segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Uns abanam, outros caem
1) Foram entregues os prémios Nobel, e mais uma vez o "melhor" foi deixado para o fim. Depois dos prémios de mérito científico, sempre mais objectivos e por isso menos passíveis de discussão, foram entregues os nobéis da Literatura e da Paz, sempre com o seu quê de polémico. O da Literatura foi para a China, pela primeira vez (Gao Xingjian é tecnicamente cidadão francês), e para Mo Yan, um escritor alinhado com o regime, o que foi visto por muitos como uma tentativa de reconcialiação da Academia sueca com o regime chinês. O artista dissidente Ai Weiwei foi uma das vozes mais críticas, alegando que Mo Yan é uma pobre escolha, e que em nada ajuda o combate à censura na China, entre outros argumentos altamente politizados. Não sei porque é preciso politizar o Nobel da Literatura, nem acho que exista uma regra de que os laureados chineses tenham que ser obrigatoriamente dissidentes. O Nobel da Paz, esse, foi para a União Europeia. Curioso, logo numa altura em que a UE vive uma das suas maiores crises de sempre, e o ano foi tudo menos pacífico em países como Portugal, Espanha, Grécia ou Itália, onde a contestação subiu de tom devido às medidas de austeridade impostas por quem realmente dita as regras do jogo: a Alemanha e a França. Terá sido mais uma "private joke" da Academia, como quando em 2009 atribuiram o Nobel ao presidente norte-americano Barack Obama. Henri Dunant, La Fontaine e Martin Luther King devem estar a dar voltas na cova.
2) Mais um prédio a "abanar" em Macau, desta vez o Edif. Koi Fu, situado na Estrada do Repouso, perto do cinema Alegria, e não muito longe do tal Sin Fong, que tanta tinta fez correr na passada semana. Aparentemente a zona do Patane anda mesmo aos caídos, decadente e abandonada, a pobrezinha. Desconhece-se se algum empresário "pato bravo" ou deputado vivam nessa zona. O exemplo do Sin Fong parece ter sido mesmo o grito de alerta que há muito fazia falta em Macau. Antigamente ninguém se importava com os maus acabamentos, com as infiltrações ou com as rachas nas paredes, mas isto agora pode mesmo significar a ruína, e em casos extremos pode mesmo significar a tragédia e a perda de vidas humanas. "Ai se ele cai", pensam agora os residentes dos prédios antigos de Macau que antes não se importavam de viver em edifícios condenados com escadas sempre húmidas e sujas e caixas de contadores de electricidade arcaicos com fios suspeitos a sair de fora, Para mim este aviso do Sin Fong é sinal de evolução. Talvez assim se repense na foram como se constrói em Macau, que tem sido completamente alheia à estética e à segurança, tudo em nome de encaixar mais milhões nas contas bancárias de alguns enfiando os pobres residentes em verdadeiras caixas de fósforos.
3) Uma notícia que me deixou triste foi o fim aunciado do restaurante Riquexó, situado na Av. Sidónio Pais, para o final deste ano. O restaurante serve há 35 anos a típica comida macaense, desde o minchi ao porco Bafassá, passando pela capela e o Porco tamarinho balichão, tudo quitutes que só de pensar fazem-me crescer água na boca. Vou ter imensas saudades do meu favorito, o Chai di Bonzo, o melhor prato vegetariano do mundo. Mas tudo que tem um início tem obrigatoriamente um fim, e os responsáveis daquele espaço "já não têm a mesma genica", e parece que o espaço já foi vendido, e as rendas dos espaços comerciais - aí está - não dão para pensar em novas aventuras. Assim termina mais um aspecto cultural importante do Macau antigo, que se vai dissipando sem que as novas gerações tenham vontade de carregar esta herança, que nem é assim tão pesada quanto isso. Os segredos da culinária macaense e algumas especificidades da sua cultura vão-se perdendo, porque parece que os jovens macaenses de hoje têm mais vontade de se "adaptar", e optam por caminhos mais diversos dos seus pais e avós, e alguns de cariz bastane duvidoso. Mas sim, vou ter saudades do Riquexó, e de certeza que não vou ser o único.
Quanto ao terceiro ponto, pergunto para que servirá a Confraria da Gastronomia Macaense? Não devia envolver-se e tentar encontrar uma solução de continuidade, ou uma alternativa?
ResponderEliminarÉ uma pena que acabe assim um dos ultimos restaurantes de comida macaense genuina em Macau..
A Confraria é mais para jantaradas e passeatas que é o que o pessoal gosta.
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