domingo, 20 de março de 2011
Isto não aconteceu em Macau
A recente corrida ao sal nos supermercados foi mais um prego no caixão da boa educação e do civismo em Macau. No entanto podem-se fazer várias leituras sobre o assunto. Primeiro este não é um problema “de Macau” propriamente dito. Nos supermercados e lojas aqui perto de casa não faltou sal, açúcar, molho de soja, caldo de galinha nem nada que se pareça. Ainda ontem passei pelo supermercado “chinês” aqui perto de casa (“chinês” porque os proprietários são da China continental e vendem produtos chineses) e tinham lá sal ao pontapé. O comportamento dos meus vizinhos deixou-me satisfeito, pois quem quis ir comprar um pacote de sal para fazer o jantar lá em casa, não precisou de comer nada insonso. Esta corrida ao sal aconteceu sobretudo na zona norte da cidade, área onde se concentra a maior parte da população mais pobre, ou originária da China continental.
Uma das leituras que se pode fazer é histórica. É um bocado difícil convencer um povo que passou pelo que passou nos últimos cem anos a não fazer este tipo de figuras tristes. Para quem levou a cabo empreitadas como “O grande salto em frente” ou a “Revolução Cultural”, o que é empurrar e passar por cima dos outros para saquear sal, leite em pó ou outra coisa qualquer? Se estamos com um problema, neste caso a radiação do Japão, e a solução apresentada é comer quilos de sal, então vamos a isso. Se existe a possibilidade de acabar o sal, porque depois vai estar contaminado, vamos comprar sal para os próximos cinquenta anos. Sessenta milhões de mortos pela fome entre os anos 50 e 80 do século passado deixaram a sua mácula nas gerações seguintes.
Outra leitura que se pode fazer é o da falta de confiança nos seus dirigentes e instituições. Basta ver quando se regista aquele problema com a salinidade da água, e os pacatos cidadão correm aos supermercados para comprar água destilada – alguma dela de pior qualidade que a água da torneira. Melhor ainda nos dias de tufão. Quando os Serviços de Meteorologia se preparam para içar o sinal 8 de tempestade tropical, vejo indivíduos a sair dos supermercados com um ar aflito, carregados de sacas de dez quilos de arroz e comida congelada que normalmente não comprariam.
Para quem não sabe, um tufão é uma tempestade ligeira que demora algumas horas a passar e não causa danos significativos em cidades que não são construídas de palhota. Este comportamento dá a entender que um tufão é como o furacão Katrina, e que a população acabará sentada no telhado a comer arroz crú e van tan congelado. Não adianta o Executivo insistir que Macau não vai ser arrasado por um tufão, ou que os níveis de salinidade ainda são seguros, ou que não se regista um aumento de raios gama na atmosfera do território. É tudo mentira. Nem adianta que tenha vindo hoje um especialista lembrar que o Japão ainda é longe, e que nos anos 40 rebentaram lá duas bombas nucleares mais potentes que esta fuga de radiação e Macau não foi afectado de todo (um pequeno detalhe histórico que passou despercebido a muita gente). E vossemecês por acaso julgam que a malta é parva ou quê?
Mas nem tudo é mau nesta verdadeira paranóia nuclear. Como Japão passou a ser sinónimo de radiação, o sushi e os excelentes produtos lácteos japoneses estavam intactos no New Yaohan esta tarde. Foi uma alegria poder comprar sushi e sashimi que não foi apalpado e amassado por não sei quantas mãozinhas. O frigorífico estava cheio de produtos fresquíssimos, como leite de Hokkaido, ou pudins e gelados da Milk Top.
Fico no entanto apreensivo quanto ao futuro destes excelentes produtos, que gradualmente deixarão de chegar à RAEM caso o problema de Fukushima se agrave. Preocupa-me que acabe o bife de Kobe, daquelas vaquinhas virgens que bebem cerveja e levam massagens. Chateia-me que não haja uma cervejinha Sapporo ou Kirin para se beber. Vamos ficar a esperar que não.
vacas virgens que bebem cerveja e fazem massagens? onde elas estao? quero come-las...
ResponderEliminaro kirin tem fabricas na china...
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