largar" que tem complicado a vida ao pequeno e médio comércio em Macau. Se a renda é x e alguém oferece o dobro, o proprietário pergunta muito diplomaticamente ao arrendatário se consegue cobrir a oferta, e no evento de não ser possível fazê-lo, nada resta senão desmontar a tenda e dar lugar ao senhor que se segue. A Starbucks é uma multinacional com dinheiro de sobra para manter aberta uma loja, mesmo que lhe esteja a dar prejuízo, mas é livre de fazer a gestão que considere mais adequada, e apesar de deixar orfãos dezenas de clientes habituais, achou por bem encerrar aquela que foi a sua primeira loja no território.
"Money talks and bullshit walks", a máxima "yankee" de dita as regras do mercado de matriz capitalista-selvagem bem se pode aplicar à zona histórica da cidade, ao centro de Macau. Há um par de anos foi o velhinho restaurante Long Kei a dar lugar a uma insonsa loja de "souvenirs" da treta, e ainda o ano passado foi a tabacaria da Rua das Mariazinhas a fechar portas. As rendas praticadas naquela área são milionárias, os proprietários mais antigos não resistem às ofertas chorudas e acabam por vender, e é caso para dizer que não fossem a Farmácia Popular e a Santa Casa da Misericórdia titulares do direito de propriedade dos edifícios onde funcionam, arriscavam-se a sair dali para fora e a dar lugar a uma perfumaria, joalheria ou loja de roupa de marca. Ninguém se iluda pensando que no lugar do Starbucks surgirá algum outro local aprazível onde se pode sentar, conversar ou ler um livro enquanto se toma uma bebida. Será mais uma Sasa, Bonjour ou Swarowski qualquer, a pensar nas necessidades do tailoque moderno, novo-rico e gastador.
E são esses quem vão paulatinamente ocupando a zona do Largo do Senado e arredores. A afluência de turistas do continente que aqui vêm gastar forte e feio justificam uma renda astronómica de um milhão de patacas ou mais. Qualquer dia uma tarde de compras no Largo do Senado consistirá em perfumes, cosméticos, pronto-a-vestir de "bem", relógios, cintos e jóias. E para comer? Têm ali mesmo o McDonald's, ora. Não se queixem. Bem-vindos à convergência do cifrão, às maravilhas do tal "socialism de mercado" que de socialismo só tem mesmo o nome. Qual tradição, qual amizade, qual carapuça. Não gostam? Podem muito bem "take a walk", como a "bullshit" da tal maxima acima referida.
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