terça-feira, 27 de março de 2012
A nossa Liga de Elite
Arrancou no último fim-de-semana a segunda volta do campeonato de futebol de Macau, conhecido por "Liga de Elite". O nome tem imensa graça, atendendo à forma como o desporto-rei é (mal) tratado em Macau, e onde o interesse é bastante relativo. Já tinha falado aqui várias vezes do futebol de Macau, infelizmente sempre pelos piores motivos, mas este ano muita coisa mudou. Para melhor? Não. Para diferente.
Falemos então da liga principal, a tal de "Elite". Muitos clubes reforçaram-se este ano, especialmente com jogadores estrangeiros. As principais estrelas macaenses jogam também nos clubes principais. É um bocado complicado perceber onde vão estes clubes buscar dinheiro para reforços, uma vez que não existem receitas televisivas, os patrocínios de empresas são praticamente inexistentes, e os (muito poucos) espectadores que vão ver os jogos não pagam ingresso. Muitos dos jogadores estrangeiros que pontificam n futebol macaense são originários de Portugal ou do Brasil, estes últimos em alguns dos casos formados em grandes clubes do país do futebol. O facto de terem vindo parar ao campeonato de Macau - e não desfazendo - é uma opção de carreira "suicida", na falta de uma palavra melhor.
É que não quero dizer com isto que os jogadores não têm qualidade; é o futebol de Macau propriamente dito que continua muitos furos abaixo dos restantes da Ásia. Se a ideia é usar o campeonato local para "dar o salto" para a China, não sei, mas a nossa "Liga de Elite" está para a Superliga chinesa como o campeonato do INATEL está para a Liga Sagres em Portugal. A população local ignora por completo o campeonato de futebol - talvez porque não dê para apostar nestes jogos, e como se sabe os chineses não vêem os jogos se não puderem apostar. Basta perguntar ao cidadão comum quais as equipas que disputam a Liga de Elite, e duvido que muitos saibam dizer pelo menos uma ou duas. De quem é a culpa? Não se sabe, mas isto do futebol "é uma brincadeira", e como se sabe em Macau não se brinca.
Falemos então da competição propriamente dita. A Liga de Elite é actualmente liderada pelo Windsor Arch Ka I, que será provavelmente a equipa mais endinheirada. Bi-campeões pela mão de Rui Cardoso, são actualmente treinados pelo brasileiro Josecler (não "José Cler" ou "Josicler" como já vi por aí escrito), radicado há vários anos no território. Um indivíduo com um porte atlético de fazer inveja aos próprios atletas. O Ka I, como é mais conhecido, conta com um contingente de jogadores brasileiros, especialmente do meio-campo para a frente, que fazem toda a diferença. Lideram a prova com cinco pontos de vantagem sobre o segundo classificado, têm o melhor ataque e a melhor defesa, e pronto, está tudo dito. O campeão estará já encontrado.
A partir do 2º lugar o campeonato torna-se mais interessante. Lá encontramos o Monte Carlo, um dos gigantes o futebol macaense, já há vários anos propriedade do empresário (?) local Firmino Mendonça. O Monte Carlo é orientado por um português, um tal de Paulo Bento, homónimo do nosso selecionador nacional. A equipa conta com alguns internacionais macaenses (Geofredo Sousa, Domingos Chan) e vários jogadores de etnia chinesa, mas mais uma vez a frente de ataque está entregue a jogadores brasileiros, onde pontifica um tal Fabrício Lima, com sete golos apontados em 10 partidas.
Apenas dois pontos atrás do Monte Carlo está o Benfica de Macau, recém-promovido, e orientado pelo tal Rui Cardoso, uma espécie de "Mourinho de Macau". Passando o exagero, Rui Cardoso é (tem sido) uma das poucas pessoas que leva o futebol na região a sério. Esteve à frente da escolinha de futebol do Benfica, levou o FC Porto de Macau da terceira á primeira divisão, e foi bi-campeão pelo Ka I. É também um dos maiores críticos da política da FFM, e quero aceditar que fala verdade quando diz que quer que o futebol de Macau evolua. Apregoa no deserto, aparentemente. Voltando ao Benfica, estes reforçaram-se trazendo quatro jogadores que alinhavam em escalões secundários em Portugal, bem como alguns que já se encontravam no território e tiveram destaque noutros clubes. A época começou com uma grande dose de optimismo, mas a falta de experiência arredou os encarnados da luta pelo título. Nada mau, para primeira época na Liga de Elite.
Seguem-se na classificação os clubes "chineses", que é como quem diz, os que menos investem em portugueses e brasileiros. Assim o Kuan Tai, o Lam Pak e a Polícia lutam pelo quarto lugar. O Kuan Tai é a grande surpresa do campeonato: reforçou-se com vários jogadores da China continental, e vai batendo o pé aos grandes, quando deles se esperava que lutassem pela permanência. O Lam Pak é provavelmente o clube com maiores pergaminhos no futebol local. Campeões crónicos durante os anos 90, perderam muito do elan que tinham, mas continuam a ser uma referência. A equipa da Polícia é inteiramente constituída por agentes da PSP, o que não deixa de ser uma curiosidade engraçada. São outro "histórico", e juntamente com o Lam Pak o único clube que disputa a liga principal do território há pelo menos 20 anos consecutivos.
As "curiosidades" aumentam à medida que vamos descendo na tabela classificativa. Nos quatro últimos lugares estão o FC Porto, o Lam Ieng, os sub-23 e o Hong Ngai. Descem duas equipas, mas como os sub-23 não descem e o Hong Ngai soma derrotas em todos os jogos, a última vaga é disputada pelo Porto e pelo Lam Ieng. O FC Porto desinvestiu na equipa em relaçào a anos anteriores, e parece estar a ter dificuldades em sair dos últimos lugares. Perdeu vários jogadores importantes, e tem como principal estrela o cabo-verdiano Alison Brito, que é líder da lista dos melhores marcadores, com 13 golos em 10 jogos. O Lam Ieng é a equipa satélite do Lam Pak, pelo que em caso de necessitarem de uma "ajudinha" do clube-sede, jogam com eles na última jornada. Interessante, isto.
Quanto os sub-23, equipa patrocinada pela Associação de Futebol de Macau, serve para que os talentos formados no território tenham oportunidade de jogar, e com isso "aprender", e "ganhar competitividade". Não sei se esta política alguma vez dará frutos, mas a verdade é que a selecção de Macau continua a ser humilhada sem dó nem piedade em praticamente todas as competições internacionais em que participa. Talvez ganhem entrosamento algum dia. O que é inédito em qualquer liga dita de "elite" é que estes jovens não podem descer de divisão, por muito mal que fiquem classificados. Finalmente temos o Hong Ngai, um clube que raramente tem 11 jogadores disponíveis para alinhar nos jogos do campeonato. Estão em último só com derrotas, têm dois golos marcados e 55 sofridos. Pensava que fossem desistir no final da primeira volta, mas apresentaram-se com 11 jogadores no Domingo frente ao Lam Ieng, e "só" perderam por duas bolas a zero.
As queixas dos dirigentes e técnicos que levam isto mesmo a sério são sempre as mesmas: falta de campos para treinar, calendários mal organizados, enfim, muito amadorismo, pois no fundo é disso que se trata: de um cmpeonato amador. Quem se interessa pela Liga de Elite pode ver os resumos dos jogos no canal 1 da TDM no programa TDM Desporto, nas noites de segunda-feira, ou seguir a página do Facebook MACAU FOOTBALL NEWS GAZZETTE (ena!), da responsabilidade do jornalista Alfredo Vaz, que inclui entrevistas com os principais intervenientes do futebol do território.
Apesar de tudo pensou que algo mudou para melhor.
ResponderEliminarPena a Associação ser tão mal organizada.
Em relação ao interesse da população local, não haverá muito a fazer pois pelo que vou vendo ele apenas se interessam por apostas e telemóveis.
O futebol em Macau e como os 78 minutos do Muamba.
ResponderEliminarVai sobrevivendo com ventilacao assistida e massagem cardiaca, nao tem assistencia aos jogos, a nao ser os suplentes, o treinador, amigos e namoradas dos jogadores e o Vitor Rebelo.
Porque razao e que uma modalidade desportiva destas ainda sobrevive?
Deve ser caso unico no mundo!