segunda-feira, 13 de junho de 2011

Santo António já se acabou


Em primeiro lugar queria desejar um feliz Santo António aos leitores. Já está? Já absorveram a sardinha assada, a salada de alface e tomate e as bejecas? Bestial. Agora sobre as festas de Santo António, as Marchas Populares e tudo mais, acho aquilo uma seca. Por incrível que pareça, hoje é feriado em Lisboa.

É feriado de Santo António, aí está. Não se trabalha por causa disso. Ontem o povão encheu os bairros antigos da capital e viu um autêntico corso carnavalesco nocturno a descer a Avenida da Liberdade. Um turista distraído podia pensar que se tratava de alguma revolução, outro mais atento, de uma parada gay. Como quem não quer a coisa, espreitei da janela do carro quando passei pela Rua do Campo para ver se o Consulado Geral de Portugal estava fechado. Nunca se sabe.

Durante este período das festas populares, Portugal volta-se um pouco para as suas raízes, e as pessoas extravasam sentimentos e comportamentos estranhos, e subitamente toda a gente gosta de varinas descalças e sardinha assada que se come com as mãos, bem, o insólito e o caricato. Nestas festas toda a gente é amiga, gera-se um grande clima de alegria provocado sobretudo pelo álcool, alguma porrada aqui e ali, um ou outro que se espeta com o carro porque conduziu bêbado e morreu, o normal. Não me vou demarcar do meu povo e da minha gente, nem dizer que sou "especial". Sinto até muito orgulho de tudo isso, uma espécie de cruz que se carrega para sempre.

As pessoas consomem bastante neste período, e vemos nos telejornais pessoas com um aspecto insalubre a dizer coisas como "Crise? Não há crise". Os melhores restaurantes, os melhores cafés e as tascas mais conhecidas estão sempre a rebentar pelas costuras, o que destoa um pouco do tal cenário de caristia geral, do país de tanga e todos esses epítetos que temos ouvido. Isto de noitadas forradas com sardinhas e febras e regadas com cerveja e vinho deve ser uma maravilha para a alma, mas é foda para o fígado.

Depois as marchas. Realiza-se desde 1932 um concurso entre bairros lisboetas ao estilo dos concuros de escolas de samba no Brasil. Cada bairro (Alfama, Alcântara, Bica, Mouraria, etc., e este ano ganhou o Alto do Pina) desfila pela Av. Liberdade em carros alegóricos e fantasias, como já referi, um evento com uma cobertura televisiva enorme que tivemos o "prazer" de ver esta madrugada/manhã em Macau através da RTPi. Fiquei deveras impressionado com o esforço, o investimento e o empenho com que isto é levado a cabo. Tudo em nome do Santo António, aparentemente. (Nem vou falar do filme de terror que são as "Noivas de Santo António).

Não me levem a mal, adoro festarola e pimbalhada, desde que haja sangria para beber, feijoada, chouriços, febras e coiratos (nos dois sentidos), música bem alta, largadas, cabeçudos, matraquilhos, carrocéis, algodão-doce, tudo e mais alguma coisa. É uma pena que o arraial de S. João que se realiza em Macau todos os anos seja uma caganeira, onde não há paixão e alegria. Ainda me lembro quando no ano passado choveu copiosamente, arruinando a bonita festa que se devia ter realizado na Calçada de S. Lázaro. Vamos ver se este ano temos S. Pedro a ajudar o S. João para que não nos falte Santa Paciência. E que dê para festejar, oras...

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