domingo, 23 de janeiro de 2011
Coisas rectangulares e compridas (e fritas, também)
Fui esta tarde ao New Yaohan fazer as habituais compras de fim-de-semana, e foi então que me apercebi que entrámos de facto nas três “malditas” semanas do Ano Novo Chinês. Faltam 10 dias para o fim do Ano do Tigre, e seguem-se três dias com tolerância de ponto na quarta-feira à tarde, e que prometem ser longos, cheios e muito frios, até segunda-feira, dia 7, quando as festividades começam a perder o gás.
O que menos me incomoda de tudo isto é, como já devem saber, o frio. O problema é que quando os friorentos se juntam todos na rua ou nos centros comerciais, há malas, casacões, cachecóis e botas por toda a parte. Se por acaso chove, há varetas de guarda-chuva a entrar pelos olhos. O frio é bom, mas para curtir sozinho, na tranquilidade e no calor do lar.
Andar na rua nesta altura pode também ser uma opção arriscada, pois nunca se sabe quando se rebentam uns panchões, uma espécie de versão macaense dos bombistas suicidas, só que sem pessoas armadilhadas. Estoiram sobretudo nos ouvidos, o que é chocante se estivermos no meio de uma conversa com alguém, ou ao telefone, e depois deixam um cheiro azedo a pólvora e algum fumo no ar. Ano após ano parece que se rebentam cada vez mais panchões na rua, o que significa também que cada vez se respeitam menos as pessoas que não têm nada a ver com isto, e têm do azar de estar a passar onde se estão a espantar os maus espíritos.
Já não vou na cantiga de que no Ano Novo Chinês “está tudo fechado”, pois isso é uma mentira cabeluda (por falar em cabeluda, é melhor que corte o cabelo já, pois os preços vão duplicar em breve). É facílimo encontrar seja o que for, e os principais supermercados estão sempre abertos, mas o melhor mesmo é encher o congelador e o frigorífico para a semana mais crítica da entrada do ano lunar. Quem conhece Macau e a China através daqueles documentários toscos mas nunca cá esteve, vai pensar que o Ano Novo Chinês é uma espécie de desolação, que vai toda a gente embora e está tudo fechado, tipo cidade-fantasma do faroeste. Nada disso. É verdade que os mercados municipais estão praticamente fechados, mas é fácil adqurir comida congelada, e com sorte alguma mais ou menos fresca.
Esta tarde não havia elevadores para ninguém no New Yaohan. As pessoas desciam até ao estacionamento no piso inferior para apanhar o elevador primeiro, o que deixava dezenas de pessoas no rés-do-chão à espera de elevadores que já chegavam cheios. A escada rolante parece ser então a melhor opção, mas se tiver pressa, não pense que “basta subir a escada para chegar mais depressa”. Nada disso. Uma vez na escada rolante não se mexa, encoste-se ao corrimão e aprecie a viagem, e sobretudo não tente ultrapassar as centenas de pessoas que estão à sua frente e tiveram a mesma ideia que você.
Os andares mais críticos são o sétimo e o oitavo, onde ficam, respectivamente, o supermercado e os restaurantes. Não compreendo o que vão as pessoas comer àqueles restaurantes paupérrimos no oitavo andar, mas compreendo a grande afluência ao supermercado, onde se podem encontrar produtos de qualidade. Passámos por lá (eu a minha mulher, entenda-se) para comprar uns gelados, iogurtes, bebidas, umas coisas assim para o frigorífico cá de casa. O mais espantoso é observar a quantidade de gente que está no supermercado não a fazer compras, mas a passear por lá, como quem passeia pela secção de electrodomésticos e não é obrigado a comprar nada.
Este estranho hábito é encontrado sobretudo em turistas da China continental, os tais tailoques, que acham que “não faz mal” ir ao supermercado, amassar alguns pacotes de chocolate ou bolachas, apalpar os bifes de Kobe que custam duas mil patacas, e depois ir embora. Quando passei pela secção de comida congelada parecia que se estava no Oceanário, tal era a quantidade de curiosos que observava (e brincava com)...a comida congelada.
Do que há mesmo mais procura é de caixas de bonbons, bolos, bolachas e outras coisas rectangulares que possam ser cobertas em papel de embrulho e oferecido aos familiares, amigos, sócios, etc. Vi pessoas junto da caixa a brigar por causa daquelas fritos chineses em forma de lingotes de ouro (kok chai) ou raíz de lótus (tong wan) que se compram nesta quadra. Apesar do sabor indescritivelmente horrível, estes “bolos” fritos (não insultemos os bolos propriamente ditos) são para os chineses o que o bolo rei ou as filhozes são para nós. Não que estas “delícias” fritas em óleo de mil anos não se vendam na China aos pontapés, mas os tailoques preferem comprá-las aqui ou em Hong Kong, onde a qualidade nunca os desilude.
Além dos tais “bolos” compra-se também imensa fruta fresca para decorar a mesa. O que tem muita saída no New Yaohan é a fruta japonesa, com destaque para aqueles morangos enormes, carnudos e vermelhuscos que custam 90 patacas por uma caixa com meia dúzia – juro que é verdade, e se não estivesse lá tão apertado tirava uma fotografia para provar. Do Japão chegam ainda ameixas (40 e tal patacas meia dúzia), uvas sem graínha (umas 20 patacas por 100 gramas, mas valem mesmo a pena) e maças do tamanho de bolas de andebol que custam 80 patacas. Fruta cara é igual a prosperidade? As cerejas é que continuam uma tristeza, com o ratio de 3/4 patacas por cereja a não corresponder à qualidade. Pretas, moles e com mau aspecto, nada recomendáveis a que se partilhem com a pessoa que se ama. Mais pareciam umas pobres azeitonas velhas.
No regresso do supermercado, resta apanhar novamente a escada rolante, e fazer a mesma viagem que no início, só para baixo. Depois desta próxima semana em que vamos todos trabalhar já na expectativa das mini-férias que aí vêm, o território prepara-se para receber milhares de turistas da China continental para fazer o seu shopping em Macau. A situação só vai mesmo piorar, daqui para a frente. No Bairro do Oriente vamos ter a partir da próxima quarta-feira as habituais previsões para o Ano Novo, desta feita o do coelho. Se optar por ficar em casa abrigado do frio e longe da confusão, fique deste lado, fique com o Bairro do Oriente.
Eu opto por ir uns diazinhos (os que posso) para um sítio bem quentinho e com praia. Adeus, Macau, até ao meu (breve) regresso!
ResponderEliminarQuem não tem dinheiro não tem vicios,quando está frio eu prefiro o conforto da minha casa deitado na cama com o meu "min toi" edredão grosso e quente com o meu computador.Os outros como têm dinheiro a mais e não sabem como gastar,preferem apanhar o avião e irem para sítios mais quentes para fazer show off.
ResponderEliminarADEUS ANÓNIMO DAS 18:37 BOAS FERIAS DE VERÃO,VAI E NÃO VOLTE,QUE NÃO FAZES FALTA EM MACAU
ResponderEliminarA dor de cotovelo é tramada. ahahhaa
ResponderEliminarPonha dor de cotovelo nisso! Com que então gostar de calor é "show-off"... Se gostasse de fazer o tal de "show off", era em Macau que ficava. Hás-de me explicar, idiota das 22:05, como é que faço "show off" indo para sítios em que ninguém me conhece? Sabes ao menos o que significa "show off"? Espero é que tu nunca tenhas dinheiro a mais, porque se achas que ir para o calor e para praias de jeito é não saber gastar dinheiro, então tu é que não saberias de certeza como gastá-lo.
ResponderEliminarE não te preocupes, anónimo das 00:35, que eu volto. Se só estivesse em Macau quem cá fizesse falta, de certeza que eras o primeiro a ir co' caralho. Analfabetos já cá há de sobra.
È claro que não é show off,um gajo vem aqui ao blog escrever que vai passar ferias fora de macau para não apanhar o frio de macau não é nada show off,és muito discreto realmente.
ResponderEliminarÉ tão show-off como o Leocardo estar sempre a dizer o quanto gosta do frio. Foi em sequência disso que eu disse que ia para fora de Macau porque detesto frio. Se não percebes a contextualização da coisa, nem vale a pena perder mais tempo contigo. Há medicamentos para tudo, por isso também já deve haver para a dor de cotovelo. Compra-os.
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