terça-feira, 13 de novembro de 2012
E agora a serenidade
Está de saída o cônsul-geral de Macau, Manuel Cansado de Carvalho, que depois de um consulado de três anos é substituído por Vítor Sereno. "Sai Cansado, entra Sereno", lia-se na imprensa em português do território na passada semana. Quero acreditar que esta coisa dos nomes é apenas uma (engraçada) coincidência, e nem me passa pela cabeça que a malta dos MNE esteja a brincar com a malta aqui em Macau.
Que balanço faço dos 3 anos de consulado de Cansado de Carvalho? Na prática o mesmo que faço dos anteriores: discretos, cumpridores e diplomáticos. Trata-se de diplomacia, uma coisa que não está ao alcance de muitos. Se calhar às vezes apetecia-nos que o nosso representante diplomático partisse a loiça toda, que nos ajudasse a resolver os nossos problemas, sei lá, que interferisse em decisões políticas que nos maçam ou que nos prejudicam, tudo isso. Mas não é para isso que aqui está. Serve apenas para representar a República, tratar disso dos passaportes, receber as individualidades da República e pouco mais.
Se há quem faça um balanço negativo deste consulado que agora finda, fico sem perceber bem a razão. Se por acaso uma das funções do cônsul-geral é de atraír investimento português para o local onde se encontra (desconheço se é) terá estado ao nível dos anteriores. Aliás lembro-me aquando da saída de Pedro Moitinho de Almeida alguém lhe ter tecido loas, sendo "muito difícil substituí-lo". Não sei porquê. Não foi grande admirador de Pedro Moitinho de Almeida e se havia algo em que Cansado de Carvalho tinha vantagem era em ser mais humano, mais simpático, mais sorridente, mais sociável. Fui o único cônsul com que conversei por mais de dois minutos.
O deputado José Pereira Coutinho, que como se sabe é também presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas, apontou como falha o facto de alguns cidadãos de etnia chinesa que se deslocaram ao Consulado terem encontrado obstáculos na comunicação, uma vez que "não percebem português". Por acaso queixo-me exactamente do contrário; a última vez que estive no Consulado-Geral todas as informações dadas às pessoas que esperavam na fatídica fila das 8 da manhã para obter uma das 20 senhas do dia eram dadas em chinês, o que me irritou, naturalmente. Quem se desloca ao Consulado-Geral de Portugal, que é território português onde vigora a lei portuguesa, só pode esperar que a língua em que se comunica seja o português. E então depois o chinês. Entendidos?
Quanto a Vítor Sereno, é mais um ilustre desconhecido, como eram Carlos Frota, Moitinho de Almeida ou Cansado de Carvalho. Passou por sítios tão díspares como a Argentina (onde deixou muitos amigos, ao que parece), Guiné-Bissau ou Alemanha, e antes de Macau chefiava o gabinete do (polémico) Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas. Desconhece por completo a região onde vai agora exercer funções, precisará de tempo para se integrar e inteirar da situação do Consulado-Geral, e pronto, só me resta desejar-lhe boa sorte. É ainda um jovem, e isso pode jogar a seu favor. Daqui a três anos sairá, e outro entrará. E é assim a roda-viva dos consules em Macau. É bom que não nos afeccionemos muito a eles.
Aí está o problema. Se há portugueses que não entendem nada de português então o que é que fazem eles com nacionalidade portuguesa? É a lei do oferecimento da nacionalidade lusa ao desbarato. Se não se identificam minimamente com Portugal não merecem ser portugueses.
ResponderEliminarSe a condição para obter nacionalidade de um país fosse entender a língua, quase 10% da população americana teria de ser expulsa por usar o espanhol, chinês e russo como língua principal e dominar pouco ou nada o inglês.
ResponderEliminarNo Reino Unido seria perto de 5%.
E não devia ser assim, Anónimo? Nacionalidade vem de nação e o que caracteriza uma nação é a existência de um povo com valores comuns. A questão não é usar a língua da nacionalidade como língua principal, a questão é não ter nada que identifique esses "portugueses" a Portugal. Agora por causa disso lembrei-me do outro "português" que era um chinês étnico que foi condenado à morte na China por tráfico de droga. Portugal, com certeza, que ficou muito incomodado com a morte de um dos "seus".
ResponderEliminarOra ora, não era este mesmo "patriota" que defendia que todos aqueles nascidos em Macau eram macaenses? Sabe, por acaso, falar cantonês, ou sequer português à moda de Macau?
ResponderEliminarAs opiniões não se discutem, mas a coerência sim. A questão da cidadania está legislada. Em Portugal, contrariamente ao que se passa na China, por exemplo, tem direito à cidadania todo aquele que tem ascendência portuguesa ou que tenha nascido em território português.
O que não invalida que eu concorde com o Leocardo acerca da língua falada no consulado, a qual deverá ser sempre o Português em primeiro lugar, visto que é a língua oficial.
Se te referes a mim, Paulo Oliveira, podes ter a certeza que eu falo sim cantonense - como se isso tivesse alguma coisa a ver com o assunto em questão, mas caga nisso... E se todos os que nascem em Macau não são - logicamente - macaenses, então são o quê? Alentejanos? Londrinos? Talvez marcianos, não?
ResponderEliminarTodos os que têm ascendência portuguesa, nascidos em território português e que mais? Não se pode ser português através do matrimónio ou por naturalização também? Deves achar que és daqueles que ensinam os pais a fazer filhos...
Vem falar de coerência comigo quando vires "portugueses" com fronhas amarelas ou negras e que não sabem sequer um pio de português e que - surpresa! - nem sequer sabem onde é que fica Portugal... ou mesmo o que é que Portugal é. Ai em Macau deve haver poucos "portugueses" desses, deve. Serão os teus irmãos da despátria?