terça-feira, 25 de setembro de 2012

Olha, comam m....!


Valha-nos Kun Iam, que está tudo cada vez mais caro! Tudo mesmo. Já enjoa falar nisso da habitação, que como se sabe é um de fartar vilanagem. E a carne? E o peixe? E os ovos? E a fruta e legumes? E os alcóois e restantes entorpecedores? A inflação é tão galopante que já seria uma aposta segura nas corridas de cavalo a trote, e o que vai fazer o Governo em nome do poder de compra e da qualidade de vida dos seus cidadãos. Nada! Olha, talvez mais cheques, porque não? As empresas de distribuição de alimentos já garantiram que para o ano aumenta tudo outra vez, e é melhor começar tudo a apertar o cinto. Ou como diz o Pedro Fernandes naquele vídeo "Gamar com Style", publicado aqui ontem, em vez de vaca "comam soja". E mesmo assim essa também vai encarecer.

Não sou habitual frequentador de mercados municipais e o seu sortido de cheiros e de peixes a abanar a cauda e dar-nos um banho que não pedimos, nem do nauseabundo cheiro a penas e cocó de aves, ou daquela carne de vaca (búfalo?) rija como os cornos de quem a vende. Nem daquelas lojas de vegetais que parece que se viram gregos para aqui chegar - ainda no outro dia paguei 14 patacas por dois pés de bróculos meio moribundos, e à hora que saio do trabalho toda a alface que resta é assim muito murchinha, deprimida, acompanhada com uns bak chois pisados e cebolas que já têm aquelas mosquinhas pequeninas à volta. Ainda não compreendo que justificação dão estas pessoas para aumentar os preços. Melhorou a qualidade? Nada disso. É tudo mais caro agora, freguesa.

Para mim é mais supermercado, com a galinha congelada (do Brasil, sempre mais tenrinha e fiável que esta dos mercados), o peixe congelado de Portugal, mais uma ou outra costeleta de vitela, ou joelho de porco, ou mesmo camarão congelado, que pelo menos não sabe a água de aquário, como aquele dos mercados. Mas até aí a lei da selva disfarçada de "mercado livre" dita as suas regras; as rendas estão cada vez mais caras, e ai Jesus, qualquer dia alguém que não seja proprietário de uma moradia mais um estabelecimento comercial torna-se escravo desse tal capitalismo vigente em Macau. Segundo algumas cabecinhas pensadoras, "produto do segundo sistema". Se isto é o segundo sistema, que bela bosta de sistema que é. Escusado será dizer que os restaurantes, tascas e vendedores ambulantes de arroz frito com chouriço chinês vão usar este argumento para aumentar cada vez mais os preços.

Esta léria do "mercado livre" serve para justificar tudo e mais alguma coisa. É certo que qualquer um pode obter lucro através de outros menos sortudos, e é tudo uma questão de oportunidade. Quem foi "espertalhão" e se abifou ao comércio ou ao imobiliário na altura em que estava "baixo" é hoje um grande "empresário", e pode mesmo viver das rendas, como fazem os seus maninhos de Hong Kong, onde pelo menos os salários garantem aos cidadãos uma melhor qualidade vida. Uma família em Macau em que ambos os cônjuges ganhem dez mil patacas por mês e tenham dois filhos precisa de uma ginástica orçamental para comportar rendas, despesas escolares, com alimentação, vestuário e tudo mais. É uma realidade dura, e não me surpreende que cada vez mais pedidos de ajuda cheguem à Cáritas e outras instituições de caridade.

Nesta corrida louca pelo enriquecimento não se olha para o vizinho que se despistou. O deserto de ideias é imenso, e para perceber isto é interessante olhar para a entrevista ao deputado Paul Chan Wai Chi, da ala democrática, no Hoje Macau de hoje. A Assembleia Legislativa, orgão máximo legislador da RAEM, é composto por uma maioria de indivíduos que estão lá para "ganhar o seu", defender interesses e não deixar que a "parva" da democracia se intrometa nos seus negócios. Fazem falta políticos profissionais, que se interessem por isso da "coisa pública'". As leis são praticamente todas elaboradas por jusristas cabeçudos- s tais que todos conhecemos - que operam nos bastidores, e aos deputados apenas compete aprovar e reprovar - conforme as suas conveniências.

A forma como funciona este "sistema" resume-se basciamente a um "pode quem quer". Quem tem uma massa de 10 mil alminhas votantes com os empregos dependentes deles, ganha um lugar no hemiciclo com facilidade, mesmo tendo apenas a quarta classe - basta ter dinheiro. O lobbyismo ganha um novo significado nesta mescla de eleições directas e indirectas, tudo serve para marcar o golo. Assim vamos vivendo nesta RAEM sem regras nem limites. A couve vai estar mais cara amanhã, mas ó amigo, é assim que funciona o mercado livre. Não é isso que quereis? E se não gostam dos preços, olha, comam merda!

5 comentários:

  1. Leocardo, para comer merda é preciso antes ter comido alguma coisa. Ora se está tudo cada vez mais caro, então do mesmo modo também a merda está a ficar cada vez mais inacessível!!

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  2. Ora meu caro anónimo, quando digo "merda" é no sentido lato, não no específico. É uma "merda" qualquer, está a entender?

    Cumprimentos.

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  3. O seu último comentário diz tudo. Pensavam que Macau seria um paraíso eterno? Mas se ainda por aí estão então é porque ainda vai valendo a pena aí estar.

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  4. PS. Pedir ajuda à Cáritas? Os que precisam de ajuda são católicos? Hmmm pois, quando se trata de pedir ajuda, as instituições da maldita Igreja Católica já servem... :)

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