terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Outra vez aquelas compras...


Agora que o Natal se aproxima, chegou a hora de comprar os presentes. Para mim esta é uma tarefa pouco complicada, que reservo sempre para os últimos dias antes da consoada. É que não me apetece ter sacos e caixas espalhadas pelo chão da casa durante semanas, e ainda me arrisco a tropeçar em qualquer coisa, cair e arruinar o meu belo perfil. Além disso em Macau a maior parte das lojas estão abertas até à véspera de Natal, e até no próprio dia, caso seja preciso comprar uma prenda de emergência para uma antiga namorada que nos quer ver e matar saudades, ou algo parecido. Em suma, aqui é tudo muito descontraído, muito “man man” e “mou man tai”.

Deixem-me que vos diga, não tenho saudades nenhumas da azáfama pré-natalícia em Portugal, que entretanto vão sendo amenizadas com a alternativa das lojas dos chineses, os tais que ninguém gosta mas depois servem para desenrascar quando a senhora da perfumaria da esquina foi passar o Natal “à terra”, tendo fechado a loja uma semana antes. Depois são as encomendas, que têm que ser feitas com semanas de antecedência, o trânsito infernal e os transportes públicos cheios, enfim, é uma época em que os únicos locais que estão às moscas são os empregos. E tudo temperado com muito frio e chuva.

Para os adultos é muito mais fácil comprar presentes de Natal; um livro, um disco, um filme, uma garrafa de whiskey, uma colónia, um cachecol, um after-shave, um faqueiro e o respectivo conjunto de facas japonesas para aquele casal que discute sempre muito e de que já estamos um pouco fartos, enfim, qualquer porcaria serve. Quem tem um orçamento mais reduzido pode optar por uma das lojas da Daiso, que tem uma variedade imensa de lembranças a preços bastante acessíveis. Olha, podem comprar lá as tais facas e tudo. O que importa “é a intenção”, que é uma coisa que aprendemos um dia durante a vida. Ficamos comovidos se um amigo esquecido nos manda um postal de boas-festas, mesmo que fique exposto na secretária alguns dias e vá parar ao caixote do lixo depois do Ano Novo. O que me irrita mesmo, e não me levem a mal, são aquelas pessoas que mandam mensagens de telemóvel padrão a toda a gente na lista, do tipo “votos de um Feliz Natal”. Epá, tenham dó! Se não têm tempo para ligar ou mandar a cada um uma mensagem personalizada, então não se incomodem.

Para as crianças é muito mais complicado. Os miúdos têm expectativas elevadas no Natal, e ficam especialmente irritados quando recebem uma camisola de lã – que “pica” e é foleira – ou um par de meias, normalmente prendas oferecidas pelos avós, pessoas friorentas que se preocupam muito com a gripe dos meninos. Mas camisolas e meias já eles têm aos pontapés, e os velhos levam sempre um seco “obrigado” com um beijinho de comiseração, como quem diz “coitados, que a demência já começa a tomar conta deles”. Se tivesse sobrado qualquer coisa da mesada até lhes compravam um pacote de fraldas para adultos, para os velhotes passarem um Natal sequinho. Como compreendo os putos, pá. Eu próprio queria cenas fixes no Natal. Andei o ano todo à espera, e a menoridade serve exactamente para recebermos prendas boas, para não nos tornarmos pessoas amargas e avarentas que mais tarde vão oferecer prendas de merda aos outros quando chegar a sua vez de ter estas dores de cabeças anuais.

Mas também entendo a angústia dos pais, onde me incluo, é claro. Como temos mais que fazer, é quase impossível andar a par das últimas modas dos jogos electrónicos e toda essa porra que esses cabeçudos das milionárias empresas de software nos impingem. Para os adolescentes, com mais de 13 anos, basta dar-lhes dinheiro e eles ficam contentes, e para os bebés com menos de um ano até pode não lhes dar nada, que eles não lhe vão guardar rancor. Para os mais pequenos e ingénuos que ainda acreditam no Pai Natal, há um truque que nunca falha: semanas antes do Natal pedimos-lhes para escrever uma carta ao barbudo a dizer que prendas querem no sapatinho, que depois “metemos no correio”. Depois é só ler a lista, e ter acesso a esta informação privilegiada. O pior é que às vezes a lista é tão extensiva que ultrapassa o próprio subsídio de Natal, mas aí é só comprar duas ou três prendas mais fáceis de encontrar e depois explicar-lhes que o resto “ficou retido na alfândega por excesso de peso do trenó”. Ou inventar uma greve qualquer dos trabalhadores do “handling”. Para aqueles miúdos mais parvos que pedem “um cãozinho” ou “um gatinho” ou outro ser vivo que depois só vai dar trabalho aos pais, basta dizer que não passaram na quarentena. Eles acreditam.

Os miúdos estão cada vez mais espertos e cada vez mais materialistas. Nenhum vai pedir para o Natal “paz no mundo” ou “uma anca nova para a tia que caíu das escadas”. O pior é que às vezes pedem-nos coisas de que nunca ouvimos falar, e ficamos com vergonha de perguntar do que se trata exactamente, para não passarmos por “cotas” ultrapassados. Se calhar devia existir alguma revista mensal do género “Pai Moderno”, onde fossem apresentadas em linguagem adulta as últimas novidades do mercado. E já agora podiam ser os cabrões dos gajos que nos vão à carteira quando inventam essas porcarias a compilar essa lista. Mas também não é preciso ser um génio para agradar aos miúdos, e às vezes basta oferecer-lhes qualquer coisa de útil que não seja muito “adulta”. Os miúdos querem que nos lembrem que ainda são crianças quando chega o Natal. Assim, e graças a uma técnica de meditação transcendetal tibetana que nunca aprendi, vou voltar aos 8 anos de idade e publicar uma pequena lista de 14 prendas que NÃO deve dar ao seu filho neste Natal, apesar de se sentir tentado a fazê-lo:

1) Roupa Interior. Isto deixa-os envergonhados em frente do resto da família.

2) Legos. Sim, é a marca de brinquedos mais vendida do mundo, mas curiosamente são os adultos quem mais brinca com eles.

3) Livros sem ilustrações ou literatura juvenil. É bom incentivar o gosto pela leitura, mas os miúdos depois têm tempo de ler a Ana Maria Magalhães e a Isabel Alçada (que facturam sempre muito nesta quadra), se estiverem realmente interessados.

4) Colecções de selos e/ou moedas. Têm valor para si, mas a eles não lhes diz nada.

5) Discos do Avô Cantigas ou das Canções da Minha Escola. O Carlos Vidal e companhia que me desculpem, mas isto é o mesmo que oferecer discos do Tony Carreira ou do Toy a um adulto que não tenha revelado sintomas de retardação mental.

6) Pianinhos, guitarrinhas ou kits de bateria. Sejamos realistas: não vai ser com pianos ou guitarras ou baterias de plástico que o seu filho se vai tornar um virtuoso. Eles brincam com aquilo dois dias e depois atiram a um canto.

7) Parafernália relacionada com os Pokémon. Os miúdos de hoje já não sabem o que isso é, e partiram para outra.

8) Brinquedos de encaixe feitos em madeira, piões, berlindes, papagaios de papel e outros que faziam a alegria da pequenada em 1922. Não faça os seus filhos perderem o respeito que têm por si.

9) Carrinhos de brinquedo que não sejam telecomandados. E mesmo que opte por estes últimos, certifique-se que funcionam mesmo.

10) Canas de pesca, tacos de golfe e outras coisas que gostava que lhe oferecessem a si. Não se esqueça que o Natal é a festa da criançada por excelência.

11) Kits de magia ou de química, a não ser que os miúdos revelem alguma apetência especial. E mesmo nesse caso isto pode-lhes parecer muito básico. Não lhes imponha o gosto por algo que eles nunca demonstraram interesse.

12) DVD’s de filmes da Disney e afins que eles não viram. Se ainda não viram é porque se calhar não querem ver. Se por acaso pediram um filme que você não gosta, não finja interesse sentando-se ao lado dele uma hora e meia a fazer um frete. Os miúdos de hoje farejam a hipocrisia a milhas.

13) Pistolas de plástico e brinquedos de guerra em geral. Tenho um amigo que defende que se deixarmos os miúdos brincar com armas de fingir quando são pequenos, não vão querer usar armas de verdade quando forem adultos. Posso estar enganado, mas exerço o direito ao contraditório e penso que o o meu amigo está tragicamente equivocado.

14) Finalmente, no caso de ter um filha, evite oferecer-lhe aqueles ridículos conjuntos de cozinha com cenouras e tomates de plástico, ou aqueles bebés que são amamentados com uma teta falsa. Prefere que ela venha a ser uma mulher independente e de sucesso ou uma dona de casa que leva porrada do marido?

E estas são apenas algumas sugestões do que não deve fazer. Agora use a sua imaginação, e já agora boa sorte, e boas compras!

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