segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O enfant terrible do Sado


Nota: este artigo foi escrito antes da vitória de ontem do Real Madrid em Valência por 5-0, com dois golos de C. Ronaldo. Este facto não altera uma vírgula ao sentido e à pertinência do texto.

Confesso que nunca acreditei que José Mourinho se tornasse no grande treinador que é hoje. Conhecia-o dos tempos do Sporting e do FC Porto quando era “tradutor” do inglês Bobby Robson, segue-o para o Barcelona e rabalhou com Van Gaal depois disso, e foi com surpresa que Vale e Azevedo apostou nele para substituír o alemão Jupp Heynckes em 2000. José Mourinho, ou “Zé Mário” para os amigos, é filho do antigo guard-redes do V. Setúbal, Belenenses e Rio Ave, Félix Mourinho, que como jogador perdeu duas finais da Taça de Portugal, e como treinador perdeu uma.

Mourinho regressou a um FC Porto em crise em 2002, substituíndo Octávio Machado, e em apenas dois anos e meio ganhou tudo o que havia para ganhar: dois campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça, uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões. O bilionário russo Roman Abramovich, proprietário do Chelsea, levou o português para a Premier League, e o clube londrino venceu o campeonato nos dois primeiros anos, mais do que em toda a sua história. Os adeptos ingleses adoptaram o treinador que ficou conhecido por “special one”, e o carinho deixa-lhe ainda hoje as portas do futebol inglês escancaradas.

Além dos resultados, José Mourinho soube encetar uma operação de charme, e o seu cáracter polémico fez as delícias da exigente imprensa britânica, que nunca mais o deixou de seguir. Mas faltou a Liga dos Campeões ao Chelsea, e Mourinho foi despedido no meio da época 2007/2008, e na época seguinte aceitou um novo desafio em Itália, no comando do Inter de Milão. Com a concorrência enfraquecida devido ao “calcio caos” dois anos antes, não foi difícil vencer a Serie A na primeira época, mas em 2010 o treinador português vence o campeonato, taça e Liga dos Campeões, fazendo o seu primeiro “tri” perfeito. O feito permitiu-lhe assinar pelo Real Madrid com um projecto em que ambicionava ganhar tudo em dois anos.

Na primeira época ganhou a Taça do Rei, na segunda o campeonato com um recorde de pontos, mas tal como no Chelsea, faltou a Liga dos Campeões, indiscutivelmente o fruto mais apetecido para qualquer grande equipa. Esta época não tem corrido bem a Mourinho, e apesar de manter as hipóteses nas Champions intactas – apesar de defrontar o Manchester United nos oitavos, em Fevereiro – os “merengues” encontram-se no terceiro lugar da Liga a uma distância proibitiva dos arqui-rivais do Barcelona.

Os madrilenos têm sofrido com alguma anarquia que reina no balneário, com as prestações menos conseguidas de algumas das suas estrelas, e as polémicas entre Mourinho e alguns jogadores; primeiro Ricardo Carvalho, que passou de indiscutível a segunda opção, o guardião Casillas, que Mourinho chegou a deixar no banco contra todas as expectativas, e mais recentemente com Cristiano Ronaldo, com quem se “pegou” na última quarta-feira depois de um jogo da Taça do Rei. Não contribuiu para a estabilidade do Real o facto do treinador português ter manifestado praticamente desde o início da temporada a vontade de regressar ao futebol inglês, dando a entender que se encontra na capital espanhola a prazo.

Mourinho é um personagem que ou se ama, ou se odeia, e penso que ele faz de propósito. Pessoalmente desejo-lhe o maior dos sucessos, nem que seja por gratidão pelos títulos que ganhou para o clube do meu coração. Resta agora saber para onde vão estar apontados os holofotes num futuro próximo: para Espanha, onde os adeptos do Real anseiam pelo título europeu que lhes escapa há 10 anos, ou para o campeonato inglês, onde não faltam clubes que nao se importam com a arrogância de Mourinho, e gostariam de o ter no comando da equipa principal de futebol. Para nós, portugueses, resta esperar pela altura certa para o ter à frente da selecção nacional, cargo que prometeu exercer “um dia”. Nesse dia as expectativas serão elevadas, naturalmente.

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