domingo, 3 de fevereiro de 2013

Chocolate


Chocolate, só a palavra em si nos deixa com água na boca. Quando pensamos em chocolate somos assomados de sensações de prazer, de doçura, de amor. Não existe nenhuma forma de associar o chocolate com algum pensamento deprimente ou negativo: onde há chocolate, há festa, alegria, graças por estar vivo e pela sensação do paladar, que nos deixa que esta pecaminosa delícia nos derreta na lingua e nos excite os restantes sentidos.

Tal como o café ou tabaco, o chocolate é um dos vícios marotos que nos dá cabo da saúde, mas de todos o que sabe melhor. A culpa é do maldito açúcar, que dá vida ao amargo cacau, a noz amarga intragável que depois de devidamente processada se transforma no delicioso chocolate. Cultivado nas Américas há mais de 3000 anos, o tal cacau foi levado pelos espanhóis para a Europa no século XVI – em boa hora, e congratulo-me que “nuestros hermanos” tenham contribuído com qualquer coisa para o bem da humanidade. Mais de três milhões de toneladas são cultivadas todos os anos, sendo a Costa do Marfim e a Indonésia os principais produtores. Os suíços e os belgas, povos nem sempre conhecidos pela sua simpatia ou humanidade, são os maiores especialistas na arte da chocolataria, e o seu trabalho é sinónimo de qualidade garantida, e apreciado em todo o mundo.

O cacau, que se confunde com o próprio chocolate, pode ser comido e bebido, e os antigos índios da meso-américa fumavam-no! Isto diz muito das suas propriedades estimulantes. O cacau quente contém quase tanta cafeína como o próprio café, e o que não falta são estudos que demonstram que pode ser “aditivo” – há quem não passe um dia sem comer pelo menos uma barra de chocolate. Fossem todos os vícios como este, e tinhamos um mundo cor-de-rosa. Imaginem que tudo o que snifava ou injectava era chocolate? Nada que não se pudesse resolver sem o lamentável custo de vidas humanas.

O chocolate tem um sabor que varia entre o estupidamente doce e o ironicamente amargo. Tudo depende da quantidade de leite e cacau. Sou um grande adepto do chocolate preto, aquele mais amargo, mas é reconfortante saber que se trata de chocolate na mesma, apenas num tom diferente. É apenas uma opção, mas não rejeito nenhuma as outras. A sua deliciosa multiplicidade apela à imaginação, e a sua confecção chega a ser uma forma de arte. Mas seja na modalidade de bonbon, quadrado, redondo ou em forma de coração, Pai Natal e outra bonecada, o chocolate é sempre um convite à doçura. Pode vir simples em barra, ou com recheio de creme, licor, frutos secos, nougat, massa-pão, côco-ralado, mil e uma coisas. Combina com quase todas as outras delícias da natureza, e quase sempre como o elemento envolvente.

O chocolate tem uma utilidade diversa na culinária, servindo de ingrediente principal ou apenas aromatizante às mais criativas e diversas sobremesas. A mousse, o gelado e o pudim de chocolate fazem a delícia dos maiores aficionados, os bolos ganham uma vida própria com uma injecção de creme de chocolate, uma pastelaria pouco criativa é reabilitada com uma cobertura de chocolate. O chocolate chama a atenção; tendo por onde escolher, é apenas humano preferir uma sobremesa com chocolate sobre outra qualquer sem chocolate. Nos gelados que aqueles senhores vendem na praia, a opção “fruta ou chocolate” é uma formalidade: ganha sempre o chocolate. O castanho escuro, uma tonalidade desagradável e inestética, redime-se completamente com a referência do chocolate.

Como não há bela sem senão, o chocolate é muitas vezes apontado como causa de doenças como a cárie dentária, a obesidade e a diabetes, e há mesmo quem sofra por não poder usufruír na totalidade dos seus prazeres. Isto apesar de existir um chocolate próprio para diabéticos e afins, uma opção tristonha (e cara) para quem não se pode lambusar com a mesma luxúria que o comum dos mortais. Como em todo o resto dos temperos que nos ajudam a dar sabor à vida, o chocolate deve ser consumido com moderação, por muito que nos custe estabelecer limites a esta verdadeira delícia digna dos deuses.

Falando de luxúria e de lambusice, o chocolate tem uma conotação pecaminosa própria da sua natureza gulosa. Fosse conhecido dos romanos, e certamente entraria nas suas célebres orgias. Uma boca borrada de chocolate tem um apelo que vai além da simples javardice; tem um “je ne sais quoi” de sexy. E o que dizer de um corpo lânguido de desejo besuntado de chocolate, aguardando uma língua voluptuosa que o lamba? Uma sugestão para os amigos satânicos: quando as velas vermelhas estiverem acesas em cima do pentagrama e os corpos nus atingirem o grau desejado de êxtase, usem o chocolate como substituto do sangue de virgem ou de outro animal inocente, e vão ver que Lúcifer aprova. É isso mesmo. O chocolate dá para tudo. Para que viva!

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