segunda-feira, 13 de maio de 2013
13 de Maio: todos os caminhos vão dar a Fátima
O que terão visto estes pequenos?
Hoje é dia 13 de Maio, uma data querida para o povo português, que a identifica quase automaticamente com as aparições de Fátima na Cova da Iria, na localidade de Fátima, no Ribatejo. Apesar de não ser feriado nacional, não haverá qualquer português que não identifique este dia com Fátima. Foi neste dia em 1917 que três crianças que pastoreavam as suas ovelhas viram alegadamante uma "senhora brilhante" que lhes disse ser a Virgem Maria, mãe de Cristo. Ora aqui está qualquer coisa que não acontece todos os dias, e de que nem todos se podem orgulhar.
A aparição da mãe de Cristo a três pastorinhos numa pequena aldeia rural e periférica de Portugal é já de si algo difícil e acreditar. Não sou um homem de fé, e sou céptico nos assuntos do sobrenatural, mas não creio que três crianças pobres e analfabetas tenham engenho para uma farsa tão elaborada, para contar uma mentira desta dimensão. Acredito que viram algo, sim, mas tenho o direito de duvidar que fosse Maria, mãe de Jesus, e de acreditar que talvez exista outra explicação para o fenómeno das aparições.
Para procurar uma explicação que vá além dos mistérios do divino, é preciso inserir as aparições no contexto da época. Estávamos em plena Primeira Guerra Mundial e em vésperas do surto da gripe espanhola, que custou a vida a cerca de 100 milhões de pessoas em todo o mundo em menos de 3 anos. Portugal era um país pobre, atrasado, analfabeto e deprimido, atravessando uma crise política que fazia com os governos da I República se sucedessem. Um evento desta natureza poderia servir como um farol para um povo que tinha perdido a esperança. A visita da Virgem Maria, a ser verdade, não poderia vir numa melhor altura. Ironicamente escolheu um lugar baptizado com o nome de uma antiga princesa árabe, o que é no mínimo irónico.
Para quem duvidava dos pastorinhos, deram-se mais aparições. Uma das quais foi verdadeiramente épica, com centenas de testemunhas, que num dia de chuva torrencial viram um luz intensa, tão intensa ao ponto de os deixar completamente enxutos. Para que o país ficasse sabedor, estava lá um jornalista d'"O Século" (talvez uma das poucas pessoas alfabetizadas ali presente), que documentou o acontecimento. Entre os que duvidam das aparições, alguns defendem a teoria da "alucinação colectiva". Quem sabe? Dos três pastorinhos, Jacinta e Francisco morreram ainda jovens, mas Lúcia demorou a juntar-se a eles, vivendo uma vida de reclusão e isolamento entre as paredes de um convento, deixando-nos em 2006, aos 94 anos. Com ela levou provavelmente a verdade sobre o aconteceu naqueles dias na Cova da Iria. Permanece o mistério.
Passado alguns anos o Vaticano confirmou as aparições, e depois disto é o que já se sabe. A até então desconhecida localidade de Fátima tornou-se mundialmente conhecida. Onde antes havia montes e campo, foi construído um imponente santuário onde ocorrem todos os aos milhões de peregrinos de todo o mundo. Centro daquilo que modernamente se designa por "turismo religioso", Fátima movimenta rios de dinheiro na venda de artefactos religiosos e na indústria da hotelaria. Chegou-se mesmo a falar na construção de um aeroporto na região para servir os crentes mais distantes. Fátima foi a menina dos olhos do Estado Novo, que utilizou a paixão dos portugueses pelo culto mariano como factor de união e agregação. Dava-lhes jeito. Era o "ópio" de eleição de Salazar, ele próprio um mariano devoto.
Quando estudava no 6º ano tinha aulas de Educação Moral e Religiosa, e o nosso professor, o saudoso Pe. Manuel Gonçalves, referia-se às aparições de Fátima de uma forma tão apaixonada que ainda hoje me recordo como se o estivesse a ouvir. Segundo o bom padre, uma das pessoas que mais respeito entre as que já conheci, Jacinta e Francisco viriam a morrer ainda jovens, porque "Deus os chamou para o Seu lado". Na realidade os jovens pereceram à tal epidemia de gripe espanholam que assolou a Europa, mas se foi essa a forma que o criador escolheu para os recrutar para o reino dos Céus, não terão sofrido muito. Ou será mesmo assim? Ainda segundo o Pe. Manuel, Jacinta "sofria e fazia questão de sofrer", pois acreditava que assim "salvaria as almas do pecadores do fogo do Inferno". E como sabia a menina disto? Foi a própria Virgem Maria que lhe mostrou, durante as aparições. Chega a ser tétrico.
Não censuro o bom Pe. Manuel por querer manipular as mentes inocentes de crianças de 11 e 12 anos no sentido de os fazer acreditar incondicionalmente nas aparições de Fátima. Claro que depois de adquirirmos uma certa elasticidade mental começamos a duvidar de toda, ou pelo menos parte da fábula. Cada um tem o direito de acreditar no que quiser, de depositar a sua esperança na oração, em fazer e pagar promessas, ou de confiar na eficácia de objectos religiosos. Os milagres não carecem de base científica: ou se acredita neles ou não. Como disse um amigo meu, orar por alguém que se encontra enfermo é como mandar um cartão de melhoras: não é apenas pelo facto de o fazermos que a pessoa fica curada.
À distância de milhares de quilómetros, longe da ostentação do santuário de Fátima, os católicos de Macau assinalaram o dia com a habitual romagem que leva a imagem da Virgem à Ermida da Penha. O culto mariano tem uma implantação neste pequeno território do sul da China que ainda apanha de surpresa os visitantes, que ficam meio confusos com a abnegação dos fiéis a uma realidade tão distante - muitos desconhecerão a origem desta manifestação de fé. É assim em Macau, e é isto que torna a cidade única no mundo. Posso duvidar da veracidade das aparições, posso defender que existirá alguma explicação lógica e terrena para o que aconteceu a 13 de Maio de 1917 e nos meses que lhe seguiram, mas congratulo-me que exista quem pense diferente. Faz falta quem sonhe e quem tenha fé a valer.
Os Mouros Fatimidas e as Aparições de Fátima, pelo Prof. Moisés Espirito Santo http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=6172
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