terça-feira, 16 de agosto de 2011
Tradições e artistas
1) Comemora-se (?) agora no calendário chinês o "mês dos espíritos famintos" (鬼月), na sétima lua do calendário lunar. No último Sábado as portas do Céu e do Inferno abriram-se, e os cidadãos locais queimam pivetes, e ofereceram comida aos seus ancestrais para os "apaziguar" - não vão eles fazer-lhes mal. Claro que isto é uma antiga tradição pagã, e é preciso acreditar em fantasmas para a levar tudo isto a sério. Curiosamente muitas pessoas têm uma predesposição especial durante este período para acreditar em fantasmas. O lado chinês da família acredita, ou pelo menos "respeita" (um expediente para evitar discussões parvas). O que mais me chateia durante este período são exactamente os votos. Cagam as ruas e os prédios todos com cascas de amendoim, pacotes de rebuçado, pedaços de fruta pingados de cera, derraram um vinho chinês intragável e acendem baldes inteiros de papelada que ficam a deitar fumo até arder os olhos do cidadão mais distraído. Existem multas para quem suja os espaços públicos com isto, mas normalmente as autoridades fecham os olhos àquilo que afinal é considerado "tradição". Não vão os "fantasmas" ficar zangados se não lhes oferecerem paparoca. A este respeito recomendo a leitura do artigo de José Simões Morais nas páginas do JTM de hoje, Espíritos famintos à solta.
2) Concordo plenamente com o director do JTM no seu artigo da última página do seu jornal, mas gostava de ir um bocadinho mais longe. Os artistas de Macau queixam-se de barriga cheia, pois se recebem subsídios do Governo, é bastante para aquilo que produzem, seja lá o que for. A produção artística de Macau, seja na forma de televisão, cinema ou artes plásticas é cada vez mais um caso perdido. A culpa não será tanto dos artistas locais, pois a população não é exactamente uma apreciadora das belas-artes, e em Macau há outros interesses. Fazer dinheiro, por exemplo. Quem tem realmente talento e ambição nunca se demora muito por estas paragens, e os artistas de fora normalmente presenteiam-nos com qualquer coisinha de vez em quando e vá lá, para quem é, bacalhau basta.
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