Galaxy, PNR e anos 70

1) Abriu ontem o complexo hoteleiro-casineiro da Galaxy, no COTAI, mais um capítulo na extravagância desnecessária do jogo em Macau. Milhares de pessoas ocorreram ontem à inauguração, ainda movidos pela ideia de que no primeiro dia o casino “dá qualquer coisa”. Há quem tenha mesmo vindo com a esperança de que o Galaxy “distribuisse dinheiro para jogar”. São os pobres que vêm apanhar as migalhas do banquete. Este novo Galaxy introduz uma novidade interessante: uma praia artificial, com ondas e tudo. Não ouvi um único residente até agora a achar isto uma boa ideia, e nem as múmias dos ou mun yan vão aparecer ali de bikini. Então este Galaxy é para quem, afinal? Para a malta da China continental, é claro. Para comprarem malas da Versace no valor de um milhão de patacas, ou pusleiras, ou relógios, tudo com o dinheirinho que lhes caíu com o suor do rosto (ahahahah). Os residentes vão lá apenas para "passear", ou jantar nos restaurantes, ou talvez usar o ginásio e a piscina. Despesa da boa, daquela que justifica este tipo de investimento, népias. E depois vai ser tudo assim muito piroso e plástico, como o actual Venetian. Claro que a ideia é sempre melhor no papel – o pior são depois os intérpretes.

2) José Miguel Encarnação, neguinho d’”O Clarim”, publicação da igreja macarrónica de Macau, é candidato às eleições legislativas de 5 de Junho pelo círculo fora da Europa. Parabéns, em primeiro lugar, e boa sorte. Depois a polémica: JME é apoiado pelo Partido Nazi Revolucionário, perdão, Partido Nacional Renovador (PNR), um partido conotado em Portugal com a extrema-direita. Apesar de JME candidatar-se como independente, algumas pessoas estranharam o facto do nosso conhecido e simpático jornalista, que já passou a maior parte da sua vida em Macau, alinhar com um partido conhecido pela intolerância e extremismo. O PNR é afiliado com a Aliança Europeia de Movimentos Nacionalistas, onde pertencem partidos como a Frente Nacional francesa, dos infames Le Pen. Com skinheads ou sem eles, o PNR tem tido um tratamento de cão (injusto, na minha opinião, mas isso é outra história) na imprensa portuguesa, que a trata como um partido não-democrático. A plataforma escolhida pelo JME causa estranheza, mas tenho a certeza que o jovem (mais jovem do que eu pensava) jornalista do “Chinfrim” não vai andar por aí de botas cardadas a abrir a cabeça aos não-arianos com um pé-de-cabra.

3) Gostei de ouvir o Hélder Fernando no programa da tarde da Rádio Macau a falar de Portugal no final dos anos 70. Concordo com ele no género e no modo, mas não penso que aqueles tempos fossem assim tão maus. Tenho imensas saudades do tempo da TV a preto e branco, pois eram tempos em que a vida real tinha muito mais cor. É verdade que em Portugal faltava muita coisa, mas viviamos contentes com o pouco que tinhamos. A vida era muito mais simples, e crise por crise, preferia aquela, que era muito mais animada – pelo menos existia uma coisa chamada “ideiais”. A vida não era em cinzento escuro, era apenas em xadrez castanho e amarelo, calças de boca de sino e suspensórios. É óbvio que isto depende da exigência e do gosto de cada um, mas eu contento-me com poucochinho. É que não tenho tiques de lorde, como outros.