segunda-feira, 8 de abril de 2013

Estou a ficar velho - parte I


Tenho quase 40 anos, e enquanto me vão restando forças, vou pensando: “que sorte a minha”. Quando era adolescente pensava que um gajo de 38, idade que tenho agora, era um “cota” em potencial. Já nos tempos do Liceu olhava para alguns professores na casa dos 30 com algum desdém. “Ai passaram pelos anos da ditadura? Que bom para vocês. Querem uma rua com o vosso nome ou uma medalha é suficiente?”. O sentimento era recíproco, e os velhadas olhavam para nós como fedelhos mimados e mal-agradecidos. Fomos baptizados de “Geração rasca”. Riam de nós com desprezo quando tentávamos produzir uma opinião mais elaborada sobre qualquer coisa. Eram uns invejosos, no fundo. Agora passaram mais de vinte anos e posso não ser mais um jovem, mas estes meus antagonistas batem-se agora com problemas na próstata, diabetes, reumatismo e disfunção eréctil – os que ainda estão vivos. Não se pode falar aqui de justiça poética. O tempo foi implacável para todos.

Mesmo assim não posso deixar de sentir alguma empatia com os velhotes a quem móia o juízo quando era puto, coitados. Mantendo-me fiel à tradição, penso que os putos dos dias de hoje são piores que os do meu tempo. Ainda acho graça e simpatizo coma malta nova quando têm oito ou nove anos, mas quando chegam à puberdade são acometidos de dois males próprios da idade: o acne e a parvoíce. Estou em Macau há vinte anos e vi muitos destes jovens nascer (não literalmente, claro) e crescer, e hoje muitos deles não são dignos nem de um esgar em forma de cumprimento. Alguns têm sorte de não levar um par de estalos. Olha para eles, que ainda parece que foi ontem andavam a cagar a fralda e hoje pensam que são gente. Olha para os macaquinhos agarrados aos iPhone a debitar inanidades como “duh”, “def” e “tipo…”. Quando é que os diálogos passaram a ser compostos por monossílabos inconsequentes e frases inacabadas? É isto que ensinam na escola?

Já me faz um pouco de confusão essa coisa do “short-typing”, que leva a que uma frase como “de onde teclas” se torne em “dtc”, ou que se escreva “pq” em vez de “porquê”, ou que se use e abuse do tal “lol”, que muita gente não sabe sequer o que quer dizer. Se “lol” significa “laughing out loud”, inglês para “rir alto”, o que é aquele “looooool” que tantos usam? “Laughning out out out out out out out loud”? Da maneira que se banalizam estes atentados à nossa lingua, qualquer dia temos “lol” no dicionário, a par dos seus derivados “lmao’ ou “roflmao” (se não sabem o que isto quer dizer, procurem saber, e vão ficar perplexos). Confesso que aderi à moda nos idos tempos do IRC, mas mais como estratégia de sobrevivência do que propriamente por convicção. Como não tenho amigos adolescentes ou infantilóides, abandonei o hábito. Sinto-me aliviado.

Não desprezo os jovens de hoje, a próxima geração, apesar dos excessos que ultrapassam a minha compreensão. Acredito que são o nosso futuro, tal como nos o éramos antes deles, e olhando para os resultados da minha geração, aquela que entrou no mercado de trabalho em meados e finais dos anos 90, não vejo razão para nos sentirmos orgulhosos ou no direito de dar conselhos. Se estes putos de hoje pensam que vão fazer melhor que nós, se calhar até têm razão – pior é difícil. Menos sorte tive eu, quando os “cotas” do meu tempo não davam nada por mim. Tinham razão, mas se calhar porque eles próprios não eram também nenhuns génios e falharam em pavimentar o caminho do sucesso para que eu o pudesse trilhar em condições. É uma desculpa que serve para todas as gerações.

O meu pai foi combatente no Ultramar e passou metade da sua vida sem saber o que era a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a democracia ou o multi-partidarismo. Quando saíamos à rua para protestar contra banalidades comos as propinas ou a PGA, dizia num tom muito paternalista que “os jovens de hoje não sabem dar valor à liberdade”. Se calhar tinha razão. Talvez por isso eu possa dizer agora o mesmo da geração que sucedeu à minha. Há ali muitos comportamentos e atitudes que no meu tempo davam direito a um par de estalos, ou pelo menos um safanão bem dado. E não se esqueçam de quem são agora, meninos. Diz o povo e com razão: “filho és, pai serás”. Só espero que a juventude que nos deixarem quando eu já for velho e senil não seja pior que vossa. Para que percebam melhor o que quero dizer, não nos deixem uma geração “tipo”, de “defs”, ya?

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