terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Anti-crise? Prefiro a crise, obrigado


Quem já ficou acordado durante a madrugada com o televisor sintonizado na RTPi já assistiu com toda a certeza ao programa “Anti-Crise”. Não sei bem em que categoria se insere, mas desconfio que pelo entusiasmo dos seus protagonistas trata-se de um programa de humor. Ou de tentativa de humor, pelo menos. Não acho piada nenhuma ao “Anti-Crise”, mas as expectativas também não eram elevadas. O que se podia esperar de um programa apresentado por Carlos Marques, António Machado e Eduardo Madeira?

O primeiro até tem talento, mas apenas como actor. Como humorista é bastante requisitado, e graças à participação neste “Anti-Crise”, no “Herman 2012” e no “Estado de Graça”, será uma das poucas pessoas que aparece na televisão em Portugal todos os dias da semana. Só que não consigo achar piada nenhuma ao fulano. Não sei porque é que todos os personagens a que dá corpo são ora homossexuais, mulheres ou aparentam sofrer de alguma condição psiquiátrica grave. Mesmo as imitações que faz, e que podiam resultar bem, pecam pelo exagero. O material é bom, a imitação é bem feita, mas depois estraga tudo porque não se consegue comportar como uma pessoa normal. Se calhar isto tem mesmo muita piada, e é o meu gosto que está estragado.

O António Machado é conhecido por um tipo de humor mais popular, e assume as suas limitações com alguma humildade. É o menos mau dos três, porque é menos pretencioso e consegue por vezes executar o seu “boneco”, pois ao contrário do Carlos Marques, consegue representar sem que aparente ter um esquilo a subir-lhe pelas calças. Do Eduardo Madeira nunca sai nada que se aproveite. Não consigo encontrar uma característica que o redima, e por acaso até tinha alguma piada quando era vocalista dos Cebola Mol. Era menos irritante. O Eduardo Madeira é daquele tipo de pessoas que faz a festa sozinho, atira os foguetes e apanha as canas. Às vezes chego a duvidar que ele próprio se considere engraçado, e não percebo o entusiasmo com que executa os “sketches”, como que a dar a entender que a graça vai em crescendo, até ao climax final, que nunca chega a acontecer.

Nunca vi um episódio do princípio ao fim, mas dá a entender que os três se divertem a fazer o programa. Pelos menos há alguém que se diverte. O formato é o de um bloco informativo, com entrevistas a personagens interpretadas pelos actores, e pelo meio um inexplicável bloco de imagens de arquivo, às vezes com “replay”, e acompanhados de uma música de fundo cómica. Apesar de não entender o seu contexto, estas imagens são o mais interessante dos vinte minutos de duração do programa. No outro dia passaram alguns anúncios dos anos 60 que nunca tinha visto. No final rebolam-se por cima das mesas, puxam a roupa uns aos outros ou exibem a lingerie feminine que usam (?), e terminam com uma imitação de Ali G, personagem celebrizado pelo actor Sasha Baron Cohen, fazendo o gesto com os dedos e gritando “respect!”, várias vezes. Não me perguntem porquê.

Existem muitos humoristas com qualidade em Portugal. Os rapazes do Cinco para a meia-noite (e são logo cinco), os Gato Fedorento antes de se tornarem assalariados da Meo, o Bruno Nogueira, que deixou saudades com o “Lado B” são alguns bons exemplos. Mesmo o Herman, num dia bom, ainda consegue ter piada, e o Rui Unas, que não é assumidamente um humorista, consegue ser mais engraçado que alguns cromos que nos entram em casa quase todos os dias. Não faltando gente com potencial humorístico, somos massacrados com coisas como “Estado de Graça” ou este “Anti-crise”. Curiosamente a crise que o país atravessa tem sido o mote dos programas humorísticos ultimamente. Já é difícil fazer humor com uma coisa que de si não tem graça nenhuma, e depois ainda nos sai o Eduardo Madeira & cia. na rifa. Mas não liguem ao meu desabafo, eu andava a pedi-las. O programa passa na RTPi às três da madrugada, e a essa hora eu devia era estar na caminha. Mea culpa.

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