domingo, 12 de setembro de 2010

Os blogues dos outros


Antes do advento da blogosfera, havia quem pensasse que a Ásia era um inexistente para os portugueses. Havia Macau, umas lembranças de Goa, uns livros sobre Venceslau, umas fotos de Pessanha. Havia, incontornável, o labor muitas vezes acrítico e assistemático, quase torrencial de bom coleccionismo arquivístico que foi o bom Padre Teixeira, que ninguém afeito a estas coisas deixa de consultar. Subsistiam, entre o literário e o ensaístico, os trabalhos de Martins Janeira e Danilo Barreiros. É certo que dois ou três académicos de excepção, contra a corrente do esquecimento, alargaram horizontes, rasgaram caminhos, saíram da geografia liliputiana do que sobrava do Estado da Índia e são hoje a força que empurra o engenho para os vastos espaços da grande China e da Insulíndia. São eles, importa assinalar porque não têm paralelo, Luís Filipe Tomaz e António Vasconcelos de Saldanha. Na conspiração do silêncio e da ignorância que quis fazer crer aos portugueses que a Ásia estava longe, caíram no pântano as incómodas pedradas de um grande fotógrafo chamado Joaquim Magalhães de Castro. Foi graças a estes que a presença portuguesa não foi tragada pelo esquecimento, que nova leva de investigadores receberam o exemplo e o ânimo para desbravar arquivos. A Ásia das patacas e do exótico foi morrendo e vai ganhando volume uma Ásia séria, académica e com legibilidade mundial, impressa e séria que é a Ásia portuguesa feita de estudos, sem cabaia e sem ópios. Está a morrer, felizmente, a Ásia portuguesa inventada. A blogosfera ajudou, pois, não sendo um medium académico, substitui a miserável prestação da chamada comunicação social no que à formação e informação de vastos públicos respeita. Lembro, entre o pasmado e o indignado, o atraso com que a comunicação social portuguesa se deu conta da magnitude dos recentes acontecimentos na Tailândia. Durante semanas, entre Março e Abril, com bombas e tiroteio nas ruas, limitou-se a recortar a tendenciosa conta-corrente das tais agências internacionais, facciosíssimas e prostituidíssimas. A blogosfera está aberta a todos e nela todos podem escrever na proporção das suas capacidades. Agora, a Ásia portuguesa já não é só Macau - muito embora Macau ofereça diariamente dois ou três excelentes contributos - mas é Malaca, Japão, a China, mais China, celulóide, mais celulóide, Coreia...Como em tudo neste mundo, as coisas dividem-se em três grupos: o que é bom e fica, o que é muito mau e vai-se arrastando na lama como o escaravelho estercorário e o nada, que não existe, esteja ou não esteja. Portugal não acaba em Elvas; diria antes que começa na espuma do mar que se estatela nas areias de Lisboa. Ontem recebi este simpático presente e é ao Nan Ban Jin que dedico estas palavras. Quero que ele aqui esteja em Bangkok para o lançamento do livro.

Miguel Castelo-Branco, Combustões

Um processo que se arrastou por oito penosos anos deveria, no mínimo, servir para a os juízes aprenderem a lidar com o mediatismo deste complexo caso o que, em abono da verdade, não aconteceu. Como é possível que no dia do julgamento não seja entrega uma cópia da sentença aos condenados? Só encontro uma explicação,dar argumentos aos condenados para envenenarem (espero eu!!!) a opinião pública. P.S- Passada uma semana da leitura da sentença a mesma ainda não foi entregue aos condenados. O circo continua....

Alcochete Jamééé, A Leste da Solum

Após a sentença do processo Casa Pia, existe algo que me deixou desconfiado. Refiro-me à absolvição da proprietária da casa de Elvas, só possível por uma alteração legal de 2007, que parece ter sido feita à medida deste caso. Quase sempre o que parece é…

El Comandante, Hotel Macau

O programa é o “Prós e Contras”. O tema versa sobre as condenações no processo Casa Pia. De um lado, todos falam ao mesmo tempo; todos gritam e gesticulam; principalmente um senhor bojudo que mais parece o representante de um grupo de merceeiros – e não o será? Do outro lado, o amigo da Bota Botilde. “Read my lips, isto é uma monstruosidade!”, vociferava o bilingue ex-apresentador, no timbre firme e colocado de quem tem anos daquilo. Enquanto o fazia, ainda se sentiu suficientemente confiante para convidar o jovem que levou à sua condenação a ter com ele “um frente a frente televisivo”. Ainda achei que era culpa minha - afinal, há quem diga que os cotonetes podem ferir o tímpano. Mas, não, não era nada disso. Era mesmo o senhor televisão a mendigar atenção. Está convencido que organizando um chavascal televisivo poderá branquear o outro, o chavascal real. Mas não pode. O jovem destinatário da mensagem deveria responder por escrito ao senhor televisão. Nada de especial, apenas uma linha. Por exemplo: “1, 2, 3, diga lá outra vez.”

VICI, MACA(U)quices

A direcção da Federação Portuguesa de Futebol fez a vontade ao Largo do Rato e a Laurentino Dias e despacha Carlos Queiroz. Era um desfecho esperado num dos braços de ferro mais longos da história do futebol português. O "caso" passa agora para os tribunais faltando saber se a sabida indemnização será paga ou não. Encerra-se um dos casos mais tristes de governamentalização do desporto e um climax da interferência do Partido Socialista em todos os domínios da sociedade: da PT às televisões, passando pelos jornais e pelas empresas. Em trinta e seis de democracia nunca a partidarização da vida social chegou a um ponto como nestes quinze anos de governo do Partido Socialista. Iniciou-se esta semana o período em que o Presidente da República está impedido de dissolver a Assembleia da República e portanto convocar novas eleições o que significa que o centro-direita está atado de pés e mãos quanto à criação de uma crise política. O que até não é mau para esquentar as cabeças desalvoradas que já se levantavam para os lados do PSD a clamar marcha triunfal até S. Bento. Sabemos agora que não será marcha, nem triunfal. Será caminhada aos ziguezagues, com mudanças de direcção, paragens e avanços e recuos.
Quanto à selecção, sem querer ser desmancha-prazeres, ficamos pelo caminho no Europeu. Já deu para ver que não temos equipa, nem verve, nem crença para irmos muito longe. Talvez seja bom, porque quem venha terá que fazer um trabalho de médio e longo prazo sem as pressões dos jogos e dos resultados. Gratos, portanto, a Madail e Dias pelo magnífico trabalho que fizeram.


Arnaldo Gonçalves, Exílio de Andarilho

Depois do famoso vírus do computador de Belém o país enfrentou mais um grave problema informático, o ficheiro Word do acórdão da sentença do julgamento do caso Casa Pia insistia em apresentar gatafunhos contra a vontade da juíza Ana Peres que perceberá tanto do processador de texto como eu de lagares de azeite. Ao fim de uma semana os advogados foram informados para que aproveitasse o melhor possível o fim de semana porque na próxima segunda-feira e graças à prestimosa ajuda dos funcionários do Bill Gates os gatafunhos desapareceram, Enfim, o processo Casa Pia acaba esta fase como começou, com muita mentira, primeiro a juíza precisava de apagar os nomes das presumíveis vítimas, depois era um problema de gatafunhos, por fim o problema estava na formatação. Esta foi a semana do 9 de Setembro o dia em que Cavaco é um presidente “capado” nos seus poderes de dissolução do parlamento sem que se saiba se vai ser candidato ou não. A direita estava muito animada, até chegou ao ponto de exigir a apresentação do orçamento em data anterior de forma a que Cavaco pudesse convocar eleições antecipadas se as contas não fossem do gosto de Pedro Passos Coelho, o tal que foi o melhor aluno da prestigiada Lusíada, mas que deve perceber tanto de finanças públicas quanto a juíza Ana Peres percebe de Word. As últimas sondagens mostram que o PSD de Pedro Passos Coelho tem mais olhos do que barriga, julgando que o poder estava no papo avançou com um projecto de revisão constitucional anedótico e simulou uma crise política mesmo sabendo que Cavaco nunca dissolveria o parlamento a pedido do senhor de Massamá. As sondagens vieram mostrar que a direita terá de esperar um pouco mais pois perderia as eleições o que, aliás, é uma vantagem para Pedro Passos Coelho, os seus conselheiros passarão a ter mais cuidado com os disparates que lhe sugerem.

Jumento, O Jumento

Se eu mandasse alguma coisa na educação, começava por declarar guerra ao 9º ano. Já no tempo em que andei no Liceu era um degrau a abater, passados mais de 30 anos continua a ser a pedra no sapato de milhares de estudantes. Votarei no Partido que acabe com este vírus que contamina toda a população estudante entre os 14 e os 15 anos. O meu filho viveu agora o drama do “nono”. Ter exames. Ter de escolher áreas especificas para o 10º ano, cadeiras que determinam acessos à Universidade, caminhos aparente reversíveis mas, na realidade, determinantes para o futuro. A angústia de uma escolha que não se sabe se é. A tentação de seguir o instinto natural das disciplinas que nos parecem mais fáceis, ou mais divertidas. Quem é que se lembrou desta peregrina ideia de obrigar miúdos de 14 anos a ter uma ideia, por vaga que seja, do que pretendem fazer na vida? Quem terá sido o esperto que se esqueceu do que é a adolescência? Hormonas aos saltos, a descoberta da sexualidade, da amizade, dos primeiros valores (ou falta deles): a lealdade, a traição, a fidelidade, a mentira, a verdade. Um tempo de descoberta, só descoberta, sem lugar para decisões definitivas – apenas espaço para dramas imediatos, radicais, “não é agora, é já”. E uma mente por formar, por definir. O meu filho saiu aos papéis do nono para o décimo ano. À procura de um caminho, sem saber bem o que fazer. Senti-me impotente para o ajudar – não por ter tido a sorte (ou terá sido azar?!) de ter querido ser sempre a mesma coisa desde os 6 anos -, mas por ter a profunda convicção de que, nesta idade, todas as escolhas são falíveis, imaturas, desatinadas. Em rigor, se algum conselho lhe poderia dar, seria o pior de todos: espera mais uns anos...A sociedade, nesta como noutras matérias, não tem tempo “a perder” nem deixa que seja ganho o tempo que se perde. Crescemos aprendendo a viver nesse ritmo, os nossos filhos nem conhecem outro. Por isso, não me restou mais do que observar os seus talentos, gostos, tendências, e fazer disso tema de conversa com ele. Os testes psicotécnicos ajudam. O talento natural ajuda. O trabalho de casa do pai e da mãe também ajudam – mas aos 14 anos, tudo é demasiado falível. E aqui estamos então, a rezar para que não tenha falhado a escolha das áreas, das disciplinas, as Matemáticas Aplicadas às Ciências Sociais, as escolas onde há, ou não há, as alternativas, os caminhos. Os dados estão lançados e o melhor que pode acontecer é não ter errado na rua deste gigantesco cruzamento. É no momento em que tudo fica arrumado, decidido, que leio numa revista a biografia de um actor, filho de actores, que deambulou anos a fio por profissões e trabalhos que lhe desgostavam, até ao dia em que, desanimado, conversou com o pai sobre os erros de percurso que sentia ter cometido. O pai, mais velho e sábio, explicou-lhe com meridiana clareza a forma como tinha decidido ser actor:
- Procurei fazer algo de que gostava, claro. Mas isso era pouco. Precisava de um argumento mais forte. E descobri-o: queria um trabalho de que gostasse tanto, tanto, que até o fizesse, se fosse esse o caso, sem receber qualquer salário.
Fechei a revista, animado com a ideia de passar este conceito ao meu filho. Sim, claro que ele entende o que está subjacente àquela declaração. Mas, uma vez mais, o problema não é esse: aos 14 anos, nem essa noção é clara, porque tudo é ainda gratuito e salário não é palavra do seu vocabulário. Lá está: quem pensou o ensino que temos nunca deve ter tido 14 anos.


Pedro Rolo Duarte, Pedro Rolo Duarte

A atitude da Câmara Municipal de Lisboa, da Junta de Freguesia de Alvalade e da Embaixada dos Estados Unidos da América é vergonhosa. No monumento à memória das vítimas do acto terrorista de 11 de Setembro situado na Avenida dos Estados Unidos da América não foi sequer ali colocada uma coroa de flores por qualquer entidade. Tal como as imagens recolhidas hoje nos mostram, no monumento alguém apenas depositou uma lamparina com o símbolo de Nossa Senhora de Fátima. Para quando a Câmara Municipal decidir-se por colocar ao redor do monumento um cerco com correntes de ferro, a fim de conceder o mínimo de dignidade ao local e evitar que a base do monumento sirva para que os transeuntes se sentem ou deitem, e para que os cães não urinem sobre a pedra.

João Severino, Pau Para Toda a Obra

A vida é um circo, pequeno gafanhoto, e nós somos os cristões, não os leãos…

Rui Zink, Rui Zink versos livro

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