sábado, 6 de abril de 2013
A alternativa do alterne
Assisti ontem ao programa “Portugal em directo”, onde uma das convidadas me chamou a atenção. Tratava-se de uma “alternadeira”, uma mulher que ganha a vida trabalhando em bares entretendo clientes do sexo masculino fazendo uso dos seus atributos físicos. De um modo geral a ideia é incentivar os clientes ao consumo do serviço de bar, mas a profissão é vista pela maioria como uma forma de prostituição. O ofício de “alternadeira” é considerado degradante para a condição feminina. Insere-se na categoria de “prostituição de luxo”.
Os leitores que têm seguido o blogue sabem o que penso da prostituição. O caminho mais digno é o da legalização, de modo a acabar com a hipocrisia vigente, assim como a promiscuidade latente e o risco que esta profissão acarreta. Admirei a coragem daquela mulher, ainda jovem, ao dar a cara e deixar-nos ficar a saber um pouco mais do mundo em que vive. Podemos não concordar com a sua opção, mas é injusto fazer julgamentos de valor. Ficamos aterrorizados com a perspectiva de uma filha ou irmã nossa optar por esta vida, mas estas mulheres são todas filhas, irmãs e em muitos casos mães de alguém. Não terá sido de ânimo leve que decidiram levar esta vida como forma de pagar as contas.
O fenómeno da prostituição em Portugal é revestido de características muito singulares. Em Macau convivemos com as saunas, os clubes nocturnos, os casinos e toda uma rede bem montada que chega a ser convidativa a jovens atraentes oriundas de famílias pobres. Em Portugal a profissão está intimamente ligada ao drama, à desgraça, à degradação do tecido social e a degradação da instituição da família. É triste observar mulheres a prostituirem-se em locais como o metro, a auto-estrada, os parques públicos, ruas movimentadas e outros locais onde existe grande exposição. A figura do “chulo”, o indivíduo marginal que explora as mulheres garantido-lhes alguma protecção, é ainda recorrente na nossa cultura. O andar gingão, o bigodinho e o cabelo encharcado de gel, o chapéu de feltro inclinado para a direita, o fato às riscas, os sapatos engraxados, o cheiro a colónia barata e o tique da moeda ao ar são mais que um estereotipo. É quase como uma espécie de uniforme do proxeneta vulgar.
As pobres desgraçadas andam pelas ruas na “vida”(um eufemismo delicioso) são obrigadas a aturar os clientes do mais asquerosos que há. Velhos, bêbados, desdentados com hálito a bagaço, gajos com cicatrizes e deformidades evidentes, unhas encravadas, joanetes, chulé, doenças venéreas das antigas, de tudo um pouco. As que “atacam” na beira da estrada arriscam-se a levar com os camionistas, essa espécie solitária que encaixa que nem uma luva neste cenário de angústia. Após alguns anos na “vida” (outra vez...genial) qualquer jovem sã na Primavera da vida transforma-se numa bruxa corrompida e imunda, em alguns casos numa viciada, e não raras vezes a prisão faz parte do itinerário da “viagem”. No início dos anos 90 trabalhava durante os meses do Verão em Lisboa, apanhava o autocarro algures nos arredores da capital e depois o metro em Entre-Campos. Algumas vezes (bastante até) vinha no metro um anão com um aspecto marialva que saía sempre na estação do Intendente. O seu ar divertido deixava adivinhar que ia ali “às meninas”. Que vida tão triste, a destas garotas.
A prostituição de luxo é uma opção cujo preçário está ao alcance de poucos. São normalmente os empresários e outros patronos endinheirados que recorrem aos tais bares de alterne quase como se isso fosse uma obrigação inerente à sua condição. Homens anafados, de copo de whiskey na mão e charuto mal-cheiroso na boca, que passam os dedos grossos pelas pernas tenrinhas de jovens com um ar bem mais saudável que as pobres coitadas que “atacam” nas ruas. Os proprietários destes locais são eles próprios empresários, os tais “empresários da noite”, indivíduos com ligações ao mundo do crime organizado, da política, do futebol, em suma, dos senhores do dinheiro. Não sei qual é a despesa normal num desses bares de alterne, mas desconfio que será muito mais do que eu estaria disposto a pagar por uma companhia feminina, mesmo que furtiva.
No outro dia saí com um amigo, e passámos por um conhecido “spa” do território, onde estava estacionado um Ferrari à porta. O meu amigo comentou que “se tivesse um Ferrari, não seria difícil encontrar companhia do sexo oposto”, sem recorrer a um local onde se paga (e bem) por serviços sexuais. O problema é mesmo esse. A homens com dinheiro não faltarão mulheres interessadas…ou interesseiras? Pagando pelo “serviço”, que neste caso é com toda a certeza VIP, cumpre-se um contrato, vai cada um à sua vida e ninguém se chateia. É uma merda ser rico, pá. Nunca se chega a saber o que amor verdadeiro e desinteressado. Tirando esse pequeno detalhe, ser rico até parece ser uma boa ideia. Alguém interessado em trocar?
Acho que há pessoas que fazem opções na vida para enriquecer bem piores que a prostituição. As ditas prostitutas não estão a fazer mal a ninguém, não percebo porque são tão condenadas.
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