quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Astronautas, atletas e outra fauna
1) Os astronautas chineses, tripulantes da Shenzhou-9, passaram por Macau nos últimos três dias. Milhares de residentes da RAEM atropelaram-se para ver os seus "heróis", num clima de grande exultação nacionalista. Sinceramente não tenho nada contra os tais taikonautas, que parecem gente simpática, inteligente, e que para variar até vieram aqui dizer qualquer coisa de jeito. O que não se aceita é a histeria e a idolização por absolutamente nada. E curioso que a China insista num programa espacial, quando as outras duas potências da conquista do espaço - os Estados Unidos e a Rússia - desinvestem a olhos vistos. E de seguida vêm aí os atletas olímpicos medalhados nas últimos jogos em Londres, e espera-se mais uma forte adesão dos patrioteiros locais, de bandeirinha em riste e gritinhos de bajulação, numa cerimónia perfeitamente coreografada, escrutinhada, selecionada. Uma falta de espontaneidade impressionante, tudo em nome do tal "amor à Pátria", quando se sabe muito bem que tanto astronautas como atletas olímpicos, esses "he'róis", vêm cá receber "o deles". Vocês sabem muito bem do que estou a falar, parafraseando o Octávio Machado. Para quê implementar a tal educação patriótica, de que os vizinhos de Hong Kong se queixam agora, em Macau? Ela já existe, é servida em colherzinhas de chá um pouco todos os dias, e os oumunian são mesmo bons alunos. Claro que durante estas visitas só os bons meninos se aproximam dos "heróis", e as perguntas incómodas ficam de fora. Eu por acaso só gostava de perguntar uma coisa aos tais taikonautas: o que sentem quando aquilo começa a subir? Eu cá borrava-me todo...
2) Tenho notado um aumento no número de visitantes de Portugal na RAEM, o que é bom, sem dúvida. O problema é que alguns dos nossos compatriotas, provavelmente acabadinhos de sair da Aldeia da Roupa Branca pela primeira vez na vida, comportam-se como autênticos saloios nas ruas de Macau. Grunhos da pior espécie. Existe aqui perto de casa uma alfaiataria chamada "Victor Emanuel", que diz na porta, ora, "Alfaiataria Victor Emanuel". Há duas semanas deparei com dois casais da tuga a fotografar aquilo, completamente embasbacados, e a dizer "olha...está escrito em português, 'tás a ver?", com o arzinho mais idiota do mundo, um orgulho besta sabe-se lá do quê. Esta manhã ia eu a passar pela Rua da Palha e em frente de uma vendedora ambulante de chu chong fan estava uma outra turista portuguesa a dizer ao marido: "Olha o que é aquilo? Parece lulas...". Lulas? Por amor de Deus. Depois há aqueles que pensam que são muito engraçados e fazem comentários idiotas e por vezes insultuosos aos chineses (qualquer dia têm uma surpresa). Faz-me lembrar um episódio durante a noite da transferência de soberania, que assisti em directo do Largo do Senado, e onde alguns visitantes portugueses riam dos nomes dos dirigentes chineses. Quer dizer, venham cá que a gente gosta, mas respeitem um pouco a cultura dos outros. O que iam achar se um turista chinês fosse a Fátima e risse dos fiéis que atravessam o santuário de joelhos? E olhem que isso dá mesmo vontade de rir....
Esta treta da visita dos taikonautas e dos medalhados olímpicos e da oferta dos pandas e da exposição dos tesouros nacionais, tudo sempre altamente instrumentalizado e coreografado para elevar o amor à pátria e ao partido até mete nojo.
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