Janela, Ai e praia

1) O caso do jovem que se suicidou atirando-se do 11º andar do seu prédio alegadamente devido à pressão dos resultados escolares volta a levantar uma velha questão. Em primeiro lugar é preciso atender a um possível desiquilíbrio psíquico do jovem em questão, alguma depressão ou recalcamento que o tenha levado a cometer uma atitude tão radical e irremediável. Existe uma tendência para culpabilizar os pais por este tipo de situações, mas nem sempre esta pressão é exercida pelos encarregados de educação. As escolas têm critérios cada vez mais selectivos com os seus alunos, exigindo cada vez mais rigor e disciplina, sempre com o pensamento nos bons resultados e na excelência, criando para tal abomináveis rankings de alunos e ostracizando os menos capazes. É preciso também pesar na balança que muitos destes colégios visam o lucro, e preferem alunos cujos pais possam investir mais na sua educação - porque aparentemente "vale a pena". Isto exclui, naturalmente, os alunos com menos possibilidades económicas ou uma situação familiar menos estável. Mas é normalíssimo atendendo a estas circunstâncias que os pais exijam cada vez mais dos seus filhos, para que não fiquem de fora das oportunidades académicas mais apetecíveis, e que no futuro sigam uma carreira profissional válida. De fora vão ficando os mais frágeis, a quem a vida mostra a saída pela janela.

2) Ai Weiwei está detido há mais de uma semana pelas autoridades chinesas, a ser investigado por “suspeita de crimes económicos”. Este artista plástico de 53 anos é um dos autores do "Ninho de pássaros", estádio que acolheu os Jogos Olímpicos de Pequim, e é também conhecido pela obra "Sementes de girassol", uma obra fantástica (como diria o Futre) composta de dezenas de milhões de sementes de girassol feitas em porcelana. Ai Weiwei é também conhecido pelas suas posições conflituosas com o regime chinês, e celebrizou-se pela investigação privada que fez às vítimas do terramoto de 2008 em Sichuan, denunciando a corrupção que levou a que algumas construções cedessem à força do abalo sísmico. Ai Weiwei não é nenhum maluquinho nem um doente mental. É um intelectual e um artista respeitado mundialmente, e a sua detenção pode ser interpretada como um insulto ou desafio à comunidade intelectual do país, cada vez mais viva e consciente. Não sei se restava ao regime outra solução que não silenciar esta voz incómoda, mas este é um grande nó que vão ter que desatar.

3) A atribulada lei anti-tabaco que demora a sair prevê que não se possa fumar nas praias. Um aspecto ridículo da lei, atendendo que as praias em Macau são o que são. Mas se é proibido fumar na praia e na piscina (aqui compreende-se muito bem), o que dizer então dos casinos? A praia fica no meio da areia e é confrontada pelo imenso mar e pelo imenso céu. O fumo dos casinos pára na face dos meninos e meninas que precisam de dar cartas para viver. Ossos do ofício...